quarta-feira, 31 de julho de 2013

I'm too sexy for my bike...

Pedalar é sexy, estou convencida disso, posso até dizer que me sinto sexy enquanto pedalo. Pode ser por achar os equipamentos sexy, por achar que fico gira em cima da bicicleta, pode ser por praticar um desporto maioritariamente masculino, não sei a razão exacta mas sinto-me sexy. Um destes dias queria ir treinar e tinha um pneu vazio, a opção era tentar remediar aquilo ou deixar de treinar, passei uns largos minutos a tentar descobrir como se fazia e consegui, acho que nunca me senti tão sexy como ali, equipada e a tratar a bicicleta, a meio do treino parei para atestar o pneu que tinha perdido entretanto mais algum ar, demorei-me, quanto mais pessoas me vissem melhor, afinal, sentia-me sexy. Uns dias depois senti-me ainda mais sexy quando fui fazer a minha avaliação física e cheguei lá de saltos altos, calças brancas, camisa transparente, a bicicleta debaixo do braço desmontada e pronta a colocar na máquina e um sorriso de orgulho no rosto por ter feito aquilo sozinha. Chegada a casa voltei a montar a bicicleta e caramba, o sentimento nunca muda, sexy, sexy, sexy. Hoje tive um problema no aperto de espigão (bem sei que não sabem o que isso é mas apetece-me escrever sobre isto) e mais uma vez pensei que não podia sair de casa, ainda tentei resolver mas parti uma peça, sexy mesmo senti-me quando arranjei peça para substituir a partida e fui treinar, aliás, senti-me especialmente sexy durante o treino hoje. Uma vez disseram-me que não há coisa mais sexy do que ver uma mulher a pedalar, eu cá acho que quem disse isso nunca viu nenhuma armada em mecânica com um ar de quem consegue resolver tudo.


Nota: Moreno, querido, se por acaso do destino leres este post antes de falar comigo não te preocupes que não assaltei outra vez a tua bicicleta para tirar peças que fazem falta na minha, tinha lá as peças que vieram de origem na minha bicicleta e tirei a parte que partiu de lá, a tua bicicleta está intacta, pelo menos para já.

Chegou a hora de falar-vos do alicate, o maldito alicate...

Ter um plano de treinos feito por um profissional não é para qualquer um, principalmente por um profissional que foi campeão nacional, que venceu várias etapas míticas da volta a Portugal e que é uma verdadeira lenda do ciclismo. Senti-me especial. Colocou a minha bicicleta numa máquina, fez-nos um teste e atribuiu-nos uma nota numa escala que não percebi muito bem, pesou-me e mediu-me o corpinho todo com um alicate, um maldito alicate que puxa uma gordurinha daqui, um pneuzinho acolá, que agarra e mede, o maldito mede centímetro por centímetro do nosso corpo. O diagnóstico foi muito grave, a pobre da bicicleta tem peso a mais e a pobre da dona também, a bicicleta fica como está porque a pobre da dona  de certeza que não vai investir numa nova tão cedo, a pobre da dona tem de emagrecer no mínimo 6 kg, reclamei, disse que não queria perder as minhas curvas, que com menos 6 kg ficava mais fina que a roda da bicicleta e chegamos a um acordo, menos 3 kg. Agora só tinha que começar o plano de treinos, que é basicamente andar de bicicleta devagar. Senti-me estúpida. Percebi que ele queria trabalhar os meus batimentos cardíacos baixos, mas isso quer dizer andar de bicicleta muito devagar, quase parada. Depois disto só tenho de enviar todos os dias um relatório com o meu peso de manhã, os km percorridos e o tempo de treino, os batimentos cardíacos médios e máximos, o nível de cansaço e aquilo que senti durante o treino. Passado um tempo ligou-me e disse que eu era a atleta mais maluca (deve ter andado a conversar com o Zé) que tinha, será por causa dos relatórios de treino que eu enviava todos os dias?
- Que frio, a este ritmo tenho que vestir uma camisola térmica e um casaco de inverno.
- Que vergonha, todos me ultrapassam, até os amadores, um abrandou e deitou-me a língua de fora, lá se vai a minha reputação.
- Como ter a pista de ciclo-turismo só para mim: ir pedalar quando está a chover.
- Pedalo a um ritmo tão baixo que estou a pensar escolher como banda sonora Michael Bublé e trazer um livro para ler, acho que me consigo equilibrar.
- Os meus amigos já não querem pedalar comigo, em compensação os chatos conseguem todos apanhar-me, se isto dura muito tempo entro em depressão.
- Que ritmo alucinante, até já consigo enviar sms enquanto pedalo.
- Hoje quase tive um acidente, ia tão devagar que um esquilo quase me atropelou.
- Ter de fugir à chuva a toda a velocidade é bem capaz de ter estragado o meu treino.
- O único treino que consigo cumprir com rigor é quando diz "treino livre".
- Ganhei. Estive quase para te agradecer em público, mas antes dos treinos já ganhava as provas em que só participam 3 mulheres e onde não controlo de tempos nem pódio.
- Já sei pedalar sem mãos, não te admires se na próxima avaliação aparecer sem dentes.
- Em Junho pedalei 1250 km, qual vai ser a minha prenda?
- Não sei se treino ou se vou para a praia comer bolas de berlim.

