sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

"Caminho devagar, mas nunca volto para trás" - Abraham Lincoln

Quando comecei a pedalar comecei também a ter uma nova noção das distâncias, os Km ganharam outro significado para mim.
Fazer 50 km de bicicleta não é o mesmo que fazê-los de carro, de mota, de comboio. Fazer 50 km de bicicleta no monte não é o mesmo que fazê-los em estrada ou em pista. Fazer 50 Km de bicicleta com uma altimetria de 1900 mt de acumulado de subida não é o mesmo que fazê-los com um acumulado de 300 metros. Fazer 50 Km de bicicleta em terreno técnico e acidentado não é o mesmo que fazê-los em terreno plano. Pedalar 10 km pode demorar horas, como pode demorar minutos. Quando estamos fisicamente bem podemos pensar que SÓ faltam 15 km para a meta, mas quando estamos mal, exactamente no mesmo local AINDA faltam 15 km para a meta.
Agora, que comecei a correr, voltei a ganhar uma nova noção das distâncias, e se os km já tinham outro significado para mim, ganharam uma importância desmedida. Ontem (a minha 4.ª corrida de todo o sempre, amém) subi a fasquia de 7 para 8 km e posso garantir que aqueles 8 km a pedalar não são os mesmos a correr, posso garantir que cada metro é interminável e que cada passada é um triunfo.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Porque na vida há coisas que não se explicam

Pedem-me frequentemente para explicar esta minha loucura. Afirmam que não entendem tanto entusiasmo, perguntam-me porquê e esperam que eu lhes explique algo inexplicável. Quem nunca andou de bicicleta não pode perceber o que é chegar ao topo de uma montanha que de cá de baixo nos parece inatingível, não pode perceber o que fazer uma descida técnica sem desmontar, não pode perceber o que se sente quando pedalamos cada vez mais km, não pode perceber a sensação de levar com a chuva e a lama no rosto e no corpo, não pode perceber o que é resistir ao calor, ao frio, à sede, à fome e ainda assim sentir-se feliz, não pode perceber o que se sente quando se pára lá em cima na montanha para olhar para a paisagem, não pode perceber quão grandes e quão pequenos nos conseguimos sentir naquele instante. Quem nunca pedalou não pode perceber o que se sente a chegar à meta, não pode perceber o companheirismo e a amizade que se ganha com os que nos acompanham, não pode perceber o que vale ultrapassar uma subida e divertir-se numa descida. Quem nunca foi para o monte não pode perceber o que é descobrir locais que de outra forma nunca poderíamos descobrir, não pode perceber a sensação de conseguir estar lá em cima só com a nossa energia. Quem nunca andou de bicicleta nunca viveu aqueles instantes em que entramos numa curva sem equilíbrio, em que nos vimos com a roda de trás no ar, em que o pneu derrapa e nós perdemos o controlo, em que queremos desencaixar um pedal e não conseguimos, em que sabemos que vamos cair e já não podemos fazer nada para o evitar. Quem nunca andou de bicicleta não pode perceber o que é fazer uma viagem de mochila às costas em autonomia total. Quem nunca pedalou não pode perceber o que é parar para descansar.


Não perguntem mais, experimentem ou calem-se, porque na vida há coisas que não se explicam, a paixão é uma delas. 

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Julgar o livro pela capa

Um dos meus livros do ano, até agora, foi o Livre, apaixonei-me por ele assim que vi aquelas botas na capa. Este livro é a minha cara e saboreei cada página. Livre fez-me rir às gargalhadas e fez-me pensar no sentido da vida, Livre fez-me ficar extremamente infeliz e fez-me viver uma grande aventura, Livre fez-me pensar e analisar o psicológico das pessoas, uma das coisas que mais gosto num livro. Assim que o vi soube imediatamente que tinha de o ter e que ler a história da Cheryl era imprescindível e urgente. Aquela capa disse-me tudo, as botas que simbolizam qualquer grande caminhada, pelos trilhos e pela vida, as botas velhas, sinal de km e km de aventura, as botas, que representam, sem sombra de dúvida, tudo o que o livro nos transmite. Depois fizeram a adaptação ao cinema e colocaram na capa do livro a actriz do filme com uma imagem interessante atrás e, para os mais atentos, uma grande mochila às costas. Quando recebi o meu livro, recebi as duas capas, felizmente pude guardar a segunda capa e ler o meu livro com a primeira, a capa que me fez apaixonar por ele, ainda antes de o ler. Quando terminei a leitura e depois de ver o filme, tive vontade de rasgar a segunda capa, mas coloquei-a dentro do livro, para mais tarde não me esquecer do filme, do sentimento e do pensamento que isto me deixou, além de fazerem péssimas adaptações das histórias para o cinema, ainda estragam as capas dos livros.



