sexta-feira, 30 de agosto de 2013

De casa, com amor (dia 14)

Posso descrever-vos O CAMINHO como a vida, cada um percorre-o à sua maneira, à medida que o vamos fazendo vão aparecendo imprevistos, temos de resolvê-los e continuar, uns fazem-no sozinhos, outros com um amor, com um amigo, uns vão em família, com os filhos, em silêncio, em romaria, em meditação, uns fazem o CAMINHO completo, outros vão fazendo por etapas, ao longo dos anos, a cada ano retomam do lugar exacto onde terminaram no ano anterior, por muito sozinho que se vá há um dia em que precisamos de companhia ou ajuda, por muita companhia que tenhamos há um dia em que só queremos percorrer uns km em solidão. Podia contar-vos mil e uma histórias, pessoas que fui encontrando pelo CAMINHO, mas a conclusão que chego é mesmo esta, O CAMINHO é a vida, encontramos todo o tipo de pessoas, hoje, nos últimos km da última etapa partiu mais um suporte de alforge, não podíamos continuar até ao fim, mas desistir também estava fora de questão, a solução parecia fácil, procurar um albergue, deixar as nossas coisas guardadas, continuar O CAMINHO e ao final do dia, já de carro, com a família que nos ia buscar passar por lá para trazer as nossas coisas. Posso dizer-vos que o albergue mais perto que encontramos nos bateu com a porta na cara, no local que supostamente existe para apoiar os peregrinos não havia lugar para uma pequena mala que carregamos numa bicicleta, aquele momento estragou um bocado o meu espírito romântico do CAMINHO e da vida, no segundo albergue que encontramos o rapaz foi tão simpático que se prontificou, caso os nossos planos fossem regressar de comboio ou autocarro a levar-nos as coisas a Finisterra ou a enviar para nossa casa. Felizmente no meu CAMINHO encontrei tantas pessoas boas que as más experiências não são sequer significativas. No CAMINHO, e na vida é assim, quando caminhamos uns km e estamos cheios de fome aparecem caixas cheias de enormes e deliciosas francesas, um bilhete a dizer que cada caixa custa 1 € e o sítio para colocar o dinheiro, cada um escolhe se pega na caixa das framboesas e deixa o dinheiro que custa ou se pega na caixa das framboesas e segue caminho. Eu acredito que O CAMINHO será mais fácil para quem não só paga as framboesas mas  também agradece o facto de alguém as ter colocado lá, no momento em que mais precisava.
Terminou aqui a última etapa, o km 0 é em Finisterra, fiz a travessia dos Pireneus ao cabo que nos leva quase dentro do mar, uma travessia especial, não foi só andar de bicicleta, foi fazer O CAMINHO e cumprir um sonho, ainda tenho muito para absorver, mas acredito que esta viagem me mudou, acho que não serei a mesma depois disto. Espero ainda escrever-vos sobre isto, mais tarde, agora ainda não me sinto capaz.
Terminou aqui a última etapa, SAINT-JEAN-PIED-DE-PORT, SANTIAGO DE COMPOSTELA, FINISTERRA. Percorri desde que saí de casa 988 km, dos quais 922 km de CAMINHO, vou aproveitar estes últimos dias de férias para descansar e para organizar tudo o que deixei pendente, na próxima segunda a vida retoma ao normal e nessa altura espero poder retribuir todo o vosso carinho, já vos disse isto, é estranho, mas sentir o vosso apoio, ler cada comentário e cada incentivo fez toda a diferença. Agradeço-vos. Até já.

Foto do dia:

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

De Vilaserío, com amor (dia 13) - post publicado fora de horas, primeiro dia sem internet

Chegamos a Santiago de Compostela pela manhã, a emoção é indescritível, tiramos as fotografias da praxe, fomos para a fila para ir buscar a merecida Compostela e como havia naquela hora a missa do peregrino com direito a bota fumo assistimos a tudo. Depois de almoço partimos para o final da aventura e uns km depois partiu mais um suporte de um alforge de uma bicicleta, mais uma vez tivemos que nos adaptar às circunstâncias para continuar a viagem. Na hora de almoço tinha reservado um albergue a cerca de 50 km de Finisterra, meta para amanhã, será a última etapa antes do regresso a casa, ao chegar ao albergue alguém chama pelo meu nome bem alto, era um colega nosso que está a caminhar com a namorada, é bom ver alguém conhecido, que percebe as nossas histórias e fala a mesma língua depois de tanto tempo, ao jantar contamos as nossas histórias como se já tivéssemos feito O CAMINHO há meses, ainda não acabou e já temos saudades. Quando começamos a planear parecem-nos tantos dias e agora que está mesmo a acabar parecem-nos tão poucos, se tivesse mais dias de férias voltava para casa de bicicleta. Fica-nos agora um vazio, mas um vazio bom, daqueles que dá vontade de preencher com muito mais. Até amanhã.

