quinta-feira, 31 de março de 2016

Isto não é uma forma de pressão. Não, nem pensar. Nunca na vida faria uma coisa dessas.

Era domingo, estava um belo dia de sol, que anunciava a beleza da Primavera, os passarinhos cantavam, as montanhas estavam felizes e foi a última vez que andei na minha velhinha bicicleta. Ao Senhor que mora lá em casa não lhe apeteceu pedalar, queria dormir, por isso fui eu com os rapazes e andamos toda a manhã em fantásticos trilhos. Lembro-me perfeitamente de cada pormenor desse dia, cheguei cedo a casa, porque íamos almoçar a casa do Zé, abri a porta ainda com a bicicleta às costas e nesse exacto momento ouvi um estrondo tão grande que juro que pensei que o prédio estava a cair. Ainda ofegante de carregar a bicicleta escadas acima encostei-a como pude e corri em direcção ao barulho, que era na minha casa de banho. No chão jazia o meu lavatório, completamente estilhaçado enquanto o Senhor que mora lá em casa olhava para ele, incrédulo. 
Vamos agora tentar visualizar a cena. Senhor que mora lá em casa, todo nu, super sexy, a fazer a barba com a mão direita e com a esquerda apoiada no lavatório. Senhor que mora lá em casa, e ao qual estou farta de avisar para ter certos cuidados, porque não tem a mais pequena noção da força que tem. Senhor que mora lá em casa consegue partir o lavatório a meio e espatifar a metade que caiu ao chão.
Digamos agora que isto já foi há algum tempo e que o lavatório continua partido, porque o Senhor que mora lá em casa ainda não teve tempo para o trocar. Digamos que eu ando a correr de uma casa de banho para a outra porque não tenho lavatório na minha. Digamos que tenho de me maquilhar numa casa de banho e ir a correr à outra para lavar as mãos. Digamos que aquilo fica feio que dói. Digamos que qualquer dia ainda alguém se pode magoar. Digamos que eu queria mesmo um lavatório novo.
Durante este tempo lembrei algumas vezes (poucas, não sou uma chata do pior) amigavelmente o Senhor que mora lá em casa que preciso desesperadamente de um lavatório novo e ele disse que sim, que ia colocar um lavatório novo. Durante este tempo só me passei uma vez (TPM, não liguem) da cabeça porque queria desesperadamente um lavatório novo e como estávamos a limpar ele disse que sim, que eu ia ter um lavatório novo e que não percebia a minha irritação, porque quando o tivesse era mais uma coisa para limparmos. Durante este tempo já tivemos hóspedes lá em casa e eu coloquei uma lista no frigorífico com as coisas que precisávamos fazer e comprar, as outras coisas da lista ficaram todas picadas, o "arranjar um lavatório novo" tinha à frente um, "em fase de planeamento". 
Digamos que o facebook, que é super nosso amigo, agora nos mostra as nossas memórias, e que um dia destes me espetou na cara com a fotografia que eu publiquei com os rapazes naquele dia, antes de chegar a casa e o meu lavatório falecer às mãos do Senhor que mora lá em casa.
A culpa deste post é do facebook, não é minha amor. O facebook é que perguntou "Vera, lembra-se deste dia? Já foi há um ano". Um ano amor, um ano e eu sem o meu lavatório. Isto não é uma forma de pressão. Não, nem pensar. Nunca na vida faria uma coisa dessas. Eu sei que quando dizes que vais arranjar uma coisa, é porque vais arranjar, e que eu nem preciso de te lembrar de meio em meio ano. 

quarta-feira, 30 de março de 2016

Ainda não parti, mas já estou em viagem

As viagens não começam no dia da partida, não começam à porta de casa, na hora de sair, não começam na véspera, quando temos finalmente tudo pronto, não começam uns dias antes, quando estamos a tratar dos últimos pormenores. As viagens começam no dia em que as começamos a sonhar, no dia em que as começamos a planear. As viagens começam em cada detalhe, em cada pessoa, em cada dia, em cada treino, em cada conversa, em cada nova informação, em cada troca de correspondência, em cada análise aos mapas e às altimetrias, em cada decisão, em cada incerteza, em cada gargalhada, em cada receio, em cada coragem. As viagens começam sempre muito antes de partir, e eu sinto a próxima viagem cada vez mais. Ainda não parti, mas já estou em viagem. Que sensação fantástica. 

