Era domingo, estava um belo dia de sol, que anunciava a beleza da Primavera, os passarinhos cantavam, as montanhas estavam felizes e foi a última vez que andei na minha velhinha bicicleta. Ao Senhor que mora lá em casa não lhe apeteceu pedalar, queria dormir, por isso fui eu com os rapazes e andamos toda a manhã em fantásticos trilhos. Lembro-me perfeitamente de cada pormenor desse dia, cheguei cedo a casa, porque íamos almoçar a casa do Zé, abri a porta ainda com a bicicleta às costas e nesse exacto momento ouvi um estrondo tão grande que juro que pensei que o prédio estava a cair. Ainda ofegante de carregar a bicicleta escadas acima encostei-a como pude e corri em direcção ao barulho, que era na minha casa de banho. No chão jazia o meu lavatório, completamente estilhaçado enquanto o Senhor que mora lá em casa olhava para ele, incrédulo.
Vamos agora tentar visualizar a cena. Senhor que mora lá em casa, todo nu, super sexy, a fazer a barba com a mão direita e com a esquerda apoiada no lavatório. Senhor que mora lá em casa, e ao qual estou farta de avisar para ter certos cuidados, porque não tem a mais pequena noção da força que tem. Senhor que mora lá em casa consegue partir o lavatório a meio e espatifar a metade que caiu ao chão.
Digamos agora que isto já foi há algum tempo e que o lavatório continua partido, porque o Senhor que mora lá em casa ainda não teve tempo para o trocar. Digamos que eu ando a correr de uma casa de banho para a outra porque não tenho lavatório na minha. Digamos que tenho de me maquilhar numa casa de banho e ir a correr à outra para lavar as mãos. Digamos que aquilo fica feio que dói. Digamos que qualquer dia ainda alguém se pode magoar. Digamos que eu queria mesmo um lavatório novo.
Durante este tempo lembrei algumas vezes (poucas, não sou uma chata do pior) amigavelmente o Senhor que mora lá em casa que preciso desesperadamente de um lavatório novo e ele disse que sim, que ia colocar um lavatório novo. Durante este tempo só me passei uma vez (TPM, não liguem) da cabeça porque queria desesperadamente um lavatório novo e como estávamos a limpar ele disse que sim, que eu ia ter um lavatório novo e que não percebia a minha irritação, porque quando o tivesse era mais uma coisa para limparmos. Durante este tempo já tivemos hóspedes lá em casa e eu coloquei uma lista no frigorífico com as coisas que precisávamos fazer e comprar, as outras coisas da lista ficaram todas picadas, o "arranjar um lavatório novo" tinha à frente um, "em fase de planeamento".
Digamos que o facebook, que é super nosso amigo, agora nos mostra as nossas memórias, e que um dia destes me espetou na cara com a fotografia que eu publiquei com os rapazes naquele dia, antes de chegar a casa e o meu lavatório falecer às mãos do Senhor que mora lá em casa.
A culpa deste post é do facebook, não é minha amor. O facebook é que perguntou "Vera, lembra-se deste dia? Já foi há um ano". Um ano amor, um ano e eu sem o meu lavatório. Isto não é uma forma de pressão. Não, nem pensar. Nunca na vida faria uma coisa dessas. Eu sei que quando dizes que vais arranjar uma coisa, é porque vais arranjar, e que eu nem preciso de te lembrar de meio em meio ano.