Foto do dia:

terça-feira, 27 de agosto de 2013

De San Paio, com amor (dia 12)


Hoje o dia começou bem cedo, estamos a 12 km de Santiago, poderíamos ter chegado lá hoje mas ir à catedral, buscar a Compostela e procurar onde dormir seria complicado, decidimos ficar às portas de Santiago e chegar lá amanhã bem cedo, depois de cumpridas as formalidades seguimos a caminho de Finisterra. O dia ficou marcado pelo facto de queremos ficar em O Pedrouzo, mas passamos por lá tão rápido que nem vimos a localidade. Agora estamos alojados numa casa particular no meio do nada, perto do aeroporto, em vez de ouvir os peregrinos a ressonar oiço os aviões, para jantar tivemos de caminhar cerca de dois km numa espécie de deserto e atravessar uma via circular, voltar não foi nada fácil para as pernas cansadas e pela falta de iluminação. Agora estou a ver o resumo de la vuelta e depois vou dormir, até amanhã. 

Foto do dia:


segunda-feira, 26 de agosto de 2013

De Portomarín, com amor (dia 11)

Mais um dia um pouco complicado com uma avaria grave numa bicicleta que ainda não conseguimos resolver, os planos eram ficar em Palas del Rei e chegar amanhã a Santiago, mas perdemos muito tempo a tentar arranjar a bicicleta e como não conseguimos a tentar descobrir uma oficina onde a pudessem arranjar, não conseguimos, seguimos viagem sem travão da frente numa das bicicletas. Os planos mudaram, em princípio chegaremos quarta de manhã a Santiago a à tarde voltamos a pedalar, seguimos para Finisterra, desde o início que queríamos fazer a travessia completa de Espanha e terminar a viagem no cabo de Finisterra, é lá que está o km 0 do CAMIÑO, como estamos todos bem é lá que vai terminar a nossa aventura. Hoje conheci o Pepito, o cão que alguém pelo caminho ofereceu a um casal de Italianos, agora o Pepito também anda a fazer O CAMIÑO, conheci-o ao almoço e reencontrei-o agora à noite, roubou-me um chinelo e uns carinhos. Portomarín é uma cidade pequena mas muito bonita, quando o rio está baixo pode ver-se às ruínas da antiga cidade que com a construção de uma barragem teve de ser transladada em 1962 para a parte superior. Mais uma vez estou alojada num albergue por isso a luz apaga-se daqui a pouco. Até amanhã.

Foto do dia:

domingo, 25 de agosto de 2013

De Triacastela, com amor (dia 10)

Conforme tínhamos planeado hoje foi um dia com poucos km mas com etapas muito complicadas, subimos ao Cebreiro e depois ao Alto do Poio, o Cebreiro é um lugar lindo a cerca de 1400 mt de altitude, com umas casinhas fantásticas, gostava de voltar cá quando estivesse tudo nevado, não podia era ser a pedalar. Estamos alojados numa casa particular em Triacastela, uma povoação a 133 km de Santiago, quando olho para os mapas e para as altimetrias começo a ficar triste, Santiago está já muito perto, queria mais do CAMIÑO, parece-me que comecei esta aventura ontem e já pedalo durante 10 dias, começo a querer cada vez mais fazê-lo a pé um dia, 31 dias a caminhar de mochila às costas. Vou tentar aproveitar estes últimos km ainda mais. É engraçado que tentei preparar-me fisicamente para isto porque tinha ideia que ia andar sempre muito cansada, achava que ia chegar um dia em que já não poderia sequer olhar para a bicicleta mas aconteceu-me precisamente o contrário, ao final do dia tenho sempre um pouco de sono, as pernas, as costas e o contacto com o selim podem doer um pouco, dependendo das etapas mas quando tomamos um banho e dormimos parece-nos que não se passa nada, acho que o mais difícil é começar, nesta altura era capaz de dar a volta ao mundo em bicicleta. Até amanhã.

Foto do dia:

sábado, 24 de agosto de 2013

De Villafranca del Bierzo, com amor (dia 9)

Mais um dia um pouco complicado, eu já estou muito melhor mas agora foi a vez do meu colega de viagem ficar doente, chego à conclusão que a culpa é da porcaria de comida que os espanhóis comem, ando tão enjoada que já me custa olhar para o menu, apesar de ter de me alimentar bem para continuar a viagem, hoje estamos instalados num hotel e estamos a fazer um piquenique no quarto, acho que é a minha refeição preferida desde que comecei a viagem. Estes pequenos contratempos não têm afectado os km percorridos e mais uma vez chegamos ao destino pensado para hoje, apesar de não ser uma etapa nada fácil, já temos cerca de 630 km no contador. Hoje, ao descer da Cruz de Ferro fiz uma das descidas mais espectaculares de toda a minha vida de BTT, todos os outros ciclistas que vimos lá em cima desceram pela estrada, nós, mais uma vez optamos pelos trilhos, estava tão feliz ao descer todas aquelas pedras que vinha com um grande sorriso no rosto, depois lembrei-me que se caísse a sorrir era bem capaz de partir,os dentes todos e fiz um ar sério, mas só por uns segundos, quando chegamos cá em baixo chegamos também à conclusão que somos uns inconscientes, arriscamos demais ali, uma queda ou uma avaria grave nas bicicletas que estão carregadas com o peso dos alforges poderia afectar a continuação do CAMIÑO. O dia fica também marcado pelo facto de ter encontrado dois homens a fazer o CAMINHO a cavalo, no caminho português já tinha visto, mas aqui, com tantos km não estava à espera de encontrar, eram simpáticos, fiquei a falar com eles um bom bocado. Para amanhã está planeada uma etapa com poucos km mas com um nível de dificuldade muito acima da média. Até amanhã.
Fotos do dia: (hoje o dia merece duas fotos, não consegui escolher só uma)


sexta-feira, 23 de agosto de 2013

De Astorga, com amor (dia 8)