Loiretes ao poder - 16

Melhor que apresentar-vos uma Loirete só mesmo apresentar-vos duas. Esta é a  Marta, a Loirete n.º 14, que além de ser super gira é super divertida. Tanto que foi para a rua animar a Páscoa das pessoas e nos mandou a foto. Marta, és uma Loirete e uma coelhinha giríssima, obrigada.



terça-feira, 29 de março de 2016

Loiretes ao poder - 15

Que saudades eu tinha de vos mostrar uma Loirete. Que saudades de apresentar ao mundo as miúdas giras que pedalam por esse Portugal fora de meias espampanantes até ao joelho. Esta é a Loirete n.º 13 e como podem ver é mais uma Loirete giríssima e cheia de estilo, quem a converteu foi a Ana, que é a Loirete n.º 5, e o namorado. Pessoas, esta é a Chow. Chow, estas são as pessoas.


quinta-feira, 24 de março de 2016

quarta-feira, 23 de março de 2016

As meias do dia #8


Bolas e bolinhas

segunda-feira, 21 de março de 2016

Duplicar sentimentos

Aventurei-me mais uma vez pela montanha durante a noite, há muito tempo que não o fazia. À noite os mistérios da montanha tornam-se ainda mais misteriosos, as surpresas das descidas e das subidas tornam-se ainda mais surpreendentes, os sons da montanha são mais nítidos e mais admiráveis. O facto de só conseguirmos ver uns metros à nossa frente faz-nos sentir superiores, vencedores, sem limites. As sensações de solidão e de liberdade são tão intensas que nos fazem alucinar. À noite o perigo e o risco são maiores, tal como a sensação de que podemos tudo. À noite as aventuras são tão emocionantes e tão apaixonantes que não há como não parar por um pouco para tentar absorver o momento.

sexta-feira, 18 de março de 2016

No fundo, bem lá no fundo, sou uma romântica

Olho pela janela, suspiro. Penso nas coisas boas da vida e quase acho que a chuva é maravilhosa. Suspiro outra vez e penso escrever um post de pura felicidade e motivação. Suspiro mais uma vez, puta de sorte, parece que este fim de semana vou ter outra vez montes de roupa com lama para lavar. 

quinta-feira, 17 de março de 2016

Os meus livros #19 - Esse cabelo

Sinopse

O que se passa por dentro das cabeças é mais importante do que o que se passa por fora? Falar de cabelos é sempre uma futilidade? Não necessariamente, até porque, segundo a narradora deste texto belo e contundente, «escrever parece-se com pentear uma cabeleira em descanso num busto de esferovite» e visitar salões é uma boa forma de conhecer países, de aprender a distinguir modos e feições e até de detectar preconceitos. Esta é a história de uma menina que aterrou despenteada aos três anos em Lisboa, vinda de Luanda, e das suas memórias privadas ao longo do tempo, porque não somos sempre iguais aos nossos retratos de infância; mas é também a história das origens do seu cabelo crespo, cruzamento das vidas de um comerciante português no Congo, de um pescador albino de M’banza Kongo, de católicas anciãs de Seia, de cristãos-novos maçons de Castelo Branco - uma família que descreveu o caminho entre Portugal e Angola ao longo de quatro gerações com um à-vontade de passageiro frequente. E, assim, ao acompanharmos as aventuras deste cabelo crespo - curto, comprido, amado, odiado, tantas vezes esquecido ou confundido com o abismo mental -, é também à história indirecta da relação entre vários continentes - a uma geopolítica - que inequivocamente assistimos.



Depois de ler as notícias e as muitas críticas em relação a este livro fiquei muito curiosa e ansiosa por o ler, mas não me consegui identificar com ele. A escrita passa tantas vezes do passado para o presente, da realidade para o ensaio, que me foi difícil concentrar e acompanhar o raciocínio da autora. Ainda assim, gostei muito da comparação entre escrever e pentear e diverti-me ao tentar imaginar os vários penteados e as situações narradas nos salões de cabeleireiras. 

