quinta-feira, 30 de junho de 2016

As equipas são como as adegas, a reserva mais antiga é sempre a melhor. Ou, a continuação de um post

(...)
Este ano juntou-se ao nosso grupo um senhor bastante mais velho que todos nós e não posso deixar de olhar para ele com admiração e orgulho. Cai de cada vez que vamos pedalar, cai até mais que uma vez, levanta-se e segue caminho sem se queixar de nada. Pede opinião e aceita que tentemos ensinar sempre algo. Às mensagens para as pedaladas responde sempre com um sim, faça sol, faça chuva, faça vento ou faça neve. Nunca desiste e quando ouviu falar nas viagens deste ano comprou um alforge, encheu-o de sacos de arroz e foi para o monte treinar o equilíbrio. Continua a dizer "Uiiiii" sempre que vê uma pedra ou um buraco mas arrisca, arrisca sempre e é um exemplo para todos nós. Um destes dias, depois de ler os mails que eu tinha enviado com as informações das viagens, mandou-me uma mensagem que dizia só: "Verinha li os seus mails, vou e concordo com tudo". E isto, parecendo que não, é bem capaz de ser o acto com mais coragem que eu vi nos últimos anos.

No fim da última das duas viagens que fizemos juntos nos últimos meses abraçou-me a chorar, disse que tinha concretizado dois grandes sonhos e agradeceu-me por isso, a mim não tinha nada que agradecer, o mérito é só dele, mas não pude deixar de ficar com o coração apertado com aquilo, disse-me ainda que possivelmente não terá oportunidade de voltar a fazer isto na vida, por culpa da idade. Eu afirmei com toda a certeza que poderá voltar a fazer isto e muito mais, porque acredito mesmo que o seja, abracei ainda mais forte e fiquei cheia de orgulho do jovem de 59 anos que fez dois Caminhos a pedalar, com cerca de 300 km cada um, em autonomia total e com um espírito fantástico. Estou ansiosa por receber aquela mesma mensagem no próximo ano: "Verinha, vou e concordo com tudo"

Poderia dizer que a união faz a força

Pedalávamos numa espécie de competição entre amigos, uma brincadeira de vamos ver quem chega lá primeiro, vamos testar os limites, vamos testar a nossa velocidade e a nossa capacidade. O facto de termos os alforges e as mochilas com um peso extra não nos preocupava absolutamente nada. Eu tinha dado o mote de partida e os outros alinharam na minha loucura, foi assim durante cerca de 20 km, de um lado eu, a Sílvia e o Nuno, do outro o Vítor e o Christian. Eu, a Sílvia e o Nuno pedalávamos em conjunto, o Nuno esperou por mim e ofereceu-me a roda dele quando eu fraquejei, ambos esperamos pela Sílvia quando foi ela a ficar para trás, depois da recuperação voltávamos a puxar uns pelos outros e em determinados momentos, até o Nuno, que é mais forte que nós, precisou da nossa roda, precisou que fossemos nós a puxar por ele. Aquilo que fizemos foi um momento muito bonito para mim. Sorríamos para o Vítor e o Christian, que seguiam do outro lado, eles são muito mais fortes que nós, mas estavam a pedalar sozinhos, ambos só queriam chegar primeiro que nós, ambos só queriam provar que são mais fortes. E são. Mas em vez de se ajudarem um ao outro só pensaram neles e apesar de eu, a Sílvia e o Nuno sermos mais fracos e termos ficado para trás muitas vezes durante o trajecto chegamos primeiro. Ganhamos esta espécie de competição que não passou de uma brincadeira, mas que além de nos divertir muito, nos deu uma grande lição. Poderia dizer que a união faz a força, porque faz, mas prefiro dizer que a energia gera energia e que aproveitar a energia dos outros quando a nossa está a acabar e partilhar a nossa energia quando os outros estão mais fracos além de um fantástico gesto de amizade é também um sinal de inteligência. Eu, a Sílvia e o Nuno, unidos, fomos mais fortes. 