Hoje não foi um dia fácil para mim, fiquei doente durante a noite, o meu estômago é a minha parte fraca e confesso que passar o dia com dores e enjoada mexeu com a minha disposição, apesar disso a meta que tínhamos planeado para hoje foi atingida, espero amanhã já estar melhor. Chegamos cedo a Astorga, preparamos tudo para amanhã, fomos visitar o palácio de Gaudi que é também um museu de arte sacra, divertimo-nos numa festa popular no centro da cidade e depois do jantar fomos a uma benção de peregrinos que me encheu a alma e o coração. Hoje o dia fica marcado pelo facto de ter comprado a minha segunda caderneta, a primeira está totalmente preenchida, quando terminar O CAMIÑO mostro-vos o resultado final. Geograficamente acaba aqui aquilo a que chamam O CAMIÑO da morte e começa aquilo a que chamam O CAMIÑO da vida. Amanhã bem cedo parto para subir à Cruz de Ferro, é lá que vou deixar a pedra que transporto comigo desde casa. Hoje estou contente, o albergue onde vou dormir está cheio de ciclistas com alforges sujos de pó amarelo como os nossos, não é nada normal encontrar tantos ciclistas, vá-se lá estender porquê gosto deles. Até amanhã, agradeço mais uma vez a vossa companhia.


Foto do dia:

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

De Mansilla de Las Mulas, com amor (dia 7)


Hoje, durante a manhã passamos no centro geográfico do CAMIÑO, situado em Sahagún, no final do dia temos no contador 480 km. Em vez de pedalar até León decidimos passar a tarde a descansar numa povoação pequena a alguns km, escrevo duma esplanada de um albergue com um jardim fantástico. Os albergues estão muito bem preparados para nos receber, muito melhor que os hotéis, têm sempre onde guardar as nossas bicicletas, onde lavar e estender a roupa, para ficar cá temos de apresentar a nossa caderneta que prova que estamos a fazer O CAMIÑO, gosto mais de ficar nos albergues também por causa do contacto com os outros peregrinos, nós ficamos a dormir "todos juntos", tomamos banho em balneários algumas vezes comuns, oferecemos e recebemos ajuda, como se fossemos todos da mesma família, aliás, apesar de não falarmos a mesma língua a maior parte das vezes olhamo-nos com compreensão e carinho, todos deixam limpo aquilo que sujaram. Por volta das 22:00 horas a luz desliga-se e durante a madrugada os caminhantes começam a levantar-se e a preparar-se com a luz de uma lanterna, há um respeito incrível entre todos, todos partem em horários diferentes, mas ao reencontrar-se no mesmo dia ou uns dias mais tarde todos se tratam como se fossem amigos de infância. Estou a receber demasiada informação e emoção, talvez por isso não me sinta muito inspirada para escrever, penso que tenho de absorver tudo isto para conseguir descrever-vos algumas coisas, ainda assim, penso que não será fácil.


Foto do dia:

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

De Carrión de Los Condes, com amor (dia 6)

Mais um dia com muitos km, temos no contador o total de 400 km. Está por aqui um calor insuportável, enquanto pedalamos é muito difícil respirar, as etapas são mais rolantes mas muito complicadas. Hoje tenho muito sono e a luz do albergue já desligou, amanhã, se puder, conto-vos como funcionam os albergues e muito mais. Hoje estou num albergue de freiras, vieram apagar as luzes e aconchegar-nos, como se fossemos as crianças delas, não quero correr o risco de desiludir uma delas que passe no corredor e me veja a escrever no tablet.

Foto do dia:

terça-feira, 20 de agosto de 2013

De Burgos, com amor (dia 5)

Hoje compensamos a falta de km dos dias anteriores e pedalamos até Burgos, ainda assim tivemos tempo para tudo, Santo Domingos de la Calzada tem uma das catedrais mais ricas que já vi, perdi-me por lá mais de uma hora, estamos instalados num hotel e amanhã o dia começa com a visita à catedral de Burgos, além de todo o resto a parte cultural do CAMIÑO é mesmo muito interessante. Quando paramos para decidir onde almoçar falou-nos alguém que conheceu a língua materna, depois de uns minutos de conversa descobrimos que é quase nosso vizinho, mas vive cá desde muito pequeno e está a trabalhar numa pequena localidade no meio do nada, ficou mais emocionado que nós, diz que somos os primeiros portugueses que encontra a percorrer O CAMIÑO, apesar de andar por aqui muita gente. Em termos geográficos acabou aqui aquilo a que chamam O Caminho da purificação, agora temos até Astorga O Caminho da morte e depois de Astorga a Santiago O Caminho da vida. Agora vou dormir porque estou muito cansada, já ultrapassamos os 300 km no contador, faltam cerca de 500 km. Até amanhã.

