O mês de Janeiro foi tão mau, tão mau, tão mau, que eu estou quase a publicar uma daquelas imagens cheias de flores e de corações e de merdas assim a pedir um Sweet Fevereiro, estou quase a escrever textos de felicidade eterna, estou quase a partilhar mantras ou lá o que caralho aquilo é.
sexta-feira, 29 de janeiro de 2016
quarta-feira, 27 de janeiro de 2016
terça-feira, 26 de janeiro de 2016
Um dia de Verão em Janeiro
Estava calor, demasiado calor para subir aquela montanha com a roupa que levávamos, saímos de casa preparados para o frio. O terreno também não estava fácil, demasiada chuva nos dias anteriores, as rodas prendem e temos de fazer o dobro do esforço para avançar. Subimos e subimos e subimos, quando chegamos lá em cima ficamos uns minutos a olhar a paisagem, perdemos-nos na imensidão do que nos rodeia, depois apontamos para as montanhas e dissemos que temos de subir aquela, e aquela, e aquela, e também aquela. Eu desci feliz, é bom ter quem diga que sim, que vamos lá, que nos acompanha.
segunda-feira, 25 de janeiro de 2016
Era uma vez uma Loira
Quando comecei a pedalar no meio da montanha e por trilhos nunca antes imaginados por mim, miúda da cidade que achava que se podia ir de estrada para todo o lado e que não imaginava sequer que os locais mais fantásticos que viria a conhecer estão reservados só para alguns e nunca me seria possível chegar lá se não fosse a minha querida bicicleta, tinha a mania que era capaz de tudo.
Havia um charco de água para passar e lá vinham os rapazes, oferecer-se para me levar a bicicleta. Havia umas pedras para descer e lá vinham os rapazes perguntar-me se eu precisava de ajuda. Uma subida difícil e lá perguntavam eles se eu tinha força ou se queria que me fossem buscar a bicicleta. Aquilo irritava-me profundamente e eu respondia sempre o mesmo, que desculpassem, mas que se eu tinha trazido a bicicleta era eu que levava a bicicleta, no dia em que não pudesse com ela não vinha.
Certa vez chegou o dia de ir fazer o meu primeiro Raid da Lama e eu estava longe de imaginar o que aquilo era. Ainda nos primeiros quilómetros o Isidro, que me acompanhava, começou a oferecer-me ajuda a cada cinco minutos, dois metros de lama e lá perguntava ele, uma pedra escorregadia e lá perguntava ele, um charco de água e lá perguntava ele. Eu, que não queria ferir a sua boa vontade, inicialmente lá fui dizendo que não, que era capaz, depois ele começou a enervar-me, sempre a oferecer ajuda, até em locais completamente fáceis, tratava-me como se eu fosse uma menina e eu, do alto da minha falta de experiência lá lhe expliquei aquela história do, se eu trago a bicicleta, sou eu que a levo e blá... blá... blá... Uns quilómetros mais à frente havia um rio para passar, não era um rio qualquer, era um rio com muita profundidade e do lado não havia hipótese, eram pedras super altas e escorregadias, o Isidro passou o rio e ficou do lado de lá a olhar para mim, eu meti-me lá dentro com a água pela cintura e a bicicleta às costas, mas a corrente da água era tão forte que eu mal conseguia caminhar, a bicicleta magoava-me e eu não consegui sair dali, pelo menos facilmente, depois de um grande esforço e de quase ter morrido três vezes lá consegui. Entretanto, enquanto eu dava aquele espectáculo digno de um filme de comédia juntaram-se alguns esperadores masculinos, uns que perguntavam ao Isidro porque caralho ele não me ajudava e outros que queriam ajudar-me mas aos quais o Isidro dizia que não, que eu me safava muito bem sozinha. Quando, finalmente, consegui atravessar o rio começamos a pedalar e o Isidro explicou-me que não me ajudou porque eu trouxe a bicicleta e quero muito ser eu a levar a bicicleta e que blá... blá... blá...
E foi a partir desse dia, do meu primeiro Raid da Lama em que o Isidro me acompanhou que eu, miúda que continua com a mania de que é capaz de tudo, todas as vezes que me oferecem ajuda, faço um grande sorriso, agradeço e digo que não preciso, mas que se precisar eu peço.
quinta-feira, 21 de janeiro de 2016
Os meus livros #5 - Mataram a Cotovia
Situado em Maycomb, uma pequena cidade imaginária do Alabama, durante a Grande Depressão, o romance de Harper Lee, vencedor do Prémio Pulitzer, em 1961, fala-nos do crescimento de uma rapariga numa sociedade racista.