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Foi Adeus

Quando vou embora vou de uma só vez. Custa-me, mas depois de tomar a decisão bato a porta, tranco-a, deito a chave fora, sigo caminho sem olhar para trás. Não deixo portas entreabertas, não deixo assuntos pendentes em mim, não deixo janelas abertas no meu coração. Cá dentro ou é para sempre ou é adeus. 

terça-feira, 28 de junho de 2016

De volta à normalidade da vida

Na semana passada fiz uma encomenda de livros e outra de jerseys para pedalar. No sábado pedalei 153.7 km, no domingo e ontem também, fiz em 3 dias cerca de 220 km ao pedal. No domingo li um livro de 549 páginas sem parar, no fim escolhi imediatamente outro para ler. Ontem publiquei todos os livros em atraso no blog. Estou a trabalhar cheia de energia e a ouvir a minha música cheia de alegria. Aos poucos a vida volta à normalidade, depois de um período de inércia e cansaço, causa do excesso e concentração de paixão e de vida em dias de aventura. Os meus dias voltam a estar repletos de inspiração. Voltei a ser eu.

Ser o melhor do Mundo

O português Tiago Ferreira, com as cores da Selecção Nacional, ganhou o campeonato do Mundo de Maratonas BTT (XCM) no passado domingo, em Laissac, França. O Tiago pedalou 90 km com 3130 metros de acumulado de subida em 4h01m57s e já 21 dias antes o Tiago tinha conseguido uma medalha de prata, no campeonato da Europa.
Faço disto notícia, encho-me de orgulho daquilo que estou a escrever, não vi nenhuma capa dos jornais desportivos com o Tiago, se a notícia passou em algum canal de televisão eu também não soube disso, a nossa imprensa vive do futebol e de não notícias, esquece as outras modalidades e os campeões, no verdadeiro sentido da palavra. Para conseguir chegar a este nível o Tiago teve que trabalhar e dedicar-se muito, para cada um de nós devia ser um orgulho e uma felicidade ver as nossas cores na linha da frente da meta do campeonato Mundial. Parabéns Tiago, deve ser uma sensação do caralho, essa de ser o melhor do Mundo.

segunda-feira, 27 de junho de 2016

Os meus livros #42 - O Livro dos Baltimore

SINOPSE
Até ao dia do Drama, existiam dois ramos da família Goldman: os de Baltimore e os de Montclair. O ramo de Baltimore, próspero e bafejado pela sorte, mora numa luxuosa mansão e encarna a imagem da elite americana. Já os Goldman de Montclair são uma típica família de classe média e vivem numa casa banal em Nova Jérsia. Tudo isto se transforma com o Drama. Movido pelas memórias felizes dos tempos áureos de Baltimore, Marcus Goldman procura descobrir o que se passou no dia do Drama, que mudaria para sempre o destino da família. O que aconteceu realmente aos Goldman de Baltimore?



Tal como em A Verdade sobre o caso Harry Quebert este autor agarrou-me logo nas primeiras páginas, de tal forma que li o livro todo num só dia. 549 páginas de suspense e de concentração total.

Os meus livros #41 - Escritos Secretos

SINOPSE
Roseanne McNulty tem perto de cem anos e é a doente mais antiga do hospital de saúde mental de Roscommon. O doutor Grene, o psiquiatra encarregado da avaliação dos pacientes, sente-se intrigado pela história daquela mulher, que passou os últimos sessenta anos da sua vida em instituições psiquiátricas. Enquanto o médico investiga, Roseanne faz uma retrospectiva das suas tragédias e paixões, que vai registando no seu diário secreto, desde a turbulenta infância até ao casamento que lhe prometia a felicidade. Quando o doutor Grene desvenda por fim as circunstâncias da sua chegada ao hospital, é conduzido até um segredo chocante.

Um livro primorosamente escrito, que narra uma história trágica, fruto da ignorância e mesquinhez, mas ainda assim fortemente marcada pelo amor, pela paixão e pela esperança.



Um livro cheio de mistério. Comecei a ler num período de cansaço e por isso acompanhou-me durante muito tempo, em comparação com o que é normal em mim, isso foi bom, este não é um livro para devorar, é um livro para descobrir e saborear. 