               

Loira TT

Um destes sábados os meus amigos ligaram-me com o irrecusável convite para ir andar de jipe. Rompemos montanhas, fizemos subidas indescritíveis e descidas alucinantes. Chegamos a locais que eu desconhecia e atingimos topos que, segundo eles, nunca conseguiríamos atingir a pedalar, eu não acreditei neles, acho sempre que somos capazes de tudo. Passaram a tarde a tentar assustar a única menina do grupo com as pontes, as pedras, os buracos e as encostas, não conseguiram. Terminei o dia feliz e com ainda mais certeza que o meu território natural é lá em cima na montanha, a respirar o ar puro e a perder-me na imensidão da paisagem.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Queridos ladrões, sequestradores e violadores deste país

A minha pista é um lugar escuro, quase deserto e um pouco assustador. Nas minhas pedaladas solitárias nunca vos temi, simplesmente porque estava convencida de que mesmo que me quisessem apanhar não tinham perninhas para me alcançar. Acontece que agora comecei a correr e venho por este meio pedir para que não me ataquem nos próximos tempos, esperem algumas semanas, esperem até eu estar bem preparada e até vos dar luta. É que por enquanto basta chegarem à minha beira e espirrarem para eu me quedar logo ali e toda a gente sabe que isso assim não tem piada nenhuma. Deixem-me ter mais confiança nas minhas ricas pernocas antes de me aparecerem. Não é que ser roubada, sequestrada ou violada seja muito grave, grave mesmo era o dano psicológico que me poderia causar o facto de não ter conseguido terminar uma corrida, logo agora que eu me acho capaz de tudo (menos de vos fugir).

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Os meus livros #14 - Viagem ao Infinito

Sinopse
O professor Stephen Hawking é um dos cientistas mais notáveis e famosos da nossa era, e autor do bestseller científico A Brief History of Time, que já vendeu mais de 25 milhões de exemplares. Nestas fascinantes memórias, Jane Hawking, a primeira mulher de Stephen Hawking, apresenta-nos a história do seu extraordinário casamento vista por dentro. Enquanto o prestígio académico de Stephen disparava, o seu corpo cedia aos assaltos da doença neuromotora, e o relato franco de Jane, em que descreve como tentava equilibrar os cuidados constantes que o marido exigia com as necessidades de uma família em crescimento, será uma inspiração para todos.


Adorei conhecer a história de Stephen Wawking. O livro é muito bom, para ler com calma e interiorizar cada pormenor. No final do livro fui ver o filme A Teoria de Tudo, que adorei, embora fuja bastante a demasiados pormenores do livro mostra a verdadeira essência da história. 

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Bike in love

Por enquanto está tudo controlado, corro à noite e acho que as pessoas que se cruzam comigo não têm uma mente tão porca como a minha

Três dias depois da minha primeira corrida (de todo o sempre, amém), como já conseguia mexer-me mais ou menos, já quase conseguia caminhar sem mancar, já conseguia sentar-me sem parecer uma contorcionista aleijada e até já conseguia apanhar objectos do chão só com dois gritinhos e três gemidos, achei que estava pronta para outra.
Ontem, começar foi mais difícil, uma vez que as minhas pernas ainda doíam, mas a corrida foi bem mais fácil. Os mesmos km, o mesmo trajecto, mas desta vez não me senti tão estúpida como anteriormente, a minha sombra já não parecia tão desengonçada, a minha passada estava mais segura e o movimento dos meus braços já começa a fazer sentido. Em vez de olhar para o chão e contar mentalmente e desesperadamente os metros que ainda me faltavam para terminar a tortura já consegui erguer a cabeça e ver aquilo que me rodeia. Terminei cansada mas não mais morta que viva. A certa altura, por breves instantes, cheguei mesmo a pensar que talvez um dia eu consiga gostar disto, talvez um dia o interminável horizonte que se estende até à meta já não me assuste, talvez um dia eu consiga sentir-me bem e talvez um dia eu consiga correr sem estar constantemente a pensar na respiração. Nesse dia, no dia em que respirar for tão fácil e tão natural como respirar, talvez eu possa mesmo correr o mundo livremente, linda, loira e sem fazer a boca de broche que faço agora.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