Os meus livros #18 - Ensaio sobre a Lucidez


Sinopse
Num país indeterminado decorre, com toda a normalidade, um processo eleitoral. No final do dia, contados os votos, verifica-se que na capital cerca de 70% dos eleitores votaram em branco. Repetidas as eleições no domingo seguinte, o número de votos brancos ultrapassa os 80%. Receoso e desconfiado, o governo, em vez de se interrogar sobre os motivos que terão os eleitores para votar em branco, decide desencadear uma vasta operação policial para descobrir qual o foco infeccioso que está a minar a sua base política e eliminá-lo. E é assim que se desencadeia um processo de ruptura violenta entre o poder político e o povo, cujos interesses aquele deve supostamente servir e não afrontar.


Ensaio sobre a Cegueira é um dos livros da minha vida e depois de alguém me dizer que Ensaio sobre a Lucidez era ainda melhor não descansei enquanto não o tive e não o li. Mas não, o Ensaio sobre a Lucidez remete para o Ensaio sobre a Cegueira, não só no título como na narrativa, indo buscar as personagens e as situações, é muito bom, mas não se pode comprar com o Ensaio sobre a Cegueira, que me tocou profundamente, que me mudou, que me fez ter terríveis pesadelos enquanto o estava a ler, que me mexeu com as entranhas. Ensaio sobre a Lucidez é, acima de tudo, um livro que nos faz pensar.

Os meus livros #17 - Irei cuspir-vos nos túmulos


Sinopse

"Aqui, os nossos bem conhecidos moralistas censurarão a certas páginas o seu... excessivo realismo. Parece-nos interessante sublinhar a diferença fundamental que existe entre estas e as narrativas de Miller; seja em que circunstâncias for, este não hesita em recorrer ao vocabulário mais explícito; contrariamente, parece que Sullivan procura mais sugerir por meio de expressões e construções que pelo uso do termo cru; neste aspecto, aproximar-se-ia sobretudo de uma tradição erótica mais latina." (Do Prefácio)





Sobre a discriminação. Meio louco, meio pornográfico, completamente viciante e com um tipo de escrita fascinante.

Os meus livros #16 - Onde moram as Sombras



Sinopse

Um manuscrito contendo uma saga sobre um anel com um terrível poder está na posse de uma família há quase oitocentos anos. Este manuscrito terá servido de inspiração a Tolkien para escrever O Senhor dos Anéis, e só este facto já seria suficiente para que muitas pessoas se sentissem tentadas a tudo para o obterem. Mas também seriam capazes de matar? Um thriller repleto de ritmo e surpresas que constituirá uma leitura indispensável para os apreciadores de suspense.



Os policiais são óptimos companheiros para dias de cansaço. Embora este livro roce um bocadinho para a fantasia e eu não goste disso, as partes reais, as personagens e o suspense compensam. Além de que, é uma óptima viagem à Islândia.

quarta-feira, 16 de março de 2016

Nunca tive uma Barbie

A Sandrina só fazia asneiras, contava todos os nossos segredos e de tempos a tempos punha-se a gritar que não era nada daquilo que queria, o que queria mesmo e a sério era ter uma pila. A Milene só nos fazia partidas estúpidas e perigosas, esperava que fizéssemos o pino para nos dar um pontapé no braço, ou empurrava uma de nós do muro alto. As outras lutavam pelo mesmo rapaz, o vizinho da frente, enquanto se sentavam na máquina de costura da minha tia a fazer roupas para as Barbies e ora discutiam por pedaços minúsculos de tecido, ora contavam como o David passou e olhou para uma delas de uma forma muito especial ou disse olá à outra e sorriu, que sorriso tinha o David, segundo elas. Eu sentava-me junto delas a ler o mesmo livro pela milésima vez ou a passar faturas no livro do meu pai. Ao final do dia elas pediam mais bocadinhos de tecidos e eu pedia um diário ou mais um caderno. Nunca tive uma Barbie, porque nunca quis uma. 

terça-feira, 15 de março de 2016

Vou sempre com demasiada sede ao pote

Estou sempre com sede e tento matá-la com toda a ganância do mundo. Sinto uma secura indescritível, uma vontade incontrolável. Às vezes entorno a bebida, molho o que não devo, quase me afogo ao derramar o tão esperado líquido. Bebo como quem está perdido no deserto há dias e consegue água pela primeira vez. Bebo como quem se excedeu mortalmente no salgado. Absorvo, consumo, trago, engulo, sugo para dentro de mim como se estivesse prestes a ficar desidratada. Não sei beber de outra forma, não sei ser diferente. Bebo os bocados de vida com um desejo ardente que nunca consigo tranquilizar.

segunda-feira, 14 de março de 2016

Quanto tempo útil de vida é que uma gaja perde com isto?