Foto do dia:


segunda-feira, 19 de agosto de 2013

De Azofra, com amor (dia 4)

Hoje não foi um dia fácil, partimos bem cedo de Torres del Río mas pouco tempo depois o suporte do meu alforge partiu definitivamente, por pouco me livrei de uma valente queda porque estava a fazer uma descida de pedras e aquela porcaria meteu-se entre o pneu e o quadro da bicicleta, felizmente consegui controlar a bicicleta e parar antes de cair, depois do susto ainda tive que continuar assim até Logroño. Perdemos mais três horas por lá entre procurar lojas de bicicletas e montar o suporte novo. Hoje tínhamos estipulado como meta Santo Domingo de lá Calzada mas com a confusão da manhã estava a ficar muito tarde e como poderíamos chegar lá e não ter onde pernoitar optamos por ficar numa pequena localidade chamada Azofra. Foi a melhor opção que podíamos ter tomado, a Pilar, que cuida do albergue onde estou agora lavou a nossa roupa na máquina e ainda a secou, deixem-me contar-vos que a roupa é uma preocupação diária, uma vez que só trazemos três mudas, logo depois do banho temos que lavar a roupa à mão e estendê-la, mas no dia seguinte ainda não secou bem e tem de ser transportada no alforge junta com a restante, como podem imaginar não cheiramos propriamente bem. A Pilar lavou e secou a nossa roupa, não cobrou nada por isso, mesmo quando insistimos, entregou-nos uma roupa cheirosa e quentinha com um sorriso e uma frase "quero que todos saiam daqui para continuar O CAMIÑO felizes", só por isso, pela Pilar, agradeço os contratempos de hoje.

Queria falar-vos de sítios por onde passei, não posso deixar de vos falar da etapa Saint-Jean-Pied-de-Port a Roncevalles, subir os Pireneus pelos trilhos é qualquer coisa de espectacular, chegar lá em cima depois de 20 km a subir dos 165 mt aos 1430 é uma das melhores coisas que já fiz, e no fim daquilo 5 km sem parar a descer pedra. Não sei se foi por ser no primeiro dia, se foi por toda a paisagem ou pela dificuldade, mas tenho a sensação que nunca me vou esquecer deste sentimento. Não posso deixar de falar-vos do Alto del Perdón, mais uma subida que não vos consigo descrever para chegar lá em cima e ter uma paisagem de cortar a respiração e uma espécie de obra de arte fantástica, é lá "doide se cruza el Camiño del vento con el d las estrelas". Não posso deixar de vos tentar explicar o que é pedalar, pedalar, pedalar e de repente encontrar uma "Fuente del vino" e sim, é mesmo de vinho a fonte, acreditem que eu provei. Não posso deixar de vos tentar explicar o que é uma subida que nunca mais acaba num calor que mal nos deixa respirar e de repente encontrar uma mina, no meio do nada onde podemos descansar à sombra e beber a água melhor e mais fresca de sempre. Não posso deixar de vos contar de uma capela do século XI, abandonada no meio do nada, só com paredes e um altar cheia de fotos e de mensagens que os peregrinos lá deixam, é indescritível o que se sente ao entrar num sítio assim, tão cheio de tudo. Poderia ficar por aqui toda a noite a falar-vos de coisas que me enchem a alma, mas por hoje é só, até amanhã.


Foto do dia (que não é deste dia porque com a confusão não tirei fotos com o tablet e as da máquina fotográfica só depois de chegar a casa):

domingo, 18 de agosto de 2013

De Torres del Rio, com amor (dia 3)

Estamos a pedalar poucos km por dia, a partir de amanhã vamos tentar pedalar mais, por nós ficavamos por cá um mês mas em Setembro temos de estar a trabalhar. Temos visitado quase todos os monumentos e falado com imensos peregrinos, o que nos faz perder muito tempo mas o que também é bom porque foi com este espírito que viemos. Os caminhos continuam a ser muito técnicos mas gradualmente a paisagem vai mudando de um verde fantástico para um amarelo que nos traz um calor abrasador, é difícil pedalar com este calor, fico com imensa pena dos caminhantes, para eles deve ser muito complicado. Hoje encontramos um português a fazer O Camiño de bicicleta sozinho e mais dois grupos de portugueses caminhantes. Agora vou dormir, ontem ficamos num hotel mas hoje estou num albergue e só por estar acordada já estou a infringir as regras, um dia destes explico-vos como funcionam os albergues. Antes de me despedir quero agradecer cada visita e cada comentário vosso, é difícil explicar mas sabe bem escrever um diário e ter-vos desse lado nesta altura, quando chegar a casa prometo retribuir-vos todo o carinho, já que agora é difícil fazê-lo. Até amanhã, se tiver tempo vou falar-vos dos pontos míticos por onde já passei.