Isto continuou durante muitos e muitos dias. A última informação que tive é que os 3 Kg já foram, o alicate gostou mais de mim agora, subi na escala que não percebo, quanto a mim não noto diferença nenhuma, mas ele diz que pedalo agora muito mais. Mariquices de profissionais. A única coisa que vos posso dizer é isto: quando virem um alicate fujam, mas fujam depressa.

terça-feira, 30 de julho de 2013

a "GANDA" maluca...

O Zé acha-me uma ganda maluca. Está sempre a dizer isso, "que ganda maluca". O Zé diz que já me achava uma "ganda maluca" antes de me conhecer, que quando me via de bicicleta pensava "Esta loira deve ser uma ganda maluca". O Zé diz que certo dia entrou na loja de bicicletas e eu estava a reclamar porque não tinham chegado as peças cor-de-rosa que encomendei, então o Zé pensou que eu era mesmo uma ganda maluca. O Zé diz que quando foi andar a primeira vez de bicicleta connosco estava com receio das descidas, então chegamos a uma mais perigosa e ele agradeceu aos céus por eu ter parado porque ele também não queria arriscar, quando me disse isso mesmo eu respondi-lhe que não ia desmontar, só estava a dar tempo porque não queria ir a travar atrás dos outros, diz o Zé que foi nesse instante que ficou com a certeza absoluta que eu era mesmo uma ganda maluca. O Zé dá-nos atenção, admira-nos e isso sabe mesmo bem. O Zé interessa-se por aquilo que dizemos, fica a pensar nisso e apoia-nos. O Zé conta a toda a gente os nossos feitos, um dia destes fui a uma maratona de 70 Km e ele contava a um e a outro que passavam por nós, quando lhe disse que havia mulheres que fizeram o mesmo que eu e mais rápido duas horas ele fez uma cara mais séria "São 70 Km, eu nunca fiz 70 Km no monte, tu não percebes, as outras fazem mais depressa mas a vida delas é aquilo, tu tens uma vida e ainda fazes aquilo, que ganda maluca". O Zé diz sempre que já me achava uma ganda maluca antes de me conhecer e completa com um "ainda não me desiludiste". O Zé é assim, tem sempre um incentivo e um elogio para nos dar. Diz-me o Zé "Eu conto a toda a gente que vais fazer O CAMINHO, não te importas, pois não? És mesmo uma ganda maluca", claro que não me importo, o Zé está entusiasmado como eu, ouve atentamente cada pormenor, não vê a hora de chegar o dia de eu partir. Eu gosto do Zé, de todos aqueles que pedalam comigo, para além dos que me vão acompanhar, o Zé é o único com o qual eu gostava de partilhar isto, gosto mesmo do Zé, o Zé só precisava de ser um ganda maluco e ficava perfeito.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Foi no dia 21 de Fevereiro de 2010.