Água micelar, tónico, leite de limpeza, creme, primer, base, corrector, pó compacto de cor, pó compacto transparente, hidratante para os lábios, batom, lápis de olhos, sombra e rímel para uma limpeza e hidratação ideal e uma maquilhagem simples. Todas as manhãs. Toalhitas desmaquilhantes, desmaquilhante de rosto, desmaquilhante de olhos, água micelar, tónico, leite de limpeza, sérum, creme e hidratante de lábios, para uma limpeza e hidratação ideal. Todas as noites.
Quanto tempo útil de vida é que uma gaja perde com isto? Pior. Quantas toneladas de discos de limpeza é que uma gaja desperdiça com isto ao longo da vida? 

sexta-feira, 11 de março de 2016

quinta-feira, 10 de março de 2016

Atrás de uma grande fotografia, está sempre uma grande história #2


No último verão fui passar uma semana com a Su, sem planear absolutamente nada, um dia estávamos a queixar-nos, eu, que tinha de ir trabalhar no meu primeiro dia de férias e que nos outros estava completamente sozinha e ela, que lhe tinham alterado as férias e que estava completamente sozinha. E quando é que ela entrava de férias afinal? Exactamente no mesmo dia que eu. Então vem cá, não, então vem cá tu, vamos para Quiaios ser felizes. E dois ou três dias depois lá fui eu.
E foi assim que no meu primeiro dia de férias estava a sair de casa às cinco e meia da manhã, com uma grande mochila às costas, pronta para pedalar até ao comboio, pronta para apanhar três comboios até Coimbra, e pronta para aí encontrar a Su e pedalar com ela até Quiaios.
Podia contar sobre esses dias mil história, mas hoje vou só falar de um dia em que fomos pedalar até às lagoas. Duas ou três semanas antes a Su tinha pedalado sozinha até Santiago de Compostela, na semana seguinte era a minha vez de fazer O Caminho solitário. Quando chegamos às lagoas estavam algumas pessoas já com uma certa idade, fui pedir para nos tirarem fotografias, o senhor não sabia trabalhar com o tablet, mas eu lá lhe consegui explicar, falei-lhe no enquadramento perfeito, posicionei o tablet e disse-lhe para não mexer muito, só clicar no sítio certo, disse-lhe para tirar várias, alguma havia de ficar bem. Por acaso ficaram todas bem, mas isso não foi a parte importante da história. O grupo de pessoas estava de partida, o local iria ficar completamente deserto, e foi então que o senhor que nos tinha fotografado nos veio perguntar se não tínhamos medo de ficar sozinhas. Agradecemos e dissemos que não, de maneira nenhuma, andávamos as duas há dias a pedalar e a subir montanhas, a Su já tinha feito a sua viagem solitária e eu ia fazê-la já daqui a alguns dias, estamos habituadas a pedalar sozinhas para todo o lado, mas neste caso, nem sequer estávamos sozinhas, éramos duas. Nunca mais me lembrei disto, tenho a certeza que a Su também não, a pergunta do senhor escapou-se das nossas mentes de imediato. Até um destes dias, quando percebi que, naquele dia eu e a Su ainda não sabíamos, mas mesmo quando estamos sozinhas, nunca estamos completamente sozinhas. 

Wook, detesto-te

Sem contar com duas colecções que comprei há uns anos, uma de policiais e outra de literatura portuguesa, que comprei para ir lendo entre livros ou quando não tivesse mais nada para ler, tenho em casa 45 livros para ler a seguir. Contei-os ontem à noite. Eu sou fraca, eu não resisto a livros, toda a gente sabe disso, e o que é que a Wook faz? Aproveita-se desta minha fraqueza para me espetar todas as semanas com promoções, com saldos, com descontos no nariz. Loira, compra 3 livros de bolso e só pagas 2. Loira, 40% de desconto naqueles policiais que adoraste. Loira, 10% de desconto em todos os livros. Loira, promoções num autor que tu gostas muito. Loira, pré-lançamento do livro que tanto esperas. E eu? Eu sou fraca, já disse isso ali em cima, eu não resisto, eu tenho uma lista interminável de livros que quero comprar, que tenho de comprar, sem os quais não posso viver. E compro. Compro, compro, compro. Ainda há uns dias atrás dizia para mim mesma que não comprava mais livros até ler pelo menos metade daqueles que tenho em casa e esta semana a Wook voltou a tramar-me. Compra Loira, compra, olha que baratinhos ficam aqueles livros que é urgente leres com os 20% de desconto e os portes grátis que temos para ti. Compra. E eu? Comprei, claro. Não comprei 1, nem 2, nem 3, comprei mais 6 livros. Maldita Wook, detesto-te.