E sim, fico sempre à espera que um fantasma me surpreenda


Os locais abandonados fascinam-me. Adoro entrar e analisar cada pormenor, adoro percorrer cada recanto e perder-me na imensidão do nada. Invento mil e uma histórias, imagino momentos, penso nos rostos das pessoas e nos sorrisos de felicidade, faço também discussões e lágrimas dentro da minha cabeça. Imagino nascimentos e pessoas que ali morreram. Há conversas e gargalhadas dentro das minhas histórias. Escuto com atenção crianças a correr. Penso nas cores, nas sombras e na limpeza que outrora existiu. Imagino dias e noites de amor, imagino a felicidade e a rotina. Acordo e venho embora triste com a realidade e com a solidão. Os locais abandonados fascinam-me, naqueles minutos em que fazem sonhar.

Música para os meus ouvidos

"Se fosse um livro. Um livro de poesia. Depois seria um guia. Um livro de memórias. Cheio de páginas. Cheio de vida. Se eu fosse um livro era um livro de aventuras. Anos depois seria um livro revolucionário. Proibido. Chamuscado. Passado de mão em mão. Ou então não. Mais tarde tornava-me um livro de poesia. Um livro de amor. Com paixão e até traição. Um livro resistente. Que suportasse o sal das minhas lágrimas. Se eu fosse um livro era um clássico. Para ler na cama. No silêncio da vida a dois. Depois seria um guia. Que se lê no meio do banho, da tosse e do ranho. Com o passar do tempo uma autobiografia. Um livro de memórias. Com rugas na capa. Cheio de páginas. Cheio de vida. Uma tentação para quando só nos resta a imaginação. Se eu fosse um livro tinha muitos capítulos. Só não teria fim.

O fim é o princípio. Uma página que se vira. Somos a tinta fresca em folha áspera. A capa dura. Aquilo que procura. Somos a história. Desde sempre. O terramoto de 55 e a revolução de 74. Somos todos os nomes. As pessoas do Pessoa. Alexandre Herculano e Ramalho Ortigão. O mundo na mão. Ponto de encontro. De quem pensa. De quem faz pensar. Temos pele enrugada de acontecimento. As páginas são nossas. E o pó que descansa na capa também. Sabemos falar de guerra e paz, explicar a origem das espécies e dizer qual a causa das coisas. Somos o que temos. A tradição e a vocação. A atenção. A opinião. A história de dor e de amor. Somos o nome do escritor. A mão do leitor. Somos livros.

Somos os livros que lemos."



Assim me canta o diário de leituras da Bertrand que me foi oferecido ontem, por a Su, uma amiga que o blog trouxe para a minha vida. O diário é lindo. As palavras nele impressas são música, são poesia, são sorrisos e suspiros. As páginas em branco são histórias, são momentos, são felicidade para preencher com amor. O amor aos livros.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Happy Birthday to me

O meu coração já bateu dois mil milhões de vezes. Se eu fosse um beija-flor o meu coração já teria batido vinte e dois mil milhões de vezes e se eu fosse uma baleia azul o meu coração teria batido cento e quatro milhões de vezes. Se vivesse em Mercúrio eu teria 137 anos, em Vénus teria 53, em Marte 17 e em Júpiter somente 2. Se eu fosse um rato já teria dado origem a uma família de 300 gerações e se fosse um coelho de 66 gerações. Desde que nasci já se registaram 72 eclipses solares, 159 erupções vulcânicas e 385 terramotos. Desde que nasci a população mundial aumentou em 2.715.822.115 mil milhões e a expectativa de vida aumentou em 7,2 anos. A temperatura média anual subiu de 14,1 para 14,6. Quando eu tiver 68 anos a temperatura média anual será de 15,4. Desde que nasci as emissões de CO2 subiram de 18,7 para 35,6 gigatoneladas por ano. Quando eu tinha 9 anos foram salvos da extinção os gorilas da montanha e quando eu tinha 23 os rinocerontes pretos. Desde 18 de Fevereiro de 1982 já viajei 31242450990 Km em torno do sol. Faz hoje 33 anos que nasci.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Detesto correr