Às vezes dou comigo a pensar nisto, no que seria agora a minha vida se naquele dia não tivesse começado a andar de bicicleta. Não teria grande parte dos amigos que tenho, não teria conhecido pessoas que hoje em dia fazem parte do meu mundo de forma insubstituível, teria mais celulite e menos km apontados na agenda, teria menos marcas no corpo e menos sorrisos na face, teria viajado mais mas não teria conhecido a essência das montanhas, teria conhecido melhor o centro de algumas cidades e não teria percorrido as serras em redor delas, teria um blog completamente diferente ou já nem teria um blog, teria muito mais dinheiro na conta e muitas menos recordações na alma, estaria a marcar férias numa praia qualquer e não a planear O CAMINHO para daqui a duas semanas, teria mais tempo livre e menos histórias para contar, teria andado mais de carro e vivido menos, teria dormido mais e apanhado menos frio, teria uma relação de certeza mais monótona, teria lido mais livros e escrito menos posts inspirados, teria mais fotografias dignas de uma fashion blogger e menos fotografias cheias de mim, como esta.


Depois tenho uns segundos de lucidez e sorrio, se não tivesse sido naquele dia, teria sido noutro dia qualquer porque isto faz parte de mim, é o meu território natural, sou eu...

sexta-feira, 26 de julho de 2013

O passaporte...

Para fazer O CAMINHO terei que levar a credencial do Peregrino (vá ou não fazer O Caminho por uma questão de fé), de um lado as credenciais têm um resumo de todos os caminhos traçados na Europa do outro tem espaço livre para preencher com carimbos. Vou pedindo carimbos por os sítios onde passo e vou enchendo o meu passaporte do Caminho, com isto sou reconhecida nas oficinas do peregrino ao longo do Caminho caso precise de alguma coisa, tenho direito a poder pernoitar nos albergues e também a um certificado quando chegar a Santiago de Compostela, em como cheguei lá vinda de Saint Jean Pied de Port.


Pequena curiosidade: Sabiam que depois de obter o certificado do peregrino, também conhecido como A Compostela caso a pessoa tenha feito O Caminho por fé na próxima missa da catedral anunciam a nossa chegada? Por exemplo, se eu quisesse, eles diriam que sou a Vera, a Loira, neste caso vinda da cidade Também quero um Blog em Portugal e que pedalei cerca de 800 Km de Sain Jean Pied de Port até Santiago.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

"A vida é uma aventura ousada ou nada" - Hellen Keller

Um destes dias um colega de BTT perguntava-me em quantos dias vou fazer O CAMINHO, quando lhe respondi que não sei ele não percebeu e insistiu, queria que lhe dissesse quantos Km vou fazer por dia, quantos dias vou precisar para chegar a Santiago e olhava-me como se eu fosse uma maluca por não lhe saber dizer, disse-lhe só que vou viver O Caminho e ele ficou ainda mais baralhado. Há quem faça O Caminho em 9 dias pedalando 100 Km por dia, nunca faria isso, primeiro, porque não me sinto com capacidade física para tal, segundo, porque a única coisa que poderia fazer era pedalar. Estou a realizar um sonho, quero vivê-lo intensamente, não quero limitar-me a subir os Pirenéus, quero respirá-los, se me apetecer parar lá em cima para tirar 300 fotografias vou parar e tirar as 300 fotografias, caramba, são os Pirenéus, posso nunca mais na vida os subir desta forma, quando for velhinha e contar aos meus netos o que fiz quero descrever-lhe aquilo ao pormenor, só "subi os Pirenéus" não chega, é muito pouco. Quero viver cada momento, quero parar para conversar com alguns dos caminhantes, quero ter refeições descansada, sem pressas porque ainda me faltam muitos km para percorrer, gostava de ter tempo (e Internet) para escrever-vos, se encontrar um albergue ou um hotel com piscina a meio do dia quero ficar lá a apanhar sol, a descansar e a preparar-me para mais um dia, se ficar alojada numa cidade que esteja em festa quero sair à noite para a festa, quero visitar alguns monumentos, quero viver esta viagem, não só passar por ela. Outra coisa que faz confusão às pessoas é não ter feito previamente uma reserva de hotéis para pernoitar, mas se não sei quantos km vou fazer por dia não posso reservar hotel para dormir, levo informações comigo sobre cada etapa do caminho, durante o dia só temos de decidir se temos energia para chegar à próxima povoação ou se ficamos mais perto, quando chegarmos só temos de procurar um albergue, um hotel ou em último recurso, caso estejam todos lotados procurar um sítio aconchegado para estender os saco-cama que levamos. Há aventuras que só se vivem uma vez... a vida é uma delas e no Caminho, tal como na vida, temos de estar preparados para tudo.