Foto do dia:

sábado, 17 de agosto de 2013

De Puente La Reina, com amor (dia 2)

Depois de resolver o problema técnico do meu alforge partimos para mais um dia de CAMIÑO. As etapas destes primeiros dias são bastante técnicas, com subidas que nunca mais acabam e descidas tão perigosas que nos outros grupos que encontramos de bicicletas, o primeiro são dois pais acompanhados cada um do seu filho, um deles partiu uma peça essencial na bicicleta e no segundo, que são dois amigos, um teve uma queda tão grave que tive que lhe oferecer ajuda sem olhar directamente as feridas.
Hoje almoçamos em Pamplona e demoramo-nos por lá, achamos que é uma cidade que merece ser visitada. Paramos numa loja de bicicletas para fazer umas pequenas afinacões e o dono, que é um revolucionário carimbou as nossas cadernetas com um carimbo ilegal. Adoro.
O dia fica marcado por uma cena que não vou esquecer tão cedo, já a chegar a Pamplona alguém chamou "Vera" bem alto, ficamos todos a tentar perceber quem seria, era um casal que viajou connosco desde o Porto a Saint Jean, nos 4 comboios que apanhamos, com a confusão daquele primeiro dia não chegamos a apresentar-nos mas a mulher lembrava-se de ter lido o meu nome num autocolante que o filho do casal que está comigo fez para colar na minha bicicleta antes da viagem, de repente pareciamos ali amigos de infância que se reencontram depois de longos anos.
Estou impressionada com o número de homenagens que encontramos pelo Camiño a pessoas que morreram enquanto o percorriam, em dois dias contei 4, nunca pensei.
Estou a absorver demasiada informação e emoção, depois conto-vos mais.

Foto do dia:

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

De Zubiri, com amor (dia 1)

Finalmente o dia 1 e com ele o primeiro problema técnico, o suporte do meu alforge começou a ceder a meio do percurso, o que quer dizer que o peso da minha bagagem teve de ser transportado por um dos meus companheiros de viagem (tadinho do meu Moreno). Há imensos peregrinos a fazer O CAMINHO a pé, de bicicleta só encontramos mais um maluco, todos os outros por que passamos vão pela estrada e pelas alternativas, nós vamos fazer até ao fim O CAMINHO original, os trilhos são o nosso terreno natural. Estou num albergue em Zubiri, agora vamos jantar e depois dormir, amanhã temos de nos levantar bem cedo para resolver o problema do meu alforge e continuar a viagem. Senti-me triste por estar numa posição mais confortável do que a dos meus companheiros, mas no CAMINHO é assim, um por todos e todos por um, amanhã ou depois talvez seja a minha vez de fazer um esforço extra. É um prazer partilhar isto convosco.

Foto do dia:

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

De Saint-Jean-Pied-de-Port , com amor... (dia 0)

O CAMINHO começa amanhã. Chegamos a Saint-Jean ontem a meio da tarde, a cidade é linda. Hoje bem cedo deixamos os alforges no hotel e fomos fazer um reconhecimento dos Pireneus a pedalar, foi-se o suposto dia de repouso, chegamos ao final da tarde com 66 km no contador e muito acumulado de subida. Amanhã bem cedo começo a seguir as setas amarelas, por enquanto apetece-me conhecer todos os peregrinos que andam por aqui, hoje sou turista, amanhã somos todos iguais. É amanhã, um Bon Camiño para mim.

Foto do dia:

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Do Sud Express, com amor...

Quando planeamos esta viagem colocamos as várias hipóteses existentes para chegar a Saint-Jean-Pied-de-Port, decidimos viajar no Sud Express, podíamos também fazer um despacho das nossas bicicletas para o hotel onde vamos ficar hoje e amanhã, mas pareceu-nos uma certa forma de comodismo, se vamos fazer O CAMINHO de bicicleta, então a bicicleta tem de acompanhar-nos sempre. Não é fácil entrar e sair dos comboios com uma mochila às costas, o peso da bicicleta num ombro e o da bagagem no outro, ontem o comboio que faz a ligação do norte ao Sud Express atrasou-se e este comboio onde viajo agora teve de esperar por nós, quando estávamos a chegar a Coimbra começamos a colocar as bicicletas e os alforges no corredor, pedimos desculpa às pessoas, mas quando o comboio parasse tínhamos de sair a correr, quando aconteceu, quando o comboio chegou as pessoas pegaram nas nossas coisas, nas bicicletas e nos alforges e em poucos segundos entre admiração e agradecimentos tínhamos tudo cá fora. Entrar aqui também não foi fácil, nos corredores mal cabe uma pessoa, é preciso fazer manobras impensaveis para chegar ao nosso vagão, mas uma vez cá, depois das bicicletas aconchegadas em duas camas e eu e o Moreno nas outras duas achei que não poderia ter escolhido melhor forma de viajar. Já só faltam mais dois comboios.


Foto do dia:

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Até já...