Desde miúda que tenho problemas respiratórios, nos vários desportos que pratiquei a minha grande luta sempre foi conseguir controlar a respiração. Ganhei sempre, excepto para a corrida. Além da dificuldade em respirar também não se sinto confortável a correr, enquanto a pedalar me sinto no meu território natural, a correr sinto-me simplesmente estúpida, tanto que passo a vida a dizer que só poderei correr quando alguém me ensinar.
Hoje, numa tarde solitária de folga e num puro acesso de loucura fui para a pista e comecei a correr, caminhei 0,5 km do meu carro à pista, corri durante 7 km e voltei a caminhar 0,5 km para chegar novamente ao carro. Até agora ainda não percebi o que foi me deu, mas estou desconfiada que durante a noite possa ter batido com a cabeça algures.
Os primeiros 3,5 km não me custaram absolutamente nada, só tive de me concentrar para me lembrar de respirar, depois dei a volta e contei 0,5 a 0,5 km, um bocadinho de cada vez. Não parei nem uma única vez e desconfio que se o tivesse feito já não conseguiria continuar, uma vez que quando atingi a minha meta, o sítio exacto onde comecei, as minhas pernas doíam tanto que eu já nem conseguia caminhar. Por momentos pensei que se fosse atropelada naquela altura, ao atravessar a rua, não sentiria nada de nada.
É a primeira vez em muito tempo que saio da minha zona de conforto, uma vez que a pedalar, por muitos km que faça, por muito difícil que seja, quando chego ao fim já não estou cansada, só feliz.
Não sei se esta minha primeira corrida valeu alguma coisa porque não tirei nenhuma selfie nem partilhei nas redes sociais as minhas sapatilhas com o total dos km, mas se estes acessos de loucura continuarem em breve posso comprar umas sapatilhas fluorescentes, registar todos os treinos, fotografar todos os equipamentos e parecer uma atleta profissional, apesar de não fazer nada de especial, a não ser correr.
Continuo a detestar correr, continuo a sentir-me um bocado estúpida mas sou gaja para repetir a experiência, se conseguir mexer-me nos próximos dias, como é óbvio.

Página 164

"Chegara àquela idade em que lhe ocorria, com crescente intensidade, uma pergunta de uma simplicidade tão avassaladora que não tinha como a enfrentar. Dava por si a perguntar-se se a sua vida valeria a pena, se alguma vez valera a pena."

Stoner, John Williams

Os meus livros #13 - Mulher procura homem impotente para relacionamento sério

Sinopse
Bonita, sexy, na casa dos trinta, Carmen Legg é uma mulher bem sucedida nos negócios e os homens acham-na irresistível. Assediam-na durante encontros profissionais e festas, pedem sexo no primeiro encontro e até mesmo o seu namorado fixo insiste em fazer amor depois de um cansativo dia te trabalho. Coloca então um anúncio num jornal para encontrar o companheiro perfeito: um homem inteligente mas impotente. Surpreendentemente, recebe inúmeras resposta. E, ainda mais surpreendentemente, Carmen convida-os um após outro para sua casa ou encontra-se com eles em locais desconhecidos, partindo do princípio que os homens que não o conseguem pôr de pé também não são perigosos noutros campos. Mas, como Carmen vem a descobrir, o sexo sem penetração, embora possa ser espectacularmente excitante, é incompleto. Quando finalmente se apaixona pelo lindíssimo e encantador David, Laura, a sua melhor amiga, faz-lhe notar que ela não é tão feliz com a sua opção como julgara: «querias um homem impotente dos teus sonhos e agora queres transformá-lo num super-homem potente».Gaby Hauptmann nasceu em 1957 na Alemanha, é jornalista free-lancer, realizadora de cinema e autora de vários sucessos no seu país e estão traduzidos em muitas línguas. Mulher Procura Homem Impotente para relacionamento Sério, o seu livro mais conhecido, é uma história divertida, actual e desinibida sobre o relacionamento entre homens e mulheres, que já vendeu, só na Alemanha, 1 350 000 exemplares.


Depois de a mesma pessoa me dizer um milhão de vezes que eu tinha de ler este livro, que todas as mulheres tinham de ler este livro, que todos os homens tinham de ler este livro, acabei por o ler, mais para testar a pessoa em causa do que o próprio livro (Mea culpa). Não levem a sério essa história que me contaram a mim, de todas as mulheres terem de ler este livro e todos os homens terem de ler este livro, a história não é nada de especial e em termos literários não vale grande coisa. Ainda assim fez-me rir um bocado e fez-me bem ler algo mais leve entre o último livro e o próximo.