quarta-feira, 9 de março de 2016

A Chefe

Em 2014, depois de um ano antes ter pedalado em autonomia 1000 Km do Caminho Francês de Santiago, e quase por obra do acaso, organizei e parti para mais um Caminho, desta vez eu e mais 4 rapazes. Nada de novo à primeira vista, faço pelo menos uma vez por ano um Caminho, mas desta vez teve algo de diferente, esta viagem veio marcar uma viragem na nossa relação e no nosso grupo. A partir dali comecei a ser A Chefe, segundo eles. Já o ano passado passei a ser a Branca de Neve, depois de uma viagem sozinha com 7 rapazes, os anões. Eu organizo as viagens, os treinos, mando mensagem a todos a avisar da hora e do local das pedaladas, tento convencer os mais preguiçosos a aparecer e tento que o grupo se mantenha unido. Não me considero Chefe de nada e acho aquilo uma brincadeira, mas a verdade é que nos momentos de indecisão os vejo todos a olhar para mim, com cara de miúdos e à espera que eu diga algo que ajude. Nestes dois anos mais pessoas se foram juntando ao nosso grupo e as viagens que organizo têm cada vez mais pessoas, quase todos a reclamar comigo, porque saímos atrasados, porque marquei uma hora muito cedo, porque queriam dormir mais, porque são muitos km para pedalar, porque o trajecto tem muitas subidas, porque têm fome, porque têm sede, porque estão cansados, porque tudo. Eu brinco e digo que criei um grupo de sindicalistas e de revolucionários enquanto peço ajuda aos que alinham sempre nas minhas loucuras. Somos acima de tudo um grupo de amigos que se diverte muito.
Este ano juntou-se ao nosso grupo um senhor bastante mais velho que todos nós e não posso deixar de olhar para ele com admiração e orgulho. Cai de cada vez que vamos pedalar, cai até mais que uma vez, levanta-se e segue caminho sem se queixar de nada. Pede opinião e aceita que tentemos ensinar sempre algo. Às mensagens para as pedaladas responde sempre com um sim, faça sol, faça chuva, faça vento ou faça neve. Nunca desiste e quando ouviu falar nas viagens deste ano comprou um alforge, encheu-o de sacos de arroz e foi para o monte treinar o equilíbrio. Continua a dizer "Uiiiii" sempre que vê uma pedra ou um buraco mas arrisca, arrisca sempre e é um exemplo para todos nós. Um destes dias, depois de ler os mails que eu tinha enviado com as informações das viagens, mandou-me uma mensagem que dizia só: "Verinha li os seus mails, vou e concordo com tudo". E isto, parecendo que não, é bem capaz de ser o acto com mais coragem que eu vi nos últimos anos. 

terça-feira, 8 de março de 2016

Uma atracção física

Não é só gostar de ler e gostar de livros, é uma paixão também física, é algo palpável, é olhar para eles com carinho e com amor, é cheirar as páginas como quem não pode viver sem isso, é admirar as estantes e orgulhar-me de cada um deles, é querer sempre mais e mais, é levar um, dois, os que forem possíveis, para todo o lado, é sentir-me vazia se não tiver um livro comigo, é fechar pela última vez as páginas, depois de acabar uma história e suspirar de emoção, às vezes é abraçar, às vezes é ficar a pensar nele durante dias e dias, às vezes é chorar, é não conseguir abdicar de nenhum deles, é mudar constantemente algo dentro de mim, porque cada livro é único, é despedir-me deles antes de os colocar na estante, já com saudades. 