Scout, a protagonista rebelde e irónica, é criada com o irmão, Jem, pelo seu pai viúvo, Atticus Finch. Ele é um advogado que lhes fala como se fossem capazes de entender as suas ideias, encorajando-os a refletirem, em vez de se deixarem arrastar pela ignorância e o preconceito.
Atticus vive de acordo com as suas convicções. É então que uma acusação de violação de uma jovem branca é lançada contra Tom Robinson, um dos habitantes negros da cidade. Atticus concorda em defendê-lo, oferecendo uma interpretação plausível das provas e preparando-se para resistir à intimidação dos que desejam resolver o caso através do linchamento. Quando a histeria aumenta, Tom é condenado e Bob Ewell, o acusador, tenta punir o advogado de um modo brutal.
Entretanto, os seus dois filhos e um amigo encenam em miniatura o seu próprio drama de medos, centrado em Boo Radley, uma lenda local que permanece confinado numa casa vizinha.
Fiquei completamente apaixonada pela Scout e pela forma de escrever da autora. Mataram a Cotovia é um livro extraordinário e imprescindível.
Os meus livros #4 - O Deus das Moscas
Da inocência à barbárie - este o dilema que é a tese de O Deus dos Moscas, de William Golding, Prémio Nobel (1983), romancista inglês considerado como um dos maiores vultos da literatura do seu país. A Problemática abordada na obra de Golding (vários romances e ensaios) é a do nosso tempo e reflecte, numa visão nova e original, os matizes de um dilaceramento interior, decorrente da inadequação a estruturas mentais sub-repticiamente minadas pelas vicissitudes da conjuntura histórica. Ora essa problemática atinge o cume em O Deus das Moscas, obra que_ pela contenção e limpidez de escrita, se aproxima (segundo críticos internacionais) da tragédia grega. Através de um grupo de jovens, abandonados numa ilha deserta, o romancista britânico dá-nos a crise de valores vinda directamente dos resquícios da II Grande Guerra (conflito em que o escritor participou). Um romance sempre actual, pois que se adapta inclusive a confrontos que ainda ocorrem na actualidade. Daí, por consequência, a sua perenidade, a par de unia lição de estética no âmbito da literatura, unicamente comparável, entre outros, a Camus e Sartre. - Tradução de Luís de Sousa Rebelo, cujo prefácio enquadra a obra e o autor no panorama da literatura britânica e no contexto da cultura universal.
Se inicialmente o tipo de escrita me fez duvidar do livro, com o avançar das páginas mudei completamente de opinião. Tanto que não consegui parar de ler, só tirei os olhos do livro quando terminei a última frase do último paragrafo. Este é um livro com duplo sentido que nos conta uma história cruel e nos mostra o mais tenebroso e obscuro que há no comportamento humano. Ao ler senti revolta, senti medo, senti-me impotente e incrédula. Este livro é cruel, é assustador, rouba-nos e inocência e muda-nos para sempre. Se por um lado não será o livro indicado para os espíritos mais fracos, por outro é o livro que todos deveriam ler.
Os meus livros #3 - A Estrada
Um pai e um filho caminham sozinhos pela América. Nada se move na paisagem devastada, excepto a cinza no vento. O frio é tanto que é capaz de rachar as pedras. O céu está escuro e a neve, quando cai, é cinzenta. O seu destino é a costa, embora não saibam o que os espera, ou se algo os espera. Nada possuem, apenas uma pistola para se defenderem dos bandidos que assaltam a estrada, as roupas que trazem vestidas, comida que vão encontrando - e um ao outro. A Estrada é a história verdadeiramente comovente de uma viagem, que imagina com ousadia um futuro onde não há esperança, mas onde um pai e um filho, "cada qual o mundo inteiro do outro", se vão sustentando através do amor. Impressionante na plenitude da sua visão, esta é uma meditação inabalável sobre o pior e o melhor de que somos capazes: a destruição última, a persistência desesperada e o afecto que mantém duas pessoas vivas enfrentando a devastação total.
Com o fim do mundo como o conhecemos a uns só resta a maldade e o instinto cruel do sobreviver a qualquer preço, a outros resta um grande amor, que para mim é a mensagem principal do livro. Difícil de ler, difícil de digerir, difícil de imaginar um cenário tão devastador como o que nos é descrito, mas apesar de tudo é um livro de esperança e de amor, do maior amor que há, de um pai e de um filho. Este livro quebrou-me.