Os meus livros #40 - Aberto toda a noite





SINOPSE

A primeira obra do autor de Saber Perder, romance distinguido com o prestigiado Prémio Nacional da Crítica.
Sobre este romance, Enrique Vila-Matas disse: «Traz humor e inteligência ao panorama da Literatura espanhola.»
Trueba, era já um dos mais importantes autores da nova literatura espanhola e vê agora as suas obras alargarem fronteiras e conquistarem o Mundo.




Descrito em apenas uma palavra: Magnífico 

Os meus livros #39 - Quando Nietzche Chorou

SINOPSE

Uma história maravilhosa acerca do amor, da redenção e do poder da amizade.

Friederich Nietzsche, o maior filósofo da Europa, está no limite de um desespero suicida, incapaz de encontrar cura para as insuportáveis enxaquecas que o afligem. Josef Breuer, médico distinto e um dos pais da Psicanálise, aceita tratar o filósofo com uma terapia nova e revolucionária: conversar com Nietzsche e, assim, tornar-se um detective na sua cabeça.

Pelas ruas, cemitérios e casas de chá da Viena do sec. XIX, estes dois gigantes do seu tempo vão conhecer-se um ao outro e, fundamentalmente, conhecer-se a si próprios.E no final não é apenas Nietzsche que exorciza os seus fantasmas. Também Breuer encontra conforto naquelas sessões e descobre a razão dos seus próprios pesadelos, insónias e obsessões sexuais.

Quando Nietzsche Chorou funde realidade e ficção, ambiente e suspense, para desvendar uma história superior sobre amor, redenção e o poder da amizade.


Uma viagem à mente humana, como eu tanto gosto. 

Os meus livros #38 - Viver depois de ti

SINOPSE
Lou Clark sabe muitas coisas. Sabe quantos passos deve dar entre a paragem do autocarro e a sua casa. Sabe que trabalha na casa de chá The Buttered Bun e sabe que não está apaixonada pelo namorado, Patrick. O que ela não sabe é que vai perder o emprego e que todas as suas certezas vão ser postas em causa.

Will Traynor sabe que o acidente de motociclo lhe tirou o desejo de viver. Sabe que agora tudo lhe parece triste e inútil e sabe como pôr fim a este sofrimento. O que não sabe é que Lou vai irromper na sua vida com toda a energia e vontade de viver. E nenhum deles sabe que as suas vidas vão mudar para sempre.

Em Viver depois de ti, Jojo Moyes aborda um tema difícil e controverso com sensibilidade e realismo, obrigando-nos a refletir sobre o direito à liberdade de escolha e as suas consequências.


O Livro que comprei porque a personagem principal tem umas meias iguais às minhas. Primeiro vi o trailer do filme e descobri as meias de abelha, depois encontrei um marcador de livros com as meias iguais às minhas e decidi procurar o livro. Nunca o compraria se não fosse assim, não gosto da capa, nem desta, com as personagens do filme, nem da edição anterior, o título é daqueles que me fariam nem olhar para o livro. O facto é que o livro nos fala de um tema muito sensível e que ler sobre este amor me fez bem. Falta-me ver o filme e comprar a segunda parte do livro, assim que estiverem disponíveis. 

Os meus livros #37 - O Terrorista de Berkeley





SINOPSE


Uma novela que confirma a excelente capacidade de Pepetela em se reinventar permanentemente em novos territórios e abordagens.




Este livro foi-me oferecido na compra de um outro, de Pepetela. O outro ainda não o li, este li-o numa hora. Fantástico. 