Os meus livros #12 - Stoner

Sinopse
Romance publicado em 1965, caído no esquecimento. Tal como o seu autor, John Williams - também ele um obscuro professor americano, de uma obscura universidade. Passados quase 50 anos, o mesmo amor à literatura que movia a personagem principal levou a que uma escritora, Anna Gavalda, traduzisse o livro perdido. Outras edições se seguiram, em vários países da Europa. E em 2013, quando os leitores da livraria britânica Waterstones foram chamados a eleger o melhor livro do ano, escolheram uma relíquia. Julian Barnes, Ian McEwan, Bret Easton Ellis, entre muitos outros escritores, juntaram-se ao coro e resgataram a obra, repetindo por outras palavras a síntese do jornalista Bryan Appleyard: "É o melhor romance que ninguém leu". Porque é que um romance tão emocionalmente exigente renasce das cinzas e se torna num espontâneo sucesso comercial nas mais diferentes latitudes? A resposta está no livro. Na era da hiper comunicação, Stoner devolve-nos o sentido de intimidade, deixa-nos a sós com aquele homem tristonho, de vida apagada. Fechamos a porta, partilhamos com ele a devoção à literatura, revemo-nos nos seus fracassos; sabendo que todo o desapontamento e solidão são relativos - se tivermos um livro a que nos agarrar.


Apaixonei-me por este livro no momento em que a Su me mostrou a capa. Além da capa fantástica o livro é realmente bom. Tanto que, enquanto o lia, ou me sentia profundamente triste ou me questionava sobre o sentido da vida.

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Atrás de uma grande foto está sempre uma grande história

Faltava pouco mais de um mês para partirmos para O Caminho, este foi o primeiro e único teste que fizemos aos alforges. Reservamos hotel no Gerês e de manhã bem cedo partimos para voltar só no dia seguinte a casa. Ao planear a viagem não pensamos muito no acumulado de subida e na dificuldade, mas o acumulado de subida era imenso e a dificuldade uma das maiores que já senti na vida. Aliado a isto estava um calor insuportável e a certa altura ficamos sem bebida nem comida e desesperados. Lembro-me de uma subida que nunca mais acabava, lembro-me de um calor que não me deixava respirar, lembro-me que no GPS faltava ainda muitos km para chegarmos à primeira paragem na civilização e da minha amiga se lembrar que tinha uma laranja na mochila, dividimos uma laranja por quatro e acho que nunca mais na vida, nenhum de nós se vai esquecer daquela laranja. As dificuldades continuaram e só chegamos ao restaurante já passava das quatro da tarde, tínhamos reservado para a uma e o filho da dona disse-nos de imediato que já não nos serviam, que agora tinham na sala um baptizado e que não podiam. Mandamos chamar a mãe dele e dissemos-lhe que ou nos dava de comer ou morríamos ali os quatro e a senhora que não quis ser responsável por quatro mortes lá nos sentou ao lado dos convidados de gravata e vestidos de gala. No final da refeição, cientes de que nos faltava ainda muito para chegar ao hotel e poder descansar, aproveitamos os minutos do meu colega fotografar todas as portas, janelas, flores, pedras e tudo o mais o que possam imaginar para dar uns beijinhos, só que o meu colega fotografa mesmo tudo o que possam imaginar, até os nossos beijinhos.

Esta será provavelmente a única foto planeada por mim que tenho. Uns tempos antes, num passeio, eu e o Moreno vínhamos a pedalar assim, de mão dada, e o meu colega, aquele que tira foto a tudo o que possam imaginar, fotografou esse momento, mas a foto saiu mal e eu idealizei a partir dali a foto que queria para mim. Naquele dia, no Caminho, quando vi aquele interminável cenário achei que seria ali, só tive de pedir a mão ao Moreno e esperar que o meu colega cumprisse a parte dele e que não deixasse escapar o momento. Sem dúvida, por tudo o que representa para mim esta é uma das fotos da minha vida.

