sexta-feira, 4 de março de 2016

Há muitos, muitos anos...

Quando eu trabalhava numa empresa praticamente falida, quando eu não tinha autonomia para tomar certas decisões, e por fim, quando o meu chefe era um grandessíssimo parvalhão, recebi uma chamada de um pequeno fornecedor de serviços prestados a pedir-me um pagamento uns dias adiantado. Eu estava habituada a ver aquele senhor pela empresa, fazia tudo o que lhe pedíamos, vinha buscar a matéria-prima, vinha entregar a mercadoria transformada, nunca se recusava a nada, era um senhor já idoso, muito baixinho, muito magrinho, muito simpático e carinhoso para todos. O senhor pediu-me a chorar para lhe pagar o valor que lhe era devido uns dias mais cedo porque tinha recebido um aviso e iam cortar-lhe a electricidade da pequena empresa. Eu verifiquei contas correntes, eu refiz a tesouraria do mês, eu provei que podíamos fazê-lo e fui falar com o meu chefe. Ele olhou-me com ar incrédulo e perguntou-me se eu tinha verificado se havia alguma produção nossa em curso na empresa do tal senhor, eu tinha verificado e não, naquele dia o senhor não estava a trabalhar para nós, o meu chefe fez um ar grave e disse-me que não entendia a minha preocupação no corte de energia eléctrica na empresa do senhor, se ele não estava a trabalhar para nós nem sequer ia atrasar nenhuma das nossas produções.
Trabalhar numa empresa falida, não ter autonomia para tomar certas decisões sozinha e ter um chefe que é um grandessíssimo parvalhão não foi fácil, naquele tempo, há muitos anos atrás, passei dias muito complicados, mas este dia, o dia em que me quiseram fazer acreditar que não tinha que me preocupar com uma pessoa e só tinha que pensar em números, foi talvez o mais difícil de sempre. Senti-me mal, muito mal, senti-me inútil e senti que nunca seria uma boa profissional, porque nunca conseguiria ser tão fria ao ponto de pensar assim, lembro-me de ter ido para casa a chorar.
Hoje em dia trabalho em tempos difíceis numa empresa saudável, que pode ser afectada a qualquer momento, como todas as outras, se aquele senhor me ligasse hoje eu não teria que consultar ninguém, a decisão era minha e estava tomada sem qualquer tipo de dúvida. Felizmente a vida provou-me que naquele dia quem estava certa era eu, que os números são importante, mas as pessoas são mais. Felizmente hoje não preciso passar por isso, mas ainda assim continuo a lembrar-me muitas vezes daquele senhor simpático e franzino, que me ligou há muitos anos a chorar, porque à custa dele aprendi muitas coisas.

8 comentários:

  1. O teu chefe era mesmo um parvalhão. Se cortassem a luz à empresa do senhor, o mais certo era acabar por prejudicar os trabalhos que vos entregava.

    Não sei como há quem consiga olhar-se no espelho, sendo assim.

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  2. Pois que infelizmente há muitas dessas empresas, quase falidas e com patrões parvalhões. Eu sou humana e no trabalho sou-o também. E preocupu-me com os outros. E ainda bem.

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  3. Olha, um beijo do tamanho de uma roda da bicicleta!

    É isso mesmo, Loira. Só os idiotas pensam que o mal dos outros não nos prejudica a nós. Todos nós somos "outros".

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  4. Querida Loira,
    Não era preciso ter sido assim, para aprender "muitas coisas". Infelizmente, há pessoas que não aprendem.
    Bom dia,
    Outro Ente.

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  5. "chefe era um grandessíssimo parvalhão", parvalhão? Parvalhão é quando se faz uma coisa parva. Ele foi (e ainda deve ser) mau.

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  6. Lamento informar-te mas o teu chefe não era um parvalhão! Um parvalhão é, por definição, humano! O que o teu chefe era não tinha nada de humano! Era uma besta!

    :)

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  7. Realmente foi abençoada com um chefe muito parvo.

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  8. oh pah que maravilha. se fosse comigo ia chorar baba e ranho também. e acho qeu até dava do meu bolso que pudesse.

    (sim, o teu ex-chefe nao era parvalhão, era uma pedra!)

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