Os meus livros #36 - A livraria dos finais felizes

SINOPSE
Bestseller do The New York Times

"Uma história comovente sobre o poder transformador da literatura." Revista People

"Originalmente cativante.... doce, peculiar." Jornal The Washington Post 

Se a vida fosse um romance, o da Sara certamente não seria um livro de aventuras. Em vinte e oito anos nunca saiu da Suécia e nenhum encontro do destino desarrumou a sua existência. Tímida e insegura, só se sente à vontade na companhia de um bom livro e os seus melhores amigos são as personagens criadas pela imaginação dos escritores, que a fazem viver sonhos, viagens e paixões. Mas tudo muda no dia em que recebe uma carta de uma pequena cidade perdida no meio do Iowa e com um nome estranho: Broken Wheel. A remetente é uma tal Amy, uma americana de 65 anos que lhe envia um livro. E assim começa entre as duas uma correspondência afetuosa e sincera. Depois de uma intensa troca de cartas e livros, Sara consegue juntar o dinheiro para atravessar o oceano e encontrar a sua querida amiga. No entanto, Amy não está à sua espera, o seu final, infelizmente, veio mais cedo do que o esperado. E enquanto os excêntricos habitantes, de quem Amy tanto lhe tinha falado, tomam conta da assustada turista (a primeira na história de Broken Wheel), Sara decide retribuir a bondade iniciando-os no prazer da leitura. Porque rapidamente percebe que Broken Wheel precisa de um pouco de aventura, uma dose de auto-ajuda e, talvez, um pouco de romance. Em suma, esta é uma cidade que precisa de uma livraria. E Sara, que sempre preferiu os livros às pessoas, naquela aldeia de poucas gente, mas de grande coração, encontrará amizade, amor e emoções para viver. E finalmente será a verdadeira protagonista da sua vida.


Nada de muito importante a dizer sobre este livro, o único conteúdo são os livros a que se refere ao longo da história e a paixão da personagem principal pelos livros. 

Os meus livros #35 - O Deserto dos Tártaros




SINOPSE
Giovanni Drogo, recém-nomeado nomeado oficial, aproxima-se do seu destino, a fortaleza Bastiani, com um indefinível pressentimento de que algo na sua vida o conduz a uma total solidão. A fortaleza, enorme, amarela, situada nos limites do deserto, outrora reino dos míticos Tártaros, acolhe-o na sua misteriosa imponência. Dentro desta, o tenente Drogo é contaminado pelo clima heróico de avidez de glória que parece petrificar, numa espera perene, oficiais e soldados. Aguardando todos o dia em que os inimigos virão do Norte...




Chocante, um livro que nos faz pensar e repensar na vida.

quarta-feira, 22 de junho de 2016

A foto

Há, para mim, uma foto que representa cada viagem, uma foto que conta uma história, uma foto que futuramente nos fará lembrar de cada momento.

terça-feira, 21 de junho de 2016

Vida real

Continuo distraída, esquecida, no mundo da lua, ou num mundo só meu. Continuo apática, indiferente ao que passa e ao que se passa. Continuo perdida, sem rumo, de cérebro vazio e a precisar regressar rapidamente à vida real. Está a ser difícil. Nem ler consigo, não tenho concentração, olho para as páginas preenchidas com as histórias que me apaixonam e logo começo a viajar e a sonhar acordada. Na leitura está o segredo. Só quando conseguir ler é que estou pronta para regressar à vida real. Está a ser difícil, sinto a paixão em cada poro da minha pele e da minha alma, preciso muito acordar, mas será que quero acordar?

O local que conta uma história


Quando passei por aqui sozinha, em Agosto de 2015, fotografei e publiquei a imagem no meu facebook pessoal. Dos muitos comentários há um que me marcou profundamente, de uma pessoa que só precisava de um pequeno incentivo para se aventurar a cumprir os seus desejos e os seus sonhos. Respondi-lhe na altura que estava sozinha porque ela não queria vir comigo, meio em tom de brincadeira, meio em tom de empurrão. Ainda não fez um ano e já passamos por lá as duas, juntas em 545 km, ter a sua companhia foi uma das melhores coisas desta viagem. E este é o local, as setas, que contam uma história. Há agora uma fotografia exactamente igual a esta, mas com duas loiras ali plantadas, com grandes sorrisos nos rostos, com duas bicicletas, alforge e mochila, muitos aventuras em comum, muitos km nas pernas e de alma cheia. 

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Blogosfera, meu amor

Uma das minhas companheiras de viagem até Santiago de Compostela foi a Gaja Maria, uma das pessoas que o Também quero um Blog me trouxe. Isto é capaz de dizer muito sobre esta coisa de escrever num blog.