segunda-feira, 7 de março de 2016

Este Blog dá-me energia

Ter um Blog nem sempre é fácil, manter um Blog pode ser muito complicado. A vida passa demasiado depressa e nem sempre é fácil arranjar tempo para alimentar este espaço em branco, nem sempre é fácil arranjar inspiração e motivação para escrever, nem sempre temos paciência para continuar com isto. Acho que já disse e escrevi sobre o assunto imensas vezes, é a pura verdade, há sempre os dias em que apetece apagar tudo e seguir em frente sem o Blog, apesar da paixão.
Mas isto não é só um Blog, ao contrário do que muitos pensam e afirmam. Para começar isto é uma forma de vida, porque é necessário olhar para o mundo e vê-lo com olhos de quem vai escrever sobre ele, é preciso arranjar forma de descrever situações, histórias, minutos, sentimentos, é preciso conseguir conjugar frases e esconder nas entrelinhas aquilo de que não queremos falar directamente, é preciso expor uma parte de nós em cada texto, é preciso ver sempre algo mais, algo que vale a pena passar para o outro lado do ecrã, lá onde há as pessoas. Sim, as pessoas são as culpadas, são as responsáveis, são as que fazem com que isto não seja só um Blog, são as que me sugerem livros, as que perguntam que livro devem ler a seguir, são as que lêem algo e se lembram de mim, são as que acompanham as minhas viagens, são as que pedalam de meias espampanantes e até ao joelho espalhadas um pouco por todo o país, são as que perguntam que bicicleta hão-de comprar, são as que pedem tracks de GPS para vir pedalar para o meu norte, são as que agradecem sem eu saber porquê, são as que mandam mensagem quando já não escrevo há uns dias a dizer um "volta ao Blog, por favor", são as que mandam artigos de algo que eu gosto, são as que me pedem para comprar um livro que não está à venda no país delas, são as que me mandam livros, são as que me reconhecem, são as que me aparecem numa maratona a chamar pelo nosso nome e a dar uma força extra, são as que fazem imagens para o Blog, são as que contam histórias porque me conhecem tão bem por aquilo que lêem aqui, são as que me pedem ajuda para ir caminhar até Santiago, são as que me mandam marcadores de livros de sítios fantásticos, são as que me emocionam e que me dizem que as inspiro. O que elas provavelmente não sabem é que na maioria das vezes, elas é que me inspiram a mim. Elas é que fazem valer a pena falar sobre os livros que leio, elas é que tornam as minhas meias mais bonitas e mais especiais, elas é que tornam as minhas viagens e as minhas aventuras mais interessantes, elas é que percebem as minhas parvoíces e as minhas piadas parvas, elas é que fazem com que escrever seja tão fantástico, porque elas estão lá e isso faz com que a paixão desperte de cada vez que adormece.
Este Blog já me deu mais a mim do que aquilo que eu lhe dei a ele. E hoje deu-me energia extra em forma de pastéis de feijão de Torres Vedras e através de uma pessoa muito especial. Quando comer um destes vou subir as minhas montanhas com uma força e uma motivação suplementar. Obrigada pessoas. Obrigada por isto e por tudo. 

sexta-feira, 4 de março de 2016

Pura poesia

Pedalar são as minhas asas.

Há muitos, muitos anos...

