Faltava pouco mais de um mês para partirmos para O Caminho, este foi o primeiro e único teste que fizemos aos alforges. Reservamos hotel no Gerês e de manhã bem cedo partimos para voltar só no dia seguinte a casa. Ao planear a viagem não pensamos muito no acumulado de subida e na dificuldade, mas o acumulado de subida era imenso e a dificuldade uma das maiores que já senti na vida. Aliado a isto estava um calor insuportável e a certa altura ficamos sem bebida nem comida e desesperados. Lembro-me de uma subida que nunca mais acabava, lembro-me de um calor que não me deixava respirar, lembro-me que no GPS faltava ainda muitos km para chegarmos à primeira paragem na civilização e da minha amiga se lembrar que tinha uma laranja na mochila, dividimos uma laranja por quatro e acho que nunca mais na vida, nenhum de nós se vai esquecer daquela laranja. As dificuldades continuaram e só chegamos ao restaurante já passava das quatro da tarde, tínhamos reservado para a uma e o filho da dona disse-nos de imediato que já não nos serviam, que agora tinham na sala um baptizado e que não podiam. Mandamos chamar a mãe dele e dissemos-lhe que ou nos dava de comer ou morríamos ali os quatro e a senhora que não quis ser responsável por quatro mortes lá nos sentou ao lado dos convidados de gravata e vestidos de gala. No final da refeição, cientes de que nos faltava ainda muito para chegar ao hotel e poder descansar, aproveitamos os minutos do meu colega fotografar todas as portas, janelas, flores, pedras e tudo o mais o que possam imaginar para dar uns beijinhos, só que o meu colega fotografa mesmo tudo o que possam imaginar, até os nossos beijinhos.
Esta será provavelmente a única foto planeada por mim que tenho. Uns tempos antes, num passeio, eu e o Moreno vínhamos a pedalar assim, de mão dada, e o meu colega, aquele que tira foto a tudo o que possam imaginar, fotografou esse momento, mas a foto saiu mal e eu idealizei a partir dali a foto que queria para mim. Naquele dia, no Caminho, quando vi aquele interminável cenário achei que seria ali, só tive de pedir a mão ao Moreno e esperar que o meu colega cumprisse a parte dele e que não deixasse escapar o momento. Sem dúvida, por tudo o que representa para mim esta é uma das fotos da minha vida.
Num parque, em mais um fim de semana a pedalar, enquanto esperávamos que o meu colega tirasse fotos aos patos, às pontes, à relva, à água e a tudo o mais que possam imaginar, eu e o Moreno ficamos sentados num banco de jardim a trocar confidências. A foto, essa, o meu colega só a mostrou mais de meio ano depois daquele dia, não fazia a mais pequena ideia de que existia e apaixonei-me por ela de imediato.
Mas onde está essa famosa foto?
ResponderEliminarCertos caminhos do Gerês são intermináveis... Por isso, não me admira nada de terem chegado ao restaurante tão tarde e mortos de fome...
Bom domingo e boa semana, querida amiga.
Beijo.