Fui adoptada

Certo dia peguei na minha bicicleta, nos meus sonhos e na minha coragem e fiz-me ao Caminho sozinha, na mochila e no alforge meti alguma roupa, alguma comida, um livro, um caderno para escrever e todo o material que havia lá em casa para reparar a bicicleta, apesar de a maior parte daquilo eu não fazer a mais pequena ideia para que caralho servia. Parti sem planos, sem previsão de etapas e sem saber exactamente onde poderia dormir, decidi viajar ao sabor da completa aventura, não tinha GPS e tão pouco conta km, segui as setas e sempre que me perdi voltei a encontrar-me. Aquilo que eu não podia imaginar quando saí de casa era que andava tanta gente no Caminho e que arranjar uma cama onde dormir fosse a maior dificuldade dessa minha aventura.
Quando cheguei a mais um albergue, com um jersey rosa da Minnie, umas meias até ao joelho, um lacinho no capacete, acessórios e bicicleta rosa e amarela apaixonaram-se por mim. Apesar de estarem esgotados, como todos os outros, não me deixaram ir embora, lembro-me de receber abraços, de receber carinhos, de tentarem fazer com que eu ficasse o mais confortável possível, ofereceram-me a melhor noite de todos os meus Caminhos e adoptaram-me, como se eu fizesse realmente parte da família. Antes de partir prometi voltar, voltar sempre, sozinha ou acompanhada, e quando liguei a avisar que ia com os meus amigos preparam tudo para nos receber como se estivéssemos em casa. O postal de agradecimento que enviei estava na parede, reconheci-o assim que me aproximei e os abraços, os mimos e os carinhos também lá continuavam, tanto que me senti a miúda mais feliz do mundo por ali estar, por fazer parte dali, por ter uma casa tão longe de casa.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Registo para memória futura


2010 - Caminho interior Português - Chaves - Santiago de Compostela
2012 - Caminho Português da Costa - Casa - Santiago de Compostela
2013 - Caminho central Português - Casa - Santiago de Compostela
2013 - Caminho Francês - Saint Jean Pied de Port - Santiago de Compostela - Finisterra
2014 - Caminho interior Português - Chaves - Santiago de Compostela - Finisterra
2015 - Caminho Inglês - Ferrol - Santiago de Compostela - Muxia - Finisterra
2015 - Caminho central Português - Casa - Santiago de Compostela (a solo)
2016 - Caminho de Santiago até Fátima - Casa - Fátima
2016 - ida - Caminho Português da Costa - Casa - Santiago de Compostela - regresso - Caminho central Português - Santiago de Compostela - Casa


Nunca vou parar de seguir as setas.

Um Mundo tão distante do Mundo

Cheguei estes dias pela oitava vez a Santiago de Compostela depois de percorrer O Caminho de Santiago, as pessoas continuam a perguntar o porquê. Porquê outra vez Santiago? O que te move? Qual é o motivo que te faz ir? Porquê esta paixão? Não sei explicar, não consigo, não há palavras suficientes para descrever o que por lá se sente.
O Caminho é um Mundo muito distante do Mundo. Lá somos todos iguais e todos estamos lá por um motivo muito forte, mesmo que alguns não saibam explicar esse motivo, como é o meu caso. Por lá reina uma calma, uma tranquilidade, uma liberdade e uma paz indescritível. Por lá somos só nós, somos únicos, por lá tudo faz sentido, tudo se encaixa, tudo se resolve, tudo tem solução, tudo se compreende. Por lá somos felizes, apesar do provável sofrimento físico. Seguir as setas que nos levam ao nosso destino é terapêutico, é apaixonante. Por lá conhecemos pessoas que vamos guardar para toda a vida, recebemos abraços de estranhos, somos tratados como se fossemos da família, somos ajudados quando mais precisamos. Por lá respira-se melhor. Por lá sentimos tanta felicidade porque estamos a chegar como tristeza porque já está a acabar. O Caminho de Santiago é um Mundo tão distante do Mundo que sempre que tenho de o abandonar me sinto perdida, levo um choque de realidade e trago um peso na alma e no coração, como se tivesse deixado alguém para trás. Este sentimento não é sobre ninguém que me acompanhou, não é sobre ninguém que tenha conhecido por lá, não é sobre alguém que conheço e que só encontro lá, é sobre mim, o que deixo para trás é a pessoa que sou e aquilo que sinto quando lá estou, naquele Mundo, tão distante do Mundo. 