Num parque, em mais um fim de semana a pedalar, enquanto esperávamos que o meu colega tirasse fotos aos patos, às pontes, à relva, à água e a tudo o mais que possam imaginar, eu e o Moreno ficamos sentados num banco de jardim a trocar confidências. A foto, essa, o meu colega só a mostrou mais de meio ano depois daquele dia, não fazia a mais pequena ideia de que existia e apaixonei-me por ela de imediato.



quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

As 50 coisas do Grey

Decorria o ano de 2013 quando, por esta altura, me ofereceram de prenda de aniversário não 1, não 2, mas os 3 livros (uma vez que a data está próxima, se quiserem cometer a mesma proeza peço que me questionem sobre a minha interminável lista primeiro). Nessa altura já toda a gente falava dos livros e eu, que não tenho preconceitos literários, e que me basta dar uma pequena volta pela blogosfera para ler merda bem pior, li não 1, não 2, mas os 3 livros, do início ao fim (podem ler uns 10 posts por aí a explicar porque razão eu nunca desisto de um livro).
Em termos literários os livros não valem nada, a história é uma valente porcaria e em termos pornográficos os livros não me aqueceram, nem me arrefeceram. Digo eu que, leio imenso, adoro uma boa história e aqueço muitas vezes a ver um bom filme pornográfico, daqueles a sério (não vos posso contar mais porque o Moreno é tímido e diz que eu só o envergonho).
As mulheres ficaram todas malucas com os livros, eu não percebo o fenómeno, mas desconfio que um gajo lindo, bom, rico e que saiba foder é o sonho de consumo de 99% delas, ou de nós, e que praticamente a mesma percentagem delas, ou de nós, não conheça nem um único exemplar que possua os quatro predicados em conjunto. Como eu estava a dizer, eu não percebo o fenómeno, mas também não o posso criticar, porque uma das coisas que mais prezo na vida é saber aceitar a diferença, seja ela qual for. Não as critico a elas, como também nunca conseguiria criticar os livros se não os tivesse lido, que é o que me parece que mais acontece nos dias que correm.
Como actualmente o mundo se divide entre os fanáticos pela história e os que jamais poderiam ler livros desses porque são intelectualmente superiores e a estreia do filme é o assunto do dia, venho por este meio dizer que também eu quero ver o filme, quando estiver disponível online, obviamente, só me apanhavam a ver isto no cinema se levasse pelo menos um Tolstoi, um García Márques e um Saramago debaixo do braço. Posto isto, depois de ver o filme, se me apetecer venho cá falar do assunto, não sei se já vos disse mas custa-me mais a compreender as pessoas que falam sem conhecimento de causa do que as outras, que acharam aquilo fantástico, apesar de eu achar aquilo uma valente merda.

Os meus livros #11 - O Leitor

Sinopse
Michael Berg, um adolescente nos anos 60, é iniciado no amor por Hanna Schmitz, uma mulher madura, bela, sensual e autoritária. Ele tem 15 anos, ela 36. Os seus encontros decorrem como um ritual: primeiro banham-se, depois ele lê, ela escuta, e finalmente fazem amor. Este período de felicidade incerta tem um fim abrupto quando Hanna desaparece de repente da vida de Michael. Michael só a encontrará muitos anos mais tarde, envolvida num processo de acusação a ex-guardas dos campos de concentração nazis. Inicia-se então uma reflexão metódica e dolorosa sobre a legitimidade de uma geração, a braços com a vergonha, julgar a geração anterior, responsável por vários crimes. Perturbadora meditação sobre os destinos da Alemanha, O Leitor, é desde O Perfume, o romance alemão mais aplaudido nacional e internacionalmente. Já traduzido em 39 línguas, a obra foi adaptada ao cinema. Para além disso, este romance foi galardoado em 1997 com os prémios Grinzane Cavour, Hans Fallada e Laure Bataillon. Em 1999 venceu o Prémio de Literatura do Die Welt.


O livro perfeito e com uma das melhores adaptações ao cinema que já vi.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Sou óptima a inventar histórias

Cheguei a esta conclusão um destes dias, quando o Zé me contou um pormenor acerca de um filme, imaginei mil histórias até chegar ali, àquele pequeno detalhe que não me saiu mais da cabeça, até me sentar em frente ao ecrã, pensei nos locais, nas pessoas, nas cores, nas sombras, na roupa, nos cabelos e nas mãos, pensei no enredo e no cenário. Imaginei tanto que me desiludi, todas as minhas mil histórias eram melhores do que a história do filme.