Com o fim do mundo como o conhecemos a uns só resta a maldade e o instinto cruel do sobreviver a qualquer preço, a outros resta um grande amor, que para mim é a mensagem principal do livro. Difícil de ler, difícil de digerir, difícil de imaginar um cenário tão devastador como o que nos é descrito, mas apesar de tudo é um livro de esperança e de amor, do maior amor que há, de um pai e de um filho. Este livro quebrou-me.
Os meus livros #2 - O barulho das coisas ao cair
Uma radiografia de uma geração paralisada pelo medo. Mas é também a história de uma amizade frustrada e uma dupla história de amor em tempos pouco propícios.
Terminei este livro com um suspiro e com um pensamento: Há coisas que fazem um barulho ensurdecedor ao cair, há outras que caem em silêncio, num silêncio assustador. Gostei muito deste livro, cheio de mensagens nas entrelinhas.
Os meus livros 1# - Diz-me quem sou
Uma apaixonante aventura protagonizada por personagens inesquecíveis, cujas vidas constroem um magnífico retrato da história do século XX. Desde os anos da Segunda República espanhola até à queda do Muro de Berlim, passando pela Segunda grande Guerra e pela Guerra Fria, o novo romance de Julia Navarro transborda de intriga, política, espionagem, amor e traição
Grande livro, não só pelo número de páginas (mais de 1000), como também pela história, pelas aventuras, pelas personagens e acima de tudo pela surpreendente vida da personagem principal, retratada de uma forma simples e fluída que nos faz querer ler e saber sempre mais. Com ele aprendi uma parte de história que desconhecia e, apesar de já ter lido muitos livros sobre a Segunda Guerra Mundial este mostrou-me outra perspectiva deste assunto. Apesar de ser um livro muito volumoso é de leitura bastante fácil. Este livro foi-me recomendado aqui no Blog, por ele, obrigada.
domingo, 17 de janeiro de 2016
sexta-feira, 15 de janeiro de 2016
As curvas da vida
Há 50 Km. E há 50 Km.
180 metros de acumulado de subida em 50 km |
1900 metros de acumulado de subida em 50 km |
João Pedro
A minha prima estava grávida e no dia em que me contou eu fiz uns cálculos estúpidos e infundados e afirmei com toda a convicção do mundo que o puto ia nascer exactamente no mesmo dia que ela. Ela riu-se, nem eu podia saber ainda que era um miúdo, muito menos adivinhar o dia em que iria nascer. Passei os meses seguintes com a mesma certeza, marcando e alterando as agendas com coisas cá nossas, sempre com o dia 15 como sendo o dia em que ela ia parar ao hospital. Ela continuava a rir-se e a chamar-me parva. No dia 15 liguei-lhe, para lhe desejar os parabéns e perguntei se já estava no hospital ou se eu tinha de esperar mais para o fim do dia para ter notícias, mas quando ela me disse que sim, que estava mesmo no hospital e que o puto ia nascer daqui a pouco deixei de acreditar, ela só podia estar a brincar, não podia ser verdade. Até que percebi que ela estava a falar a sério e chorei, chorei, chorei, chorei de emoção, de felicidade, de sei lá o quê. Quando, meia hora depois, recebi a mensagem a avisar-me que o puto já tinha nascido ainda eu não tinha parado de chorar. Faz hoje dois anos.
quinta-feira, 14 de janeiro de 2016
Não fazes mais nada na puta da vida, Loira?