Uma aventura esta minha viagem, é o que é...

Não pensem que pedalar dos Pirenéus até Santiago de Compostela é a grande aventura porque a grande aventura é toda a viagem, o que inclui a ida até Saint Jean Pied de Port. Para começar temos de desmontar e embalar as nossas bicicletas para as poder transportar, o que quer dizer que temos de carregar com elas e com toda a restante bagagem durante as mudanças de comboio. E não temos que mudar nem uma, nem duas, nem três vezes, temos que mudar de comboio quatro vezes.
- Cerca das 20:00 H saímos em direcção ao Porto, onde chegamos às 21:30 H.
- Às 22:00 H partimos do Porto em direcção a Coimbra, onde chegamos às 23:21 H.
- Em Coimbra apanhamos a ligação do Sud Expresso às 23:37 H, chegamos a Hendaye às 11:28 H, hora espanhola, note-se que neste comboio tivemos que comprar para cada duas pessoas um compartimento de quatro camas, duas para nós e duas para as nossas queridas bicicletas.
- Das 13:44 H às 14:20 H viajamos de Hendaye até Bayone.
- Das 14:55 H partimos de Bayone e chegamos a Saint Jean Pied de Port às 16:18 H, quase 20 horas depois de termos partido, isto claro, se não houver atrasos e se não perdermos nenhuma ligação.
Em vez de começar O CAMINHO no dia seguinte pela manhã decidimos passar um dia inteiro em Saint Jean Pied de Port, primeiro, porque nesse dia são as festas locais, segundo, porque queremos conhecer bem a cidade, terceiro, porque depois de um dia inteiro a viajar de comboio merecemos descansar para a jornada que se segue.

A aventura não começa em Saint Jean Pied de Port, posso considerar que começa quando entrar no primeiro comboio, posso considerar que começa uns dias antes, quando estiver com as outras três pessoas que vão comigo a desmontar e embalar as nossas bicicletas e a preparar os alforges, posso considerar que começou no dia em que fui ao Porto comprar o bilhete do Sud Expresso, posso considerar que começou no dia em que decidimos mesmo fazer isto, porque só a preparação disto tudo já é uma emoção.

terça-feira, 23 de julho de 2013

Se em vez de os prenderem durante uns meses para depois os mandarem em liberdade condicional lhe cortassem logo a piroca eu não tinha que estar a escrever este post agora.

