terça-feira, 8 de agosto de 2017

Julgar o livro pela capa

É certo que o importante é o conteúdo, as páginas de história e de vida que acabaram de chegar. É certo também que já não consigo ler compulsivamente como o fiz em tempos, vou lendo e saboreando as páginas, já não as consigo devorar. Mas continuo apaixonada pelos livros, não saio de casa sem levar um comigo, carrego diariamente o peso da minha paixão, sem ele sinto-me nua, passeio-o também pela casa, como que trazê-lo comigo seja a coisa mais importante do mundo. Continuo a mimar e a cheirar os livros quando os recebo, continuam a brilhar-me os olhos a cada livro que acrescento à minha vida, continuo a dar importância a cada pormenor, depois de o cheirar tiro sempre o preço, não sou capaz de ter um livro com preço, os livros não têm valor, analiso a capa e a contracapa como quem inspecciona o Santo Graal da literatura, volto a cheirá-lo e guardo-o bem seguro com um sorriso verdadeiro e cheio de carinho, como aqueles que só se dão aos amigos. É certo que o importante é o conteúdo, as páginas de história e de vida que acabaram de chegar, os momentos agradáveis que vou passar com ele, as emoções, a aprendizagem, os pedaços de tempo e as vivências, mas ainda sim devia ser proibido comprar um livro com um capa e receber o livro com outra, as capas são o que por vezes nos fazem apaixonar, são uma parte do sentido que queremos dar à história, são uma forma de julgar o livro antes de o conhecer. Devolvam-me a minha capa, era aquela que eu queria. Que puta de mania que esta gente tem de estragar as capas dos livros.

domingo, 6 de agosto de 2017

Reler-me #38

Parem de dizer mal das vossas mulheres

Que vos ocupam o espaço todo no guarda-roupa, que têm malas que nunca mais acabam, que não sobra espaço nenhum no sítio dos cremes, que voam sapatos para todo o lado assim que tentam abrir a sapateira, que demoram uma eternidade a ficar prontas, que têm centenas de brincos e de pulseiras e de colares e de relógios e de óculos de sol, que não cabe mais nada em casa, que os casacos que possuem davam para abrigar meia África, que compram, e compram, e compram mais qualquer coisa e que ainda assim, nunca têm nada para vestir. Há pior, acreditem. Há mulheres que além de tudo isso ainda têm capacetes, sapatos de encaixes, colecção de jerseys e de meias coloridas até ao joelho, calções com almofadas no rabo, casacos para a chuva, para o frio, para o vento, óculos de ciclismo, luvas e manguitos. As vossas mulheres são umas santas, quando duvidarem disso lembrem-se de mim, eu sou a pior mulher do mundo, além de tudo o que mencionei em cima ainda compro livros, e mais livros, e mais livros. Parem de dizer mal das vossas mulheres, eu, ainda por cima, não sei cozinhar. 

Julho de 2015

sábado, 5 de agosto de 2017

Os meus livros #25 - Os chouriços são todos para assar (Ricardo Adolfo)





Sinopse 

Inspirado em casos irreais, Os chouriços são todos para assar é uma viagem em contramão pelas estradas secundárias do país, marcada por encontros com personagens encantadoras e situações delirantes.

Reler-me #37

O dia em que fugi de casa

Ainda não tinha dois anos e já eu achava que podia fazer o que bem me apetecia, fugi de casa. A minha família entrou em pânico, a minha mãe começou aos gritos, o meu pai a procurar-me, a minha avó dizem que rezava, a minha madrinha não sabia se havia de acalmar a minha mãe ou ajudar o meu pai a procurar, o meu tio agarrou a minha prima pela mão e foi na direcção oposta ao meu pai. Gritavam pelo meu nome mas eu não respondia. A minha mãe só chorava "Ai... a minha menina", "Ai... a minha filhinha". O pânico, o horror, a tragédia. Foram encontrar-me bem perto, estava no quintal da minha avó, sentada na terra a comer tomates directamente do tomateiro.

E como é que eu sei isto tudo? Porque até hoje, quando me perguntam o que quero lanchar e eu pergunto se têm tomate, quando peço tomate ao almoço ou ao jantar, ou quando estou a comer tomate e afirmo que sim, que adoro tomate, todos me contam (outra vez) a mesma história. O meu pai continua a rir-se de cada vez que se lembra da minha cara suja de terra e de satisfação, enquanto comia os tomates da minha avó.

Parece que sempre fui uma rebelde, houve até o dia em que fugi de casa, para poder comer tomates à vontade. 

Julho de 2015

terça-feira, 1 de agosto de 2017

“Sempre que vejo um adulto de bicicleta, volto a confiar no futuro da raça humana.” - Herbert George Wells

No sábado subi a um dos meu sítios preferidos do mundo e fiquei a contemplar a paisagem e a paz que se sente por lá. No domingo fui a mais um topo especial e mais uma vez fiquei por lá, a respirar e a viver intensamente a lentidão dos dias. Na segunda subi a um dos topos que mais vezes me acolhe e terminei o dia muito feliz. Na terça fui mais uma vez fazer a subida das subidas e cheguei a casa cansada. Na quarta fui só à minha pista, respirar o ar puro do final de mais um dia. Na quinta carreguei as luzes e fui num nocturno às festas da cidade vizinha comer e beber como se não houvesse dia seguinte. No sábado voltei à estrada e fui muito feliz. Ontem, mesmo doente, fui fazer a minha pista e regressei a casa bem melhor do que se tivesse ficado no sofá. Hoje já estou a pensar em equipar.
De tudo o que pedalar me dá de bom a liberdade de ir é sem dúvida o melhor.