Em 2015 li 72 livros. As pessoas acham muito, acham demais, acham que não faço mais nada a não ser ler e quem lhes dera ter tempo para isso. São todas muito ocupadas, não têm tempo para nada, eu sim, tenho tempo de sobra, para ter lido tantos livros. Estás sempre a ler, é o que me dizem quando calham de ver o livro que trago sempre na mala. O curioso é que eu não tenho tempo nenhum para ler. Trabalho no escritório todo o dia, quando saio vou para o ginásio pelo menos duas vezes por semana, ando a tirar uma formação que me ocupa mais dois finais de dia, isso significa que só me sobra um dia em que chego a casa antes das 21:00 H, aproveito esse dia para cuidar da casa, porque também tenho de fazer essas merdas, o jantar, tratar da limpeza, das roupas e das compras. Tem de me sobrar tempo para o meu gajo, para a minha família e para os meus amigos. Ao fim de semana ando de bicicleta, a não ser que não possa mesmo, ao sábado à tarde e ao domingo de manhã ninguém me apanha a fazer mais nada a não ser pedalar lá em cima na montanha, às vezes pedalo ao sábado todo o dia e também há os domingos em que vou às maratonas. Tenho de arranjar tempo também para planear as aventuras. Há dias em que consigo ler pouco mais de meia hora à noite, há dias em que não consigo ler nada e o que as pessoas não sabem é que o livro que anda na minha mala para trás e para a frente religiosamente só me serve para transportar peso porque nunca consegue ver a luz do dia. Não vejo televisão e aproveito todo o tempo livre que tenho para ler, porque é isso que eu gosto de fazer. Apesar das pessoas acharem que leio muito, que leio demais e que não faço mais nada na puta da vida, a verdade é que não tenho tempo nenhum para ler, que para mim é pouco aquilo que leio, é sempre pouco. Tivesse eu tempo e as pessoas veriam o que é realmente ler tudo o que se quer.
quarta-feira, 13 de janeiro de 2016
Loira, a ambiciosa
Estou a fazer planos, adoro esta fase, é aqui que começam as viagens, quando se marca uma data, quando se decide uma rota, quando se combina com as pessoas, quando se criam expectativas, quando se contam os dias que faltam, quando se começa a ficar ansioso por partir, quando se começa a sonhar.
Já disseram de mim que sou demasiado ambiciosa, talvez, em parte, isso possa ser verdade, talvez os meus planos sejam cada vez mais atrevidos e eu esteja cada vez mais ambiciosa. Nunca demasiado, uma vez que nunca voltei para trás, nunca desisti e nunca achei que não era capaz de cumprir um objectivo, de atingir uma meta.
Talvez eu seja ambiciosa, talvez os meus planos possam parecer exagerados aos olhos dos outros, mas para mim não, para mim esta é a única maneira que conheço de realizar os sonhos. Ousar, arriscar, aventurar, são os verbos que se seguem.
terça-feira, 12 de janeiro de 2016
Ainda há esperança
Um destes dias, na verdade já lá vão muitos dias, apontei isto no meu bloco das ideias antes do Natal e só hoje é que me voltei a lembrar, passei por acaso em frente à televisão enquanto uma jornalista perguntava a vários miúdos que se juntavam em frente à câmara a sorrir e a acenar lá, cá para casa, o que cada um deles queria receber de prenda no Natal. As respostas não me surpreenderam, os miúdos queriam receber telemóveis, jogos, computadores, iPods, tablets e outras novas tecnologias que eu não percebo muito bem para que servem. Até que uma miúda disse que queria um livro qualquer para ler e eu, que nem vejo televisão, achei que valeu muito a pena ter parado aqueles preciosos segundos em frente ao ecrã, aquela miúda fez-me acreditar.
segunda-feira, 11 de janeiro de 2016
Enquanto vocês estão no quentinho dos vossos lares
Eu ando lá fora, a pedalar na montanha, à chuva, ao frio, ao vento, debaixo das intempéries mais violentas, enfrentando tempestades indescritíveis. Toda eu molhada, gelada, congelada, toda eu suja de lama, toda eu num estado lastimável aos olhos dos outros.
Sofro sempre de uns segundos de hesitação, penso brevemente antes de sair no risco de ficar doente, mas sobre esses segundos não conto a ninguém, arrisco sempre e assim sou mais feliz.
Quando estou lá em cima, na montanha, a encarar as perturbações atmosféricas mais violentas nunca me arrependo de ter ido, nunca me arrependo de arriscar, pelo contrário, se tivesse ficado em casa, sei, não correria tanto risco de ficar doente, mas estaria arrependida e infeliz.
Lá em cima, na montanha, toda eu sou sol, toda eu sou calor, toda eu sou luz. Toda eu, mesmo que imunda de lama por fora, sigo caminho de alma lavada.
Livros
Este fim de semana li A Estrada de Cormac McCarthy e O Deus das Moscas de William Golding. Foi um erro ler estes dois livros de seguida, mas eu não poderia adivinhar a violência psicológica que ambos transmitem. Talvez depois disto eu não volte a ser a mesma, há livros que nos mudam, que nos quebram, que nos roubam a inocência. Ainda estou em choque. Não sei quando isto me passará. Ou se passará.