No último albergue em que fiquei, no meu Caminho solitário, estava uma senhora com o marido e um casal de amigos, à noite estavam a jantar dentro do albergue enquanto eu e os outros estávamos no jardim, só se juntaram a nós para beber la queimada antes de irmos dormir, mas de manhã, antes de partirmos, tomamos juntas o pequeno-almoço. Ela fazia-me imensas perguntas e queria saber tudo sobre mim, sobre a minha bicicleta e as minhas aventuras, rimos bastante e contamos histórias, era o meu sétimo Caminho e ela percebeu que eu tinha imenso para contar, falei-lhe do Caminho Francês, de como todos os Caminhos são diferentes, falei-lhe dos rapazes, falei-lhe de pessoas que conheci e de histórias que ouvi e vivi, falei de tanta coisa, apesar de termos pouquíssimo tempo. Quando chegou a hora de dizermos adeus ela abraçou-me a chorar, disse-me que o que mais precisava era fazer aquilo sozinha e que depois daquele bocadinho comigo tinha a certeza absoluta de que o iria fazer. Depois fez-me uma meiguice no rosto e agradeceu-me, não sei porquê. Como não sei porque é que a imagem dela não me sai da cabeça e é sempre a primeira pessoa que penso quando me lembro do meu Caminho. Não lhe perguntei o nome, nem de que zona de Espanha é, assim como ela não me perguntou o meu nome, a minha profissão, o local onde vivo, tínhamos muito mais a transmitir uma à outra. Por isso penso no rosto dela, nos olhos, no sorriso, nas lágrimas, nas mãos e na meiguice delas no meu rosto como "A" história do Caminho, o momento que me fez chegar a Santiago, nesse mesmo dia, com um sorriso ainda maior no rosto e com o coração ainda mais cheio.
São momentos como estes que nos fazem sentir tão especiais, tão ricas, tão pequenas e ao mesmo tempo tão grandes :)
ResponderEliminarInesquecível... :-)
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