Aqui há uns tempos foi violada uma mulher que pedalava sozinha numa das pistas de ciclo-turismo do norte. Logo vieram as autoridades dizer que era perigoso andar sozinha e que se deveria ter mais cuidado e andar sempre acompanhada. Aquilo revoltou-me, parece que nos continuam a atribuir parte da culpa, afinal, nós é que fomos para um sítio perigoso sozinhas, nós é que não tivemos o devido cuidado. Um destes dias fui abordada na "minha" pista por alguém que me falou nesse assunto, perguntava-me se não tinha medo de andar ali sozinha, se por acaso não sabia daquela história na outra pista, mas perguntava-me com um tom acusador e dizia-me que a mulher dele, desde que ouviu aquela história nunca mais tinha ido para ali caminhar. As pessoas acham que as mentalidades evoluíram mas se me acontecesse alguma coisa eu seria tão culpada por estar ali como era há muitos anos atrás por ter usado uma mini-saia. Eu não dei importância à pessoa em si, disse-lhe meio a brincar que o violador precisava ter pedalada para me apanhar. Olhou-me com um ar ainda mais reprovador. O assunto tem importância, eu é que não gosto de discutir pontos de vista com pessoas que não têm importância para mim. Um dia, na minha adolescência fui perseguida quando ia a pé da escola para casa, felizmente consegui fugir, não sei como seria eu nos dias que correm se naquele final de tarde não tivesse conseguido fugir, fiquei mesmo muito assustada mas no dia seguinte não tinha outra opção senão continuar com a minha vida, afinal, tinha mesmo que ir para casa ao final do dia. A maior parte das vezes em que vou pedalar encontro sempre alguém que faz questão de me acompanhar, mas sinceramente até gosto mais de fazer a pista sozinha, só eu, a minha bicicleta e a minha música, no dia em que por medo eu tiver que deixar de fazer aquilo que gosto, por medo eu tiver que abdicar daquilo que sou, seja em que circunstância for, então nesse dia a vida deixa de me fazer sentido.

Outro Blog? Ou talvez não...

A Susana (Olá Su) é uma das pessoas que "conheci" por aqui e que de alguma forma trouxe para a minha vida, temos algumas coisas em comum, uma delas é a bicicleta. Quando escrevi o primeiro post a dizer que ia fazer O Caminho a Susana, que percebe muito bem a importância disto para mim disse-me que deveria fazer um blog só para escrever sobre O Caminho. Confesso-vos que pensei nisso desde o início, um blog sobre O Caminho seria útil para as pessoas que pesquisam sobre isso porque vão fazer o mesmo que eu, poderia também ser partilhado com os meus amigos reais, uma vez que a maioria deles pedala e quer muito saber tudo sobre isto e até poderia ser partilhado no Fórum BTT. Acontece que apesar de saber que essas pessoas poderiam dar mais importância a cada pormenor não consegui fazê-lo, O Caminho sou eu assim como este blog também sou eu, é aqui que eu escrevo, o Também Quero um Blog, apesar de ser só um blog acompanha-me há já algum tempo e cada post, cada comentário e até cada ausência faz parte de mim, não estou preparada para de alguma forma traí-lo ou trocá-lo. Assim sendo, todos os pormenores sobre O Caminho vão continuar por aqui, enquanto estiver por lá será aqui que vou escrever as actualizações da viagem (no caso de arranjar Internet) e quando a viagem estiver terminada será aqui que daqui a algum tempo virei matar as saudades.

Se acharem que ler sobre isto é uma grande seca apareçam por cá só em Setembro porque até lá os preparativos para a viagem e a viagem são a minha vida e o meu blog.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Amantes de cinema cheguem-se aqui à Loira

Este é um dos filmes da minha vida, penso que brevemente se tornará ainda mais especial. É um filme sobre O CAMINHO que vou fazer daqui a três semanas. Este é um filme especial porque não nos mostra O Caminho como um roteiro, não nos fala da história do Caminho, das dificuldades, das altimetrias ou simplesmente das recomendações para fazê-lo em segurança. É um filme que nos mostra a outra parte, o que leva as pessoas a fazer o Caminho, essa parte sobre a qual ainda não vos consigo escrever, talvez um dia consiga, talvez nunca chegue a conseguir. Há sentimentos indescritíveis.
Se puderem vejam "The Way", não por eu ir fazer O Caminho, mas porque é um óptimo filme. Se por acaso o virem lembrem-se de mim, afinal é naquele comboio que vou chegar a Saint Jean Pied de Port, é aquela ponte que tenho de atravessar para partir no primeiro dia, são aquelas montanhas que tenho de subir, é aquele chão que vou percorrer.






Um filme fantástico, não só para os amantes de cinema como para os amantes da vida.

Loira e as novas tecnologias...

Alguem me explica como raio se coloca acentuacao no teclado do meu tablet novo? Agradecida.

sábado, 20 de julho de 2013

Estou aqui a ver os últimos km da etapa de hoje na Volta à França e lembrei-me de uma coisa.