quarta-feira, 15 de junho de 2016

De volta ao mundo real

Parti de casa na sexta-feira passada, com a minha bicicleta, o alforge cheio e pesado de coisas essenciais e a alma carregada de sonhos e de expectativas. Pedalei pelo Caminho Português da Costa até Santiago de Compostela com 16 companheiros de viagem e regressei a pedalar pelo Caminho central Português com 5 companheiros de aventura. No total pedalei 545 km e subi 7817 metros de acumulado. Foram muitas horas, muitas histórias, muitos momentos, muitas emoções, estou a tentar interiorizar e perceber tudo, cada sensação, cada sentimento, enquanto regresso à vida real e tento conseguir que o choque de realidade não me abale. Talvez tenha 1001 histórias para contar e escrever sobre esta viagem, talvez as queira guardar só para mim, num qualquer recanto da minha memória, do meu corpo e da minha alma, ainda não sei. O que sei é que no quarto dia da minha viagem, quando tudo parecia correr mal, estávamos nós em Pontevedra, a 200 km de casa, carregados com umas mudas de roupa, alguma comida e pouco mais, em autonomia total, com duas avarias graves nas bicicletas, uma delas que podia acabar com a viagem, uma senhora idosa parou para falar com o meu amigo, que sendo quase da minha idade parece um miúdo, passou-lhe a mão no rosto em meiguice e lhe pediu para, por favor, termos muito cuidado, porque foi assim que morreu o filho dela, atropelado de bicicleta por um camião. Há quem diga que sou corajosa por preparar e avançar para aventuras destas, mas para isso não preciso de coragem absolutamente nenhuma, isso é o meu território natural. Coragem precisei naquele dia, para desvalorizar a senhora perante o meu amigo, para não contar aos outros, para não encarar aquilo como um sinal, como um mau presságio, como um qualquer aviso, coragem precisei para continuar a viagem sem demonstrar qualquer tipo de insegurança ou de tristeza, para tentar esquecer o peso na alma e no coração, para olhar as setas e continuar a pedalar, em direcção ao nosso destino. Estamos em casa, nunca tinha regressado a casa de uma viagem assim, é uma comoção única e até agora indescritível. Já começo a pensar na próxima aventura, acho que nasci para isto. Coragem... coragem é outra coisa.

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Lá vou eu, em mais uma grande aventura


Saio de casa de bicicleta com o alforge montado e chego a casa de bicicleta com o alforge montado, vou pedalar até Santiago de Compostela pelo Caminho Português da Costa e regresso a pedalar até casa, pelo Caminho Português Central. Até daqui a 500 km. 

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Estou irremediavelmente apaixonada. Ai... (suspiro)


Ter feito uma viagem de mais de 1000 km para pedalar uma maratona uma semana antes de partir para mais uma grande viagem não terá sido a decisão mais inteligente que já tomei, mas como todas as decisões que se tomam com o coração, foi a mais acertada. Fui ao Alentejo e voltei completa e irremediavelmente apaixonada pelas paisagens, pelos cheiros, pelos sabores, pelas cores, pelo solo, pelas subidas, pelas descidas, pelos trilhos, pelas pessoas, por tudo o que me fez tomar a decisão de ir e por tudo o que desconhecia e que já trouxe como meu para sempre. Ai... (mais um suspiro) O que é que eu faço agora com tamanha paixão?

