Posso descrever-vos O CAMINHO como a vida, cada um percorre-o à sua maneira, à medida que o vamos fazendo vão aparecendo imprevistos, temos de resolvê-los e continuar, uns fazem-no sozinhos, outros com um amor, com um amigo, uns vão em família, com os filhos, em silêncio, em romaria, em meditação, uns fazem o CAMINHO completo, outros vão fazendo por etapas, ao longo dos anos, a cada ano retomam do lugar exacto onde terminaram no ano anterior, por muito sozinho que se vá há um dia em que precisamos de companhia ou ajuda, por muita companhia que tenhamos há um dia em que só queremos percorrer uns km em solidão. Podia contar-vos mil e uma histórias, pessoas que fui encontrando pelo CAMINHO, mas a conclusão que chego é mesmo esta, O CAMINHO é a vida, encontramos todo o tipo de pessoas, hoje, nos últimos km da última etapa partiu mais um suporte de alforge, não podíamos continuar até ao fim, mas desistir também estava fora de questão, a solução parecia fácil, procurar um albergue, deixar as nossas coisas guardadas, continuar O CAMINHO e ao final do dia, já de carro, com a família que nos ia buscar passar por lá para trazer as nossas coisas. Posso dizer-vos que o albergue mais perto que encontramos nos bateu com a porta na cara, no local que supostamente existe para apoiar os peregrinos não havia lugar para uma pequena mala que carregamos numa bicicleta, aquele momento estragou um bocado o meu espírito romântico do CAMINHO e da vida, no segundo albergue que encontramos o rapaz foi tão simpático que se prontificou, caso os nossos planos fossem regressar de comboio ou autocarro a levar-nos as coisas a Finisterra ou a enviar para nossa casa. Felizmente no meu CAMINHO encontrei tantas pessoas boas que as más experiências não são sequer significativas. No CAMINHO, e na vida é assim, quando caminhamos uns km e estamos cheios de fome aparecem caixas cheias de enormes e deliciosas francesas, um bilhete a dizer que cada caixa custa 1 € e o sítio para colocar o dinheiro, cada um escolhe se pega na caixa das framboesas e deixa o dinheiro que custa ou se pega na caixa das framboesas e segue caminho. Eu acredito que O CAMINHO será mais fácil para quem não só paga as framboesas mas também agradece o facto de alguém as ter colocado lá, no momento em que mais precisava.
Terminou aqui a última etapa, o km 0 é em Finisterra, fiz a travessia dos Pireneus ao cabo que nos leva quase dentro do mar, uma travessia especial, não foi só andar de bicicleta, foi fazer O CAMINHO e cumprir um sonho, ainda tenho muito para absorver, mas acredito que esta viagem me mudou, acho que não serei a mesma depois disto. Espero ainda escrever-vos sobre isto, mais tarde, agora ainda não me sinto capaz.
Terminou aqui a última etapa, SAINT-JEAN-PIED-DE-PORT, SANTIAGO DE COMPOSTELA, FINISTERRA. Percorri desde que saí de casa 988 km, dos quais 922 km de CAMINHO, vou aproveitar estes últimos dias de férias para descansar e para organizar tudo o que deixei pendente, na próxima segunda a vida retoma ao normal e nessa altura espero poder retribuir todo o vosso carinho, já vos disse isto, é estranho, mas sentir o vosso apoio, ler cada comentário e cada incentivo fez toda a diferença. Agradeço-vos. Até já.
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