Esta semana Carlos Sá participou e venceu aquela que muitos consideram a prova mais extrema do mundo, percorreu 217 Km em cerca de 24 horas e levou muito longe o nome do nosso país. Também Rui Costa, vencedor da volta à Suiça tem elevado as nossas cores e a nossa garra na volta à França, vencendo duas etapas nesta última semana. Estes são só dois exemplos entre muitos no nosso país. Eu gostava que por cá os apoios, os patrocínios, a importância e os destaques na imprensa nacional se dirigissem menos aos meninos que jogam com uma bola e muito mais aos Homens que jogam com as duas.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Sinto-me como que a perder a identidade...

Sempre que ando de bicicleta visto umas meias até ao joelho, no Inverno ajudam-me a não ter tanto frio e no Verão protegem-me dos arranhões do mato, além de que são giras que se fartam. Tenho meias de todas as cores e feitios e são uma espécie de imagem de marca uma vez que algumas pessoas me conhecem ou me reconhecem por causa delas, todos comentam as cores e os feitios das meias, dão muito que falar e já me fizeram passar por cenas dignas de uma novela. Agora, durante O CAMINHO vou ter que as deixar. Primeiro, porque segundo me consta o calor em certos sítios vai ser quase insuportável e as minhas queridas meias vão tornar-se desconfortáveis. Segundo, porque como são grandes ocupam muito espaço na bagagem e como vos disse num dos posts anteriores a autonomia total obriga-me a escolher o que é essencial para levar. Terceiro, e não menos importante, porque o meu querido Moreno, lindo que só ele, ofereceu-se para carregar o alforge (bagagem) mais pesado (não é que tenha outra opção) e como durante O Caminho há vários pontos míticos onde os peregrinos costumam deixar alguns bens pessoais ou uma pequena pedra que transportam com eles durante todo O Caminho, ele já me avisou que se eu pensasse sequer em levar a merda das meias as minhas queridas meias deixava uma em cada um desses pontos. Resta-me deixá-las por terra, dar-lhe um pouco de destaque e dizer: Queridas meias, vou ter saudades vossas.

Sou a coisa mais doce... mais apetitosa... mais deliciosa... que há por aqui...

Pelo menos é só assim que consigo explicar o facto de todos os bichos com que me cruzo no monte resolverem provar-me. Já estou habituada a algumas picadas de insectos, a engolir uns mosquitos de vez em quando enquanto pedalo a alta velocidade, isso e a alguns animais voadores não identificados a baterem-me com uma força tremenda no capacete, ou na testa, ou no pescoço, já me costumo cruzar com uns cavalos selvagens aqui, uma vacas ali e uns coelhos bravos acolá, uns esquilos, umas cabras, uns ouriços, mas sinceramente nos últimos dias todos resolveram atacar-me, tenho picadas por todo o corpo e só no mesmo dia, logo a começar o treino tive um encontro imediato de 3.º grau com uma abelha que me espetou o ferrão na minha linda barriga, a seguir vou toda contente e piso uma cobra, quase morri do coração quando me apercebi que era uma cobra, pisei-a mesmo ao meio, era enorme e gorda (protectores dos animais não se preocupem que a cobra não morreu) e quando finalmente já vinha embora para casa ainda me cruzo com uma raposa, ela bem podia ter fugido, afinal não é todos os dias que se encontra uma Loira meio maluca a pedalar, mas não, ficou ali parada a olhar-me, a desafiar-me com um ar desconfiado. Se por acaso eu voltar a desaparecer da blogosfera e não vos avisar é melhor começarem a procurar-me não vá dar-se o caso de o Lobo Mau me comer.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Autonomia total...