As pessoas perguntam-me o porquê. Não lhes sei dizer, não vos posso explicar. Há quem vá por desporto, uma espécie de teste às capacidades físicas, há quem vá pelo espírito, pela mente, uma busca interior que também ainda não vos consigo descrever, há quem vá por fé, em peregrinação, há quem vá por convicção, há quem vá sozinho, há quem vá em grupo, pelo companheirismo, pela amizade, pela equipa ou por amor, há quem vá pela aventura, há quem vá em meditação. Eu acho que vou por uma mistura de tudo isto, há sonhos inexplicáveis. Vou tentar absorver cada minuto, cada sentimento, vou tentar respirar cada emoção, vou tentar descobrir por lá o porquê, vou tentar procurar através dos outros e de mim a resposta que todos me pedem. Talvez consiga descrever isto no regresso, talvez não, não posso prometer conseguir passar para palavras aquilo que já começo a sentir agora, pouco antes de partir. Por enquanto estou de partida para O CAMINHO, até já...

Primeiro post realmente fashion do TAMBÉM QUERO UM BLOG

Roupa para cerca de 20 dias. Estou para aqui em dúvida sobre o que hei-de vestir hoje.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Linha de DESmontagem...








Bicicletas prontas a transportar no comboio. Aceitam-se voluntários para as ajudar a montar em Saint-Jean-Pied-de-Port. E também para as ajudar a transportar entre comboios. Já só falta colocar tudo dentro dos alforges. Parto amanhã ao fim do dia, sou capaz de já ter dito isto hoje, estou feliz.

É tão bom ter amigos...

Das outras vezes que fui a Santiago ganhei sempre um Jersey que traz com ele a lembrança dos Km percorridos, da aventura, das pessoas que me acompanharam, das paisagens, dos sentimentos, daquilo que encontrei e que perdi por lá. Cada um traz com ele um Caminho diferente e emoções muito diferentes.

Outubro 2010 (aqui)

Junho 2012

Junho 2013

Desta vez não há organização envolvida portanto supostamente não temos direito a Jersey, mas houve alguém que pensou em todos os pormenores, criou um símbolo para nós, fez o desenho, fez o apanhado de todas as localidades e pequenas terrinhas por onde vamos passar e mandou fazer propositadamente para nos oferecer o Jersey desta aventura, desta viagem, d'O CAMINHO. Estou feliz.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Haja Internet...

Segundo a Vodafone com o serviço que acabo de contratar não terei qualquer tipo de problema em usar a minha Internet em toda a Europa, tal e qual como se estivesse em Portugal, se pensavam que lá por ir fazer O Caminho vos ia deixar em paz estavam muito enganados, vou tentar escrever por aqui as actualizações da viagem, isto se ao final do dia tiver força para segurar no tablet e capacidade para escrever. Caso o mapa não seja suficientemente elucidativo deixo-vos as principais localidades para, caso estejam interessados (pelo menos um ou dois de vocês) tentarem localizar-me:

Saint Jean Pied de Port - Roscesvalles - Zubiri - Pamplona - Puente La Reina - Estella - Torres Del Río - Logroño - Nájera - Santo Domingo de la Calzada - Belorado - Agés - Burgos - Hontanas - Boadilla del Camino - Carrión de Los Condes - Terradillos de Los Templarios - El Burgo Ranero - Mansilla de las Mulas - León - San Martín del Camino - Astorga - Rabanal del Camino - Foncebadón - Ponferrada - Villafranca del Bierzo - O Cebreiro - Triacastela - Sarria - Portomarín - Palas de Rei - Arzúa- O Pedrouzo - Santiago de Compostela.


Ai... que emoção...

Coisas que por estes dias me fazem todo o sentido...


"Prefiro carregar o peso do meu mundo às costas do que carregar na consciência o peso de não ter conhecido o mundo" e no meu caso, de não ter realizado os sonhos...

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

As coisas que me dizem...

A do frigorífico continua a estar em primeiro lugar do top. Logo, logo a seguir vem esta: "Guarda bem todas as informações que estás a recolher sobre O Caminho, para o ano vou-me divorciar só para poder fazer isso." Tenho amigos muito radicais...

Coisas a dois...

Durante a semana os treinos são ao final do dia, depois do trabalho mas ao fim-de-semana o despertador toca bem cedo para irmos pedalar. Antes o Moreno fazia um grande beiço e murmurava um "Vai tu...", desde que nos decidimos a fazer O CAMINHO o despertador toca o Moreno faz exactamente o mesmo beiço e diz "Vai tu... Bom Camiño..."