Quando eu trabalhava numa empresa praticamente falida, quando eu não tinha autonomia para tomar certas decisões, e por fim, quando o meu chefe era um grandessíssimo parvalhão, recebi uma chamada de um pequeno fornecedor de serviços prestados a pedir-me um pagamento uns dias adiantado. Eu estava habituada a ver aquele senhor pela empresa, fazia tudo o que lhe pedíamos, vinha buscar a matéria-prima, vinha entregar a mercadoria transformada, nunca se recusava a nada, era um senhor já idoso, muito baixinho, muito magrinho, muito simpático e carinhoso para todos. O senhor pediu-me a chorar para lhe pagar o valor que lhe era devido uns dias mais cedo porque tinha recebido um aviso e iam cortar-lhe a electricidade da pequena empresa. Eu verifiquei contas correntes, eu refiz a tesouraria do mês, eu provei que podíamos fazê-lo e fui falar com o meu chefe. Ele olhou-me com ar incrédulo e perguntou-me se eu tinha verificado se havia alguma produção nossa em curso na empresa do tal senhor, eu tinha verificado e não, naquele dia o senhor não estava a trabalhar para nós, o meu chefe fez um ar grave e disse-me que não entendia a minha preocupação no corte de energia eléctrica na empresa do senhor, se ele não estava a trabalhar para nós nem sequer ia atrasar nenhuma das nossas produções.
Trabalhar numa empresa falida, não ter autonomia para tomar certas decisões sozinha e ter um chefe que é um grandessíssimo parvalhão não foi fácil, naquele tempo, há muitos anos atrás, passei dias muito complicados, mas este dia, o dia em que me quiseram fazer acreditar que não tinha que me preocupar com uma pessoa e só tinha que pensar em números, foi talvez o mais difícil de sempre. Senti-me mal, muito mal, senti-me inútil e senti que nunca seria uma boa profissional, porque nunca conseguiria ser tão fria ao ponto de pensar assim, lembro-me de ter ido para casa a chorar.
Hoje em dia trabalho em tempos difíceis numa empresa saudável, que pode ser afectada a qualquer momento, como todas as outras, se aquele senhor me ligasse hoje eu não teria que consultar ninguém, a decisão era minha e estava tomada sem qualquer tipo de dúvida. Felizmente a vida provou-me que naquele dia quem estava certa era eu, que os números são importante, mas as pessoas são mais. Felizmente hoje não preciso passar por isso, mas ainda assim continuo a lembrar-me muitas vezes daquele senhor simpático e franzino, que me ligou há muitos anos a chorar, porque à custa dele aprendi muitas coisas.

quinta-feira, 3 de março de 2016

Os meus livros #15 - Se isto é um Homem

Sinopse
Na noite de 13 de Dezembro de 1943, Primo Levi, um jovem químico membro da resistência, é detido pelas forças alemãs. Tendo confessado a sua ascendência judaica, é deportado para Auschwitz em Fevereiro do ano seguinte; aí permanecerá até finais de Janeiro de 1945, quando o campo é finalmente libertado. Da experiência no campo nasce o escritor que neste livro relata, sem nunca ceder à tentação do melodrama e mantendo-se sempre dentro dos limites da mais rigorosa objectividade, a vida no Lager e a luta pela sobrevivência num meio em que o homem já nada conta. Se Isto é um Homem tornou-se rapidamente um clássico da literatura italiana e é, sem qualquer dúvida, um dos livros mais importantes da vastíssima produção literária sobre as perseguições nazis aos judeus.


Sim, tal como nos conta a sinopse, este foi para mim um dos melhores livros que li sobre os campos de concentração nazi, e já li imensos, parece que é um assunto que nunca se esgota para mim e que em cada livro descubro algo novo, ainda mais horrível. O autor conta-nos a sua história de uma forma presente e sentida mas também distante e objectiva e nós vivemos os seus dias como se lá estivéssemos e percebendo a fragilidade física e a grandeza psicológica do ser humano, ao arranjar forma de sobreviver, ter vontade de lutar, adaptar-se a uma forma de vida nunca antes pensada e ainda assim ter momentos de sonho num futuro. Este livro é de facto aterrador e motivador. Há quem tenha sobrevivido e ainda possa contar a história, desta forma sublime, só assim é que hoje em dia podemos ter consciência daquilo que aconteceu e talvez não deixar que se repita. Talvez.

Os meus livros #14 - A minha pequena Livraria

Sinopse
Wendy e Jack sempre sonharam ter uma livraria, por isso, quando trocaram os exigentes empregos por uma vida mais simples numa cidade mineira no interior dos Estados Unidos, aproveitaram uma inesperada oportunidade de perseguir esse sonho. E conseguiram. Contra todas as probabilidades, mas com muita determinação, otimismo, perseverança e um amor incondicional pelos livros, mais do que estabelecer um negócio, o casal consegue criar uma comunidade em torno da sua livraria.





Este livro foi uma prenda de aniversário muito especial e assim que o recebi peguei logo nele. Ter uma pequena livraria de bairro é um daqueles sonhos que sempre tive e que acho que todos os apaixonados por livros têm. Ler este relato e perceber como funcionam as livrarias, saber pormenores práticos e imaginar aquele espaço foi muito bom para mim. Ler sobre livros é sempre uma descoberta.