Já fiz algumas viagens de bicicleta e já fiz algumas vezes O Caminho, como já vos disse, mas sempre com uma organização envolvida, temos que pedalar muitos Km, é certo, mas somos só nós, a bicicleta e uma mochila com algumas coisas essenciais para passar o dia. Quando chegamos ao hotel onde vamos pernoitar temos uma carrinha à nossa espera com a nossa mala com tudo o que precisamos lá dentro, tudo o que precisamos e mais alguma coisa, temos a roupa para os dias seguintes, casacos e impermeáveis, caso a temperatura mude, comida para meter na mochila para o dia seguinte e o outro, medicação, roupa para jantar à noite, cremes, maquilhagem, e admirem-se, no meu caso até uns saltos altos que dão sempre algum estilo à coisa. Quando partir, daqui a pouco menos de um mês para fazer O Caminho Francês de Santiago, tenho que levar comigo tudo aquilo de que posso precisar para todos os dias em que vou pedalar e tenho que transportar todo esse peso comigo durante todos os dias, todos os Km dO Caminho. Acho que O Caminho vai ensinar-me muitas coisas, a primeira será a escolher o que é de facto essencial para sobreviver.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Mais um post sobre O Caminho, ficam já avisados que isto vai continuar: Preparação física.

Quero fazer O Caminho já há alguns anos, é um sonho antigo, daqueles que nos parecem quase inalcançáveis, mas no fundo só temos que nos propor a realizá-lo, planear e ir. Um dos receios maiores é a preparação física, por muito bem preparados que estejamos na minha opinião nunca estamos realmente preparados, são muitos dias seguidos a pedalar. No início deste ano, por motivos de força maior, tive que parar de andar de bicicleta praticamente três meses, o que me deixou em baixo de forma e ainda com mais receio de avançar com isto. Mas desistir de um sonho é mais difícil do que continuar com ele, conheci entretanto um profissional, uma lenda do ciclismo nacional que me fez planos de treino rigorosos que eu cumpri e estou a cumprir à risca. Desde o dia em que me decidi a fazer O Caminho já pedalei centenas de Km a controlar o ritmo cardíaco, os minutos, as cadências e essas merdas todas que os profissionais fazem e que é uma grande seca porque o que eu gosto mesmo é de passear de bicicleta. Tive calor, tive frio, doeram-me as pernas, tive sono, tive fome, tive sede, fiquei cansada, abdiquei de fazer outras coisas, muitas coisas mas fui treinar sempre, pensei sempre que fazer O Caminho, cumprir o meu sonho era mais importante. Se valeu a pena? Não sei. Se estou preparada fisicamente para fazer O Caminho? Acho que não. Como vos disse são muitos dias, muitos km em cima da bicicleta, a certeza que tenho é que estou mais confiante, mas também sei que vou passar dias difíceis, que vai doer, um dia vai doer uma coisa, no dia seguinte vai doer outra e vai haver dias em que vai doer tudo. Nunca estamos totalmente preparados, mas tenho planos para acabar de me preparar enquanto pedalo nO Caminho. A preparação física é importante, mas sempre achei que a força psicológica e a coragem de avançar é ainda mais importante.

terça-feira, 16 de julho de 2013

O(s) Caminho(s)...

Há caminhos de Santiago traçados por toda a Europa, com certeza todos vocês já passaram por as setas amarelas, pela estrela de Santiago ou por placas indicativas do Caminho. Eu já fui a Santiago três vezes, sempre por caminhos diferentes mas relativamente perto, comparado com a viagem que vou fazer agora. Em 2010 parti de Chaves para apanhar a Via de la Plata que tem origem em Sevilha, depois de passar a primeira noite em Ourense e a segunda em Silleda cheguei a Santiago de Compostela ao terceiro dia. Em 2011 parti da minha cidade rumo a Braga e depois a Vila Praia de Âncora, onde passei a primeira noite, na segunda fiquei em Pontevedra e mais uma vez cheguei a Santiago de Compostela ao terceiro dia, estava feito O Caminho da Costa. Em Junho de 2013, há relativamente pouco tempo, parti novamente da minha cidade rumo a Braga e ao final do primeiro dia estava em Ponte de Lima, no segundo dia cheguei a Pontevedra e no terceiro a Santiago de Compostela, este é o caminho Português mais tradicional. Cada um destes caminhos tem cerca de 250 Km, o Caminho da Costa tem cerca de 350 Km. O Caminho Francês, que vou fazer daqui a mais ou menos um mês tem cerca de 800 Km, quem vai fazê-lo a pé tem de tirar no mínimo 31 dias e quem vai fazê-lo a pedalar, como é o meu caso, tem de tirar no mínimo 13 dias, há quem faça O Caminho em menos dias, mas para aproveitar a viagem, dizem os especialistas estes são os dias necessários. Vou sem planos de quantos dias e de quantos Km fazer por dia, vou ao sabor da viagem.