terça-feira, 6 de agosto de 2013

A uma semana de partir, post para os leitores do blog

O bilhete de ida foi comprado para dia 13 de Agosto, só falta uma semana, estou ansiosa e estou a adorar partilhar todos os pormenores aqui convosco.
Já li muitas vezes em blogues que aos autores não lhes interessa nada se têm ou não visitas, seguidores e comentários, eu não ligo a números mas posso dizer-vos que no meu caso vocês estarem desse lado a ler-me me interessa e muito. Nos blogues sobre desporto, sobre bicicletas só vai quem já tem interesse no assunto, o Também quero um Blog é um blog diário no qual escrevo sobre mim e onde vos falo às vezes sobre as aventuras de uma Loira ao pedal, de repente tornou-se num blog acerca de uma aventura especial, a maior parte de vocês que me tem acompanhado nestes preparativos não percebe muito de bicicletas, não sabe exactamente os trilhos que costumo percorrer e provavelmente ou nunca tinha ouvido falar sobre O Caminho ou sabia muito pouco, apesar disso continuaram a acompanhar-me nesta minha jornada, continuaram a incentivar-me todos os dias, quero agradecer a cada um por isso, quero dizer-vos que a blogosfera só faz sentido para mim por causa desta partilha, por eu dar-vos bocados do meu mundo e conhecer bocados do vosso. Quero dizer-vos que quando partir para O Caminho vou com um único objectivo que é chegar ao destino, a minha meta, desistir nunca será opção para mim, mas no caso de me faltar as forças vou pensar em vocês, vou pensar que não teria coragem de chegar aqui e escrever-vos que não consegui e então vou continuar. Quero agradecer-vos por me acompanharem e por, no fundo, sonharem isto comigo. Eu sei... estou uma lamechas do pior.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Post susceptível de chocar fashion bloggers...

Para fazer O CAMINHO vou precisar de cerca de 15 dias, são as minhas férias, e toda a gente sabe que blogger que é blogger diz aquilo que leva na mala (no meu caso alforge) para as férias. Ora vejamos:
- a bicicleta, os sapatos de encaixe e o capacete
- algum material para reparar a bicicleta em caso de avaria (caso não seja grave senão estamos tramados) e algumas peças de substituição
- saco-cama
- toalha de banho ultra leve, ultra fina, ultra pequena
- almofada insuflável
- produto para lavar a roupa, alfinetes para a colocar a secar
- protector solar
- gel de banho, champô, escova de dentes, pasta de dentes e escova de cabelo, tudo em miniatura
- amostras de alguns cremes e baton do cieiro
- alguns medicamentos que podem ser necessários
- aloquete, para proteger as bicicletas
- pijama, porque nos albergues os dormitórios são comuns
- bikini, para o caso de encontrar um albergue ou hotel com piscina a meio do dia
- telemóvel, tablet, máquina fotográfica e respectivos carregadores
- uma pedra pequena, manda a tradição que seja transportada durante todo O Caminho e deixada na Cruz de Ferro
- bilhetes e horários dos comboios, mapas e altimetrias, telefones dos albergues existentes em todo O Caminho e a caderneta do peregrino
- dinheiro, cartão de cidadão, cartões multibanco, cartão Europeu de seguro de doença, chaves de casa para o regresso
- lenços de papel, toalhitas, pequeno bloco de notas e uma caneta
- 1 polar que servirá para pedalar e para sair se estiver frio
- 1 camisola térmica, no caso de estar frio durante a pedalada
- 1 impermeável, no caso de chuva
- 3 roupas de ciclismo, uma vez que temos que as lavar e no caso de levarmos só 2 podem não secar
- 1 par de chinelos que servirá tanto para tomar banho como para sair quando não estiver a pedalar
- 1 roupa para vestir quando não estiver a pedalar e que servirá para vestir todos os dias, por isso a partir de agora será designada em qualquer circunstância como roupa de gala, consiste nuns calções de ganga e em dois ou três tops que servirão para a roupa de gala ou para pedalar, mediante a necessidade.

Se com esta da roupa de gala para 15 dias não consigo chocar as fashion bloggers não sei mais o que possa fazer. Pelo menos não vou passar dois dias na mesma cidade portanto acho que ninguém me vai ver todos os dias com a roupa repetida. Já vos disse por aqui que O caminho me vai ensinar muitas coisas, a primeira será a aprender o que é de facto essencial para sobreviver.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Post não aconselhável aos mais sensíveis, eu que sou a autora lá para o fim tive de escrever um palavrão (por falar nisso, desculpem desiludir-vos bem sei que me imaginam uma loira com cara de anjo, mas eu digo palavrões)

