A minha querida mãe morre de pânico quando sabe que vou para o monte andar de bicicleta, "Liga-me quando chegares a casa", "Por favor, não caias", "Liga no fim da maratona", "Tu tem cuidado", "Por favor, não caias", "Por favor, não caias", "Por favor, não caias". Já caí, mas por sorte, ou para fazer a vontade à minha mãe, nunca me magoei a sério, até mesmo em quedas mais aparatosas, saio praticamente ilesa e pronta a ligar à minha mãe para lhe dizer que sim, que está tudo bem, que continuo inteira.
Nos últimos tempos tenho aparecido com algumas mazelas, para quem anda no monte de bicicleta isto não é muito difícil, mas as minhas feridas são todas elas feitas dentro da minha própria casa, sendo que nos últimos dias quase fiquei sem três dos meus preciosos dedos. Um deles, o mais grave, culpa da varinha eléctrica e os outros dois culpa da porcaria de um espelho.
A minha mãe continua preocupada que eu vá para o monte andar de bicicleta e eu tento, sem êxito, explicar que com a sorte que tenho a cair de bicicleta, contrária à total inaptidão que tenho para ser dona de casa, mais vale que ela comece a preocupar-se a sério com outro tipo de coisas e que as recomendações passem a ser mais úteis, "Liga-me quando acabares de aspirar", "Por favor, segura bem na varinha enquanto fazes a sopa", "Liga-me quando terminares de limpar os espelhos", "Liga-me quando terminares de limpar os candeeiros", "Por favor, segura bem na varinha enquanto fazes a sopa", "Por favor, segura bem na varinha enquanto fazes a sopa", "Por favor, segura bem na varinha enquanto fazes a sopa".
Mami, por favor, começa a preocupar-te com coisas realmente importantes e avisa-me que os espelhos podem causar risco de vida, que as varinhas eléctricas são verdadeiras armas mortais e que andar por aí a limpar a casa ou a fazer o jantar pode ser muitíssimo perigoso.