Os meus livros #13 - A Vidente

Sinopse
«Por todo o mundo, sempre que a Polícia se depara com casos particularmente difíceis, recorre a médiuns e espíritas. No entanto, em nenhum documento figura a colaboração de um médium para a resolução de um crime.»
Flora Hansen diz-se espírita e garante ser capaz de falar com os mortos. Certo dia, ouve na rádio uma notícia sobre o caso de uma jovem assassinada num centro de acolhimento de menores e, na tentativa de ganhar um dinheiro extra, decide telefonar para a Polícia dizendo que o espírito da morta entrou em contacto com ela. No entanto, os resultados da investigação técnica atribuem a autoria do crime a outra das internas, uma jovem sensivelmente da mesma idade, que desde então está a monte.
O comissário da Polícia Joona Linna resiste à versão oficial e inicia uma investigação por sua própria conta. Mas cada nova resposta parece apenas conduzir a um novo enigma e a mais um beco sem saída.
E ninguém se dispõe a ouvir a vidente, embora ela fale com os mortos.


Quando ando mais cansada escolho um policial para ler e este não me desiludiu. Completamente viciante e cheio de surpresas, este é um livro que pode enganar porque nada é o que parece, nem a sinopse. Um óptimo livro para quem gosta de perceber um pouco do psicológico das personagens e para quem gosta de ficar agarrado.

Os meus livros #12 - O Baile

Sinopse
Antoinette tem catorze anos e deseja participar, mesmo que apenas por instantes, no baile que os seus pais, os Kampf, organizaram para ostentar a sua recém-adquirida riqueza. Mas a mãe decide não permitir a presença da filha, cujo corpo e maneiras a envergonham. Desesperada, Antoinette vai vingar-se de um modo tão radical como inesperador."O Baile", um romance de iniciação sobre a adolescência e os seus tormentos, for um dos primeiros livros escritos por Irêne Némirovsky, prematuramente morta em Auschwitz em 1942.Surgida em 1930, a novela, inspirada nas difícieis relações entre a autora e a sua mãe, confirmou uma grande escritora, capaz de descrever a crueldade adolescente, ao mesmo tempo natural e premeditada, marcada pelo humor e ternura.




Tão, mas tão bom. Este livro é a prova de que o tamanho de um livro não se pode medir pelo número de páginas que tem. Veio parar-me às mãos graças a uma promoção, nunca tinha lido nada de Irène Némirovsky, mas já está na minha lista para comprar mais e mais. O Baile foi uma hora muito bem passada.

Os meus livros #11 - A Questão Finkler

Sinopse

VENCEDOR DO MAN BOOKER PRIZE 2010

Divertido, furioso, implacável, este extraordinário romance apresenta um dos mais brilhantes escritores da atualidade no seu melhor.


Julian Treslove está em plena crise de identidade. Ele não tem uma opinião muito concreta sobre a circuncisão, o conflito entre Israel e a Palestina, ou os monumentos ao Holocausto - na verdade, sobre todo e qualquer aspeto da cultura judaica dos nossos dias. Mas o verdadeiro problema com a identidade de Julian é não ser judeu - não que esse pequeno pormenor o impeça de viver obcecado com o judaísmo.

No início do livro Julian, de 49 anos, acaba de sair de um jantar com o seu colega dos tempos de escola Sam Finkler e do antigo professor de ambos, Libor Sevcik. Sam e Libor, ambos judeus, perderam recentemente as suas esposas. O passado de Julian com as mulheres é um pouco diferente: nunca se casou e tem dois filhos adultos que sempre ignorou. No meio dos seus devaneios, enquanto regressa a casa, acaba por ser assaltado por uma mulher que, ao partir, lhe chama Judeu - ou pelo menos foi isso que lhe pareceu ouvir. A partir desse momento, o seu sentido de identidade começará a transformar-se radicalmente...



Julian é completamente obcecado por ter uma mulher, principalmente para que ela morra e ele se possa sentir novamente em solidão, mas uma solidão apaixonante e de amor. Teve muitos casos amorosos ao longo da vida que nunca resultaram porque elas nunca morreram. E tem dois filhos com os quais não tem qualquer tipo de contacto ou intimidade. Depois de um estranho assalto em que uma mulher lhe chama judeu a crise de identidade de Julian torna-se ainda mais visível e é a partir daqui que se desenrola toda a história, é questionada no livro a identidade de um homem como judeu e do povo judeu. Este é um livro cheio de discussões filosóficas e de mensagens escritas nas entrelinhas.

terça-feira, 1 de março de 2016