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Qualquer semelhança com a coincidência é pura realidade


Primeiro vi o trailer do filme, parece que estreia brevemente em Portugal, nem queria acreditar que uma personagem tivesse umas meias iguais às minhas, tenho mesmo de ir ver este filme, foi o que pensei. Alguns dias depois encontrei por acaso uma imagem de um marcador de livros inspirado na personagem, aquela era eu e eu tinha de ter aquele marcador, fosse de que maneira fosse. Procurei-o e mandei-o vir da Ucrânia, é feito de forma artesanal e demorou algum tempo a chegar, chegou ontem. Já depois de encomendar o marcador não podia deixar de comprar o livro, que livro era aquele afinal? Que personagem é esta que usa umas meias de abelha exactamente iguais às minhas? Este é o livro que nunca compraria se não fosse pela história que nos uniu, o título não faz o meu estilo, a capa não me diz nada, mas acabei por o ler num único dia, peguei nele de manhã e não o larguei antes de o acabar, já à noite. Sobre o livro? Falo depois, quando fizer o habitual resumo de todos os que leio, o importante agora é que o meu marcador chegou, que isto sou eu e que qualquer semelhança com a coincidência é pura realidade. 

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Enquadramentos perfeitos

Estou cada vez mais apaixonada por fotografia, gosto cada vez mais de olhar os locais e de os colocar na objectiva, dou por mim a analisar as várias possibilidades para uma foto perfeita e a pedir para me tirarem fotos, mas para não apanharem o carro ali ao fundo, nem os fios da electricidade, por favor que não cortem as muralhas ao castelo, nem as torres da igreja e que não apanhem metade da fotografia de chão para por outro lado não darem importância às nuvens e à cor do céu, para tirarem de forma que se veja as horas do relógio da torre e a melhor luz possível. Dou por mim a querer aprender mais sobre isto e a apaixonar-me irremediavelmente por as cores e os enquadramentos perfeitos. 

Está oficialmente aberta a época da caça ao mosquito

Ao final da tarde saio de casa com a minha bicicleta e a minha música e vou pedalar para a minha tão adorada pista, às vezes sozinha, às vezes acompanhada, às vezes pronta para bater tempos e cheia de energia, às vezes em modo passeio, sempre muito feliz, este bocadinho de tempo só meu inspira-me profundamente. Chego a casa de sorriso no rosto e com dezenas de mosquitos colados ao corpo. Só eu sei o que sentem os carros que viajam na auto-estrada.

quarta-feira, 1 de junho de 2016

O pódio

Havia um grupo de rapazes que tinham saído do mesmo local muito mais cedo e que viajavam com carro de apoio e um outro grupo, do qual fazem parte três miúdas, e que viajavam em autonomia total. Havia uma subida com uma inclinação brutal e cheia de buracos e de pedras. Eu era uma das três miúdas e fiz um esforço tremendo para conseguir conquistar aquela subida em cima da minha bicicleta, com o peso do alforge a minha roda da frente levantou várias vezes, tive de me concentrar a 100% para conseguir segurar na bicicleta, precisei fazer uma força impensável para colocar todo o meu peso na parte da frente da bicicleta e foi necessário respirar fundo um milhão de vezes, as pernas já doíam, a respiração estava ofegante e eu só conseguia avisar os que vinham atrás para dar um pouco de espaço, só desta forma é que me conseguiria desviar a tempo de eles passarem montados, no caso de eu não conseguir. Quando penso naqueles momentos ainda não sei como fui capaz, além da inclinação inexplicável, dos buracos e das pedras ainda tive de contornar os rapazes que iam desmontando ao longo da subida, aqueles tais que tinham saído bem mais cedo que nós, que tinham carro de apoio e que sem peso nenhum com eles faziam aquilo desmontados. Subi sempre com a sensação que estava no meu limite, acho que se uma formiga tivesse espirrado perto do meu pneu me tinha atirado ao chão, mas o certo é que consegui. E quando olhei para trás lá estava a Paulinha, e quando voltei a olhar lá estava a Sílvia, as três tínhamos conseguido fazer aquilo com todo o peso das nossas coisas na bicicleta e às costas, foi uma felicidade tremenda aquele momento. Os rapazes? Uns ficaram com cara de poucos amigos por não terem conseguido e nem nos falaram, outros deram-nos os parabéns, nem queriam acreditar e aposto que ainda daqui a alguns anos todos se vão lembrar de nós, das três miúdas que unidas conseguiram o impensável. Haverá pódio melhor que este? 

Maio 2016