No início do verão fiz o Caminho de Santiago em bicicleta, é a segunda vez que o faço e pedalar durante alguns dias para lá chegar é uma sensação que não vos consigo explicar. Quando regressei houve alguém aqui no blog que me pediu para falar mais sobre O Caminho, mas confesso que é difícil. Por um lado porque nos primeiros dias o sentimento ainda é estranho, ainda não conseguimos absorver tudo o que O Caminho nos transmite e por outro, quando começamos a perceber tudo o que vivemos, passar tudo isso para palavras é quase impossível. Todos esses sentimentos, todas essas lembranças me surgem agora (e sempre) em forma de saudade e por isso de tempos a tempos vou contando por aqui algumas coisas.
No segundo dia de viagem chovia. Chovia muito e nós pedalávamos cheios de frio, já desde manhãzinha, o vento batia nos rostos e puxava-nos para trás, era difícil cada pedalada, também tínhamos fome, o lugar onde podíamos almoçar estava ainda muito longe e cada vez chovia mais, cada vez tínhamos mais frio. É uma sensação estranha esta da autonomia, só ter a nossa resistência e a nossa coragem para chegar, há momentos em que nos parece que não vamos conseguir. Até que por fim encontramos um lugar para almoçar, deixamos as bicicletas cá fora e entramos rapidamente, desejosos do conforto de um abrigo. O que me marcou neste dia foi um Senhor que ao ver todas as nossas bicicletas paradas à porta do restaurante decidiu entrar e pedir só uma sobremesa, uma vez que já tinha almoçado. Sentou-se silencioso e observador perto de nós e sorria-nos, até que começamos a falar e ele nos contou a história dele. O Senhor tirou umas semanas da vida dele para fazer aquela viagem, vinha também de bicicleta mas ao contrário de nós estava sozinho, tinha saído da Polónia sete semanas antes do nosso encontro com muito menos bagagem que a que nós trazíamos para três dias, contou-nos que já tinha passado por Santiago de Compostela e em vez de regressar a casa decidiu que a viagem dele terminaria em Fátima. Depois continuou silencioso e observador, sempre a sorrir-nos, pegou num caderno de notas e escrevia, olhava para nós e escrevia, talvez exactamente igual ao que eu estou a escrever agora sobre ele. É uma sensação estranha esta da autonomia, só ter a nossa resistência e a nossa coragem para chegar, há momentos em que um simples pormenor ou uma pessoa completamente desconhecida nos faz renascer uma força e uma coragem inexplicáveis.
costuma dizer-se que a fé move montanhas e se calhar move mesmo.
ResponderEliminarSem ela muitos peregrinos não se julgariam capazes de aguentar o que aguentam...
Beijo grande!
Deve ser mesmo uma experiência incrivel mesmo, e além do mais cada pessoa a deve viver à sua maneira ne?por isso mesmo deve ser tão dificil explicar :)
ResponderEliminarBeijinhos, quem sabe um dia também o faça, mas não de bicicleta :P
Isso é que foi força de vontade...
ResponderEliminarGostei! (:
ResponderEliminarMomentos inspiradores.
ResponderEliminarDeve ser uma experiência muito interessante. Uma das minhas antigas chefes de serviço (do meu antigo emprego)Costumava fazer o trajecto a pé ela tinha um grupo de caminhadas e depois is nos contactando para o serviço a dizer como tinha corrido o dia. São momentos para recordar.
ResponderEliminarBeijinhos grandes.
À porta da catedral de Tuy, cinco com as bicicletas carregadas, um deles com uma câmara no topo do capacete. Passam duas senhoras idosas, espanholas, muito arranjadas e uma diz em galego: "Pareces um astronauta".
ResponderEliminarÉ preciso mesmo coragem e uma grande resistência para conseguir pedalar ao frio e à chuva. Contudo, posso imaginar que tenha sido uma experiencia inacreditável :)
ResponderEliminarNess,
ResponderEliminarTínhamos que descer um caminho estreito de cimento, de um lado era monte e do outro havia casas, tinha 3 escadas e nós lá íamos a descer todos entusiasmados. Até que à beira das escadas estava uma senhora à janela e gritava em espanhol "Parem, parem, ainda o ano passado foi um daqui directo para o hospital", e gritava sempre o mesmo, repetidas vezes, quando viu que não paramos começou a chamar a cada um que passava "Cabron", "Cabron", "Cabron", e assim foi, até passar o último.