Esta foto foi tirada na última viagem a Santiago, aqui estamos a subir a Labruja, a serra depois de Ponte de Lima, eu diria que é o maior obstáculo deste Caminho, se conseguirem ver uns calções azuis e uma meias rosa sou eu. Esta é a seta que nos guia durante todo o Caminho, em todos os Caminhos.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Durante os próximos tempos isto é bem capaz de tornar-se num blog dedicado a uma certa viagem que vou fazer.

Queria contar-vos sobre isto mais perto da data, queria falar-vos dos pormenores, das dificuldades e da importância da viagem mesmo antes de partir, mas não consigo, há coisas demais para dizer, quero documentar tudo isto detalhadamente, esta vai ser A viagem da minha vida, pelo menos até agora que eu ainda espero ter uma vida muito longa, cheia de aventuras. Mas, como dizia, comprei o bilhete de ida com um mês de antecedência e ainda bem que não decidi comprá-lo antes, porque desde que o tenho em mãos a ansiedade é tanta que não consigo pensar em muito mais, por isso esta minha necessidade de escrever, de contar-vos tudo.
Dentro de um mês vou partir com destino a Saint Jean Pied de Port nos Pirenéus, eu, mais três pessoas e quatro bicicletas, o bilhete, como vos tinha dito é só de ida, o regresso será a pedalar, depois de atravessar os Pirenéus vou percorrer toda a Espanha a pedalar até Santiago de Compostela, é O Caminho Francês de Santiago, um dos meus grandes sonhos, a rota que está traçada em azul no mapa que se segue e nos próximos tempos vou falar-vos muito sobre isto.


Vou realizar um sonho...

Primeiro desejei um dia vir a fazê-lo, mas um dia é longínquo demais e parece sempre que não é certo. Depois dispus-me a fazê-lo, por vezes não temos só que desejar, é preciso pensar nos sacrifícios, é preciso ter vontade de avançar apesar de tudo, oiço muitas vezes pessoas a dizerem "gostava tanto de fazer..." mas gostar ou querer não chega, é preciso avançar. Planeei cada pormenor, pensei em tudo, ficou para este ano, mas ainda assim parecia tão longe, parecia que demorava ainda tempo suficiente para poder não acontecer. Marquei uma data, caramba, tinha uma data, já não era só a vontade, estava decidida em concretizá-la. Hoje fui comprar o bilhete, é uma viagem, já tenho o bilhete, agora é palpável, caramba, tenho ali o sonho guardado na agenda, mesmo ao meu lado, é só esperar mais um bocadinho. É palpável, tenho um frio na barriga e o coração aos pulos. O bilhete é só de ida, um dia destes conto-vos tudo.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Hoje não consegui segurar nas palavras...

Vão ser as primeiras férias de que me consigo lembrar que vou passar sem livros. Normalmente levo mais do que aqueles que consigo carregar e trago sempre mais alguns. Este ano não posso levar nem um livro, isto está a deixar-me louca. Leio quase como se fosse toxicodependente e soubesse que este é o último dia em que posso consumir, leio como se amanhã me fossem levar para uma clínica de recuperação, leio como se já estivesse de ressaca. Consumo cada palavra, embriago-me com as histórias, aproveito cada segundo do meu tempo, diariamente leio até os meus olhos se fecharem sem eu perceber, de tão cansados...

Ler, entre outras coisas, rouba-me algum tempo que tinha para escrever, mas por outro lado, inspira-me. Resolvi regressar. Hoje não consegui segurar nas palavras... Nisto, do blog, ao contrário de na vida sou inconstante. Resolvi regressar, pelo menos por hoje, não consegui segurar nas palavras...