Talvez por isso seja difícil a adaptação ao cinema de um livro superar as minas expectativas. Talvez a minha imaginação seja inalcançável. Talvez, além de ser óptima a inventar histórias, eu seja óptima a realizar, dentro da minha cabeça.

Quase desinspirada

Tenho 1001 coisas para escrever, tenho o meu caderno de apontamentos a ficar cheio. Cada coisa que me vem à cabeça vou apontando, assim que me surge uma ideia, um pensamento, um tema para desenvolver, corro para o caderno e registo tudo, às vezes é uma sucessão de tópicos que parecem nunca mais acabar. O caderno acompanha-me sempre, tal e qual como o livro que ando a ler. O clique acontece muito depressa e se não tomar notas vai tão depressa como veio, mesmo que tente lembrar-me, nunca mais consigo apanhar as ideias, nunca mais consigo conjugar os pensamentos. Corro para o caderno em casa, no trabalho, na rua, no carro, não posso viver sem ele, mais que uma ideia, uma música, a frase de um livro, um filme, uma pesquisa que quero fazer, um autor de quem me falam, o caderno serve-me para tudo, sou apaixonada por ele, sou dependente dele. Com ele tenho sempre inspiração, tenho sempre a minha essência para preencher espaços em branco. Mas há dias em que simplesmente não apetece preencher nada e os espaços em branco fazem muito mais sentido. Tenho, ultimamente, muitos dias assim, 1001 coisas para escrever e nenhuma me apetece, o que prova que para escrever é necessário muito mais que ideias, pensamentos e temas, a inspiração é também vontade de mostrar ao mundo esses bocados de nós que por vezes insistem em ficar escondidos nos recantos da alma.

Um dia acabam esses dias de quase desinspiração e tudo nos volta a fazer sentido. Hoje ainda não é o dia.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Os meus livros #10 - Livre

Sinopse
Aos 26 anos, Cheryl Strayed tinha perdido tudo - o casamento, a família, a estabilidade profissional -, e a sua existência aproximava-se perigosamente do ponto de não-retorno. Sem nada a perder, Cheryl decidiu embrenhar-se sozinha na natureza selvagem, percorrendo a pé, durante três meses, mil e setecentos quilómetros do Pacific Crest Trail, desde o deserto de Mojave, ao longo da Califórnia e do Oregon, até ao estado de Washington.
Numa fusão única entre livro de memórias e narrativa de aventuras, esta obra inspiradora é um testemunho vivo da capacidade do espírito humano para superar as crises mais agudas e reinventar um sentido para a vida.


Este livro é a minha cara. Tão, mas tão bom, que parece mentira. Pena que a adaptação ao cinema tenha sido tão fraca. 

Página 312

"Talvez, naquele momento, eu tivesse chegado ao ponto de já ter a coragem de ter medo"


Cheryl Strayed, Livre

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Hoje é bem capaz de ser o dia mais feliz do meu Inverno

Adoro o frio, adoro as roupas de Inverno, o cobertor no sofá e o chá a ferver, adoro ficar aconchegada a ler ou a ver um filme, adoro as pantufas e os abraços quentinhos, adoro a água a escaldar no banho, adoro a lareira na companhia do meu pai e as maças assadas por ele, adoro sair para pedalar no frio, adoro ouvir a chuva a cair, adoro, adoro, adoro.
A única coisa que me chateia no Inverno é ter de trabalhar num escritório enorme e gelado, com um ar condicionado que não tem capacidade para aquecer a totalidade da área, mais dois tão antigos que se os ligar podem explodir a qualquer momento, dois termo ventiladores que morreram o Inverno passado e um desumidificador que não serve de nada. O frio conserva, por isso não me posso queixar, trabalho aqui, fresca, fofa e quase a entrar em hipotermia.
Hoje abri a porta do escritório e inundou-me uma massa de ar tão quente que por breves instantes pensei que me estava a sentir mal por qualquer motivo e que podia desfalecer a qualquer momento, mas não, afinal a fonte de calor deve-se a uma nova aquisição que o meu patrão fez na hora de almoço e gentilmente ligou virada para a minha mesa. Estou tão feliz, tão feliz, tão feliz, que estou quase a eleger este dia como o mais feliz de todo o meu Inverno.
Melhor que isto só se para além de me aquecerem o escritório me oferecessem uma tarde de folga para eu passar no sofá, enroscada no cobertor a ler um livro e a beber chá fumegante. Sim, adoro sonhar.