Um destes dias em conversa com um colega de pedaladas ele dizia-me que andou a pesquisar sobre aquilo que eu vou fazer (Ei, blogger, só acordaste agora para a vida? O CAMINHO) e que achava que não devíamos levar alforges para transportar a bagagem mas sim atrelados. Não vos vou explicar a diferença porque daria origem a um post enorme e desinteressante, a contrapartida é um post enorme e muito interessante, mas a opção que ele me apresentava nem nos passou pela cabeça, era impensável. Bem, eu tentei explicar-lhe a ele, tentei dizer-lhe que antes de decidirmos pelos alforges estudamos todas as alternativas e fizemos as nossas opções. Expliquei-lhe que os alforges eram ideais para os caminhos que vamos percorrer uma vez que pretendemos fazer os caminhos originais, os mais técnicos e não atalhar por estradas ou seguir em alternativa caminhos mais cómodos. A nossa opinião, a opinião das pessoas que vão fazer O Caminho não lhe interessou para nada e ele continuou durante quase uma hora a vender-me a ideia, tal e qual como se me tivesse tocado à campainha com um lote de enciclopédias, um seguro de saúde ou o último grito dos aspiradores. Tentei mudar de conversa, falei de outras coisas que temos planeadas, de como vai ser, até que a conversa chegou à comida, disse-lhe que temos de comprar comida todos os dias antes de partir porque não sabemos se vamos encontrar ou não o que comer até à próxima povoação, disse-lhe que corríamos o risco de ficar sem ter o que beber e o que comer durante muito tempo, expliquei-lhe que ao contrário do que fazemos quando pedalamos por cá não poderia levar nenhum gel, bebida ou barrita energética porque não podíamos transportar esses abastecimentos durante todos aqueles dias e além disso com o calor possivelmente iriam estragar-se. Ele diz-me de imediato "Vês, se levasses um atrelado até podias levar um frigorífico", nem vos consigo explicar, eu ri... ri... ri... disse-lhe entre gargalhadas "E um fogão..." e ri... ri... ri... ri até ele ir embora. E continuo a rir quando faço o filme na minha cabeça, os dois elementos masculinos do nosso grupo de quatro a puxar um atrelado cada um, um com um frigorífico, outro com o fogão, eu a minha amiga felizes da vida a fazer um cozido à portuguesa a meio do dia e a oferecer aos caminhantes. Pelo menos seria mais feliz, acho que levando um frigorífico e um fogão também não se importavam de levar o meu secador de cabelo. Foda-se... só vos consigo dizer uma coisa... e eu achava que era engraçada..

E a ler Loira? O que é que andas a ler?

Fico-me pela vontade...

Nunca tive tanta vontade de partilhar o meu blog com os meus amigos reais, de fazer uma simples partilha no facebook e deixá-los ler tudo o que tenho escrito e ainda pretendo escrever sobre O CAMINHO. Infelizmente as pessoas que nos lêem acham sempre que nos conhecem o recanto mais íntimo e que sabem tudo sobre a nossa a vida (só quem tem um blog sabe que não é assim) e piora, têm tendência para nos julgar por aquilo que pensam que sabem sobre nós. O blog continua secreto.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

(Re)post, porque faz todo o sentido agora.

Desde que comecei a andar de bicicleta, fez ontem precisamente 3 anos, desde esse primeiro dia que me nasceu um sonho aqui dentro do peito, ainda não tinha preparação física mas comecei a sonhar com Santiago de Compostela, sair daqui, da minha cidade e fazer O caminho para chegar lá aproximadamente 300 km e 3 dias depois. Treinei para isso, fiz Km, fiz uma grande viagem num fim-de-semana para testar a minha capacidade física e estava tudo a correr bem para partir a caminho de Santiago em Maio, o meu corpo traiu-me, os meus joelhos não me deixaram partir e eu fiquei muito triste naquela altura. Um dos amigos que me acompanha nas pedaladas praticamente desde o início, aquele que estava a organizar a viagem chamou-me, ofereceu-me o Jersey que tinha feito para as pessoas que iam e disse-me que estava a dar-me aquilo como promessa que eu ia a Santiago ainda naquele ano. Emocionou-me e deu-me força para continuar a treinar. Naquela altura, ainda não tinha praticamente equipamentos nenhuns, só uns foleiros daqueles que se compram nas lojas de desporto, não tinha Jerseys de equipa, não tinha Jerseys de maratonas, aquele era lindo e de cada vez que saía de casa para andar de bicicleta olhava para ele, mas nunca tive coragem de o vestir, não me achava digna de vestir um Jersey com o estampado do caminho de Santiago, aquilo era algo maior, era um sonho por cumprir. Em Outubro desse ano o meu amigo organizou outra viagem e às quatro da manhã, num dia de temporal eu estava pronta para partir, levava o Jersey na mala, foi a viagem mais difícil de fazer de toda a minha vida, a tempestade, os joelhos que me voltaram a trair e a falta de experiência fizeram-me sofrer muito para lá chegar, duvidei se conseguiria, ainda durante a viagem não vesti o Jersey, pensava que se não conseguisse chegar à catedral nunca o iria vestir, só no último dia, já perto de Santiago é que me atrevi a vesti-lo e cheguei lá com ele. Desde esse dia, já ganhei vários, muitos Jerseys, já não me cabem numa gaveta, tenho inúmeros de maratonas, tenho de equipas, de lojas e até tenho um outro do caminho de Santiago, desde esse dia já me nasceram aqui dentro muitos mais sonhos, um deles é fazer o caminho Francês de Santiago, sair de Saint-Jean-Pied-du-Port, nos Pirenéus e pedalar cerca de 900 Km até Santiago de Compostela, desde esse dia já pedalei milhares de km, tenho incontáveis recordações, mas aquele primeiro Jersey e o que senti quando o vesti pela primeira vez vão ficar-me para sempre gravados na alma e no coração.

Não se faz isto a uma Loira...

Os fornecedores da firma onde trabalho são muito simpáticos e de tempos a tempos, especialmente no Natal e antes das férias oferecem-me umas lembranças, já recebi queijos, toalhas de praia, algumas peças de vestuário, chás e muitos chocolates. Acabo de receber isto:


Acho que devo andar com um ar um bocado beberrona... ou isso, ou então de quem está MESMO a precisar de férias.