Tenho grandes amigos que fizeram o Caminho a pé e querem sempre voltar!
ResponderEliminarInvejo essa fé!
Beijos, loiraça.
Belo texto.
ResponderEliminarhomem sem blogue
homemsemblogue.blogspot.pt
admiro a coragem destes peregrinos, quer a pé, quer de bicicleta, é preciso muita força e acima de tudo coragem. Parabéns!
ResponderEliminarE tudo parece fazer sentido, não é? A força acaba por se renovar :)
ResponderEliminarÉ uma bonita história :)
Beijito*
Ainda hoje o Mg, homem de nenhuma fé (que disse, sem hesitar, que alinhava na aventura - apesar de há mais de 5 anos não assentar o rabo em cima de uma bicicleta - quando convidado para a mesma a uma semana da partida) dá graças pelo tanque de água quente em Caldas del Rei e pelas duas "bombas" que tomou, que o fizeram esquecer que tinha joelhos e respectivas dores.
ResponderEliminarE pensar que no final dos primeiros 5 ( de muiiiiiiiitoooooossssss) quilómetros já estava cansado...
E a serra da Labruje? Medo! :) E respeito!
Sem sombra de duvidas, a repetir. Agora, talvez a pé, assim haja quem alinhe.
Ainda bem que escreveste este post. Eu e o meu grupo estamos a pensar fazer esse "caminho" lá para Abril, quando o tempo estiver melhor, mas pessoalmente tenho medo de não conseguir. Já me deste alento, vontade e força com a tua história. Gostei :)
ResponderEliminarEu fiz uma parte a pé e outra de bicicleta e foi uma experiência inolvidável! Mais uma razão para ter adorado este post
ResponderEliminarÉ isso mesmo querida! Ele é boa pessoa, portanto longe de mim odiá-lo
ResponderEliminarGostei muito do teu relato.
ResponderEliminarPara mim é o testemunho de uma caminhada na fé e pela fé. E a fé é uma experiência muito própria e daí ser tão difícil explicá-la.
E tb é ela que alimenta essa força e essa coragem. Bjs
Deve ter sido uma experiência incrível e gostei muito deste texto.
ResponderEliminarum beijinho
Gábi
O ano passado no verão fiz pela primeira vez o Caminho de Santiago a pé, parti de Ponte de Lima e 7 dias depois estava em Santiago de Compostela e apesar de ter este ano falado sobre o caminho no blog, também sinto o mesmo que tu, por mais que uma pessoa tente contar a grandeza que é o Caminho de Santiago, não consegue nunca pôr por palavras os sentimentos e a felicidade que é fazer o caminho. Mesmo com chuva, fome, calor e uma mochila pesada, foi a minha melhor viagem e este ano hei-de lá voltar e hei-de voltar quantas vezes poder e conseguir.
ResponderEliminarSer peregrino de Santiago, mesmo para quem não tem fé, é uma experiência que nos marca para a vida.
Admiro a coragem para fazer este caminho. Deve ser uma experiência incrível.
ResponderEliminarEstou há anos para fazer esse caminho...e por uma razão ou por outra vai passando...tenho tanta vontade mas aparenteente ainda não foi a suficiente...
ResponderEliminarAdorado saber de tuas histórias!!
ResponderEliminarTem um presentinho lá no blog pra ti!
http://diariosdesafios.blogspot.com.br/2012/11/vamos-brincar.html
Fique à vontade para participar ou não está bem?
bjus!!
Pois é já fiz esse caminho e tive um amigo que antes de o fazer disse me que não era eu que iria passar pelo caminho mas sim o caminho por mim e só ao segundo dia comecei a perceber isso julgo que esse pequeno grande pormenor deve ser comum a todos os que por la passam...
ResponderEliminarUm dia quando poder e tiver tempo para poder fazer o francês nem quero imaginar a experiencia que sera...
Bem haja.
Demais!
ResponderEliminarÉ tão bom ter desafios! Eu faço Crossfit há uma ano e amo, não consigo deixar de fazer todos os dias e já faço coisas que nunca pensei conseguir!
Devias escrever um livro destas tuas jornadas.
ResponderEliminarTambém fazes um diário?
tens facilidade na escrita e sentimentos bem como histórias não te faltam.
Pensa nisso.
Comovi-me com a tua partilha.
Beijinho e boa semana.
LINDOOOO
ResponderEliminarbjs*
gostei muito do que li, obrigada por este bocadinho! segui, óbvio!
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