Parabéns ao melhor do mundo


O meu melhor do mundo, claro.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Coisas muito estranhas que acontecem neste Blog


Depois de Portugal e dos Estados Unidos a Rússia está em terceiro lugar no pódio da contagem de visualizações de páginas. Devo ficar preocupada? O que estão os Russos a tramar? Putin, és tu?

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Querido diário

Escrevo para recordar.

E prémios, não trazes prémios para casa, Loira?

Sim, claro que sim. Umas medalhas e lembranças de participação em maratonas, já trouxe também canecas, canetas, muitas meias, algumas t-shirts, um galo de Barcelos, muita publicidade, porta-chaves, um quadro grande com uma foto minha, um colete impermeável, jerseys, carteiras, punhos para a bicicleta, um dia trouxe uma garrafa de vinho, pão de ló, uma vez trouxe uma cabra, mas entretanto perdia-a, o que é pena porque aquilo não era bem uma cabra, mas A cabra. Este fim de semana trouxe alfaces e cenouras, cá em casa chega tudo a dobrar, o que quer dizer que ontem ao almoço e ao jantar houve alface, hoje vai haver alface, amanhã alface, depois de amanhã alface, depois de depois de amanhã alface, depois de depois de depois de amanhã alface. Enfim, já vos disse que trago muitos prémios para casa? Quando trouxe o pão de ló, a dobrar, acho que engordei uns dois kg, agora parece-me que comecei ontem uma dieta à base de alface. É que além da que trouxe já eu tinha comprado alface para a semana inteira.

Vou só ali almoçar - alface -  e já volto.

Os meus livros #9 - O Discurso Secreto

Sinopse
A União Soviética em 1956: depois da morte de Estaline, o regime violento começa a fracturar-se, deixando para trás uma sociedade onde os polícias são criminosos e os criminosos são inocentes. Khrushchev, o sucessor de Estaline, promete uma reforma, mas há quem não consiga perdoar ou esquecer o passado. Leo Demidov, ex-oficial do MGB, enfrenta um conflito interior. As duas jovens que ele e a sua mulher Raisa adoptaram ainda terão de o perdoar por ter participado no assassinato brutal dos seus pais. Leo, Raisa e a sua família estão em grande perigo, pois há alguém com um ressentimento contra Leo, alguém que sofreu uma transformação irreconhecível e é agora o perfeito modelo da vingança. A missão pessoal e desesperante de Leo para salvar a sua família levá-lo-á dos severos Gulags da Sibéria e das profundezas do submundo do crime, ao centro da rebelião húngara - e ao inferno onde a redenção é tão frágil como o vidro.


Depois de A Criança n.º 44 se ter tornado um dos meus livros de eleição tinha de ler este livro. Prendeu-me da primeira à última página.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Coisas que só me acontecem por culpa do blog

Isto é mesmo fodido (já sabem aquela lengalenga de eu ser do norte, de dizer palavrões e pior ainda, de os escrever, não sabem? Bem me parecia.)

Fodido não é ter de me levantar um Domingo às seis e meia da manhã. Fodido não é ter de me despachar a correr porque daqui a pouco estão lá em baixo os meus amigos. Fodido não é ter de descer as escadas desde o terceiro andar com a bicicleta às costas e o saco com as coisas para tomar banho no fim da maratona. Fodido não é ter de pedalar ao frio e à chuva. Fodido não é ter de pedalar km e km na lama. Fodido não é ter de pagar a manutenção da bicicleta, porque como dizia o Zé, aqueles barulhos todos eram notas de vinte a voar. Fodido não é acabar a maratona e ter um banho de água fria e sem pressão à minha espera. Fodido não é ter de voltar a subir até ao terceiro andar com as tralhas todas e a bicicleta às costas. Fodido não é ter tudo para arrumar ao fim do dia, quando o que nos apetece é mesmo ir para o sofá. Nada disso é fodido porque a paixão supera tudo. Fodido mesmo é conseguir tirar os trinta kg de lama que se traz na roupa, cá em casa, como é roupa a dobrar, é lama a dobrar.

Pessoas inteligentes deste mundo que inventam tudo, por acaso não conseguem inventar algo que consiga tirar a lama da roupa de forma fácil e rápida? É que são quantidades industriais de lama que chegam na roupa cá a casa e não sei se já perceberam, mas é mesmo fodido lavar aquilo tudo.