Das mudanças...

Primeiro arrumei a gaveta, depois a mesa, depois as restantes gavetas e os armários. Separei os documentos importantes que ainda me podem fazer falta, dos que vão para o arquivo morto e dos que podem ir para o lixo, separei o material. Em cada documento uma recordação. A lembrança do stress e das portas a bater, da correria e da mesa sem espaço para mais papel. A lembrança dos almoços em grupo, das amizades, das gargalhadas. A lembrança das pessoas, uma por uma, que foram passando e partindo e das que foram ficando. Encontrei o postal que um amigo me mandou de Budapest em 2007, encontrei a cópia dos documentos do acidente em que o senhor idoso quase me matava sem notar a minha presença, encontrei bilhetes com recados que me fizeram sorrir, encontrei a cusca, uma cadelinha de peluche que me ofereceu a filha de uma colega, encontrei desenhos do meu sobrinho que fui guardando, encontrei os documentos do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras a mandar o meu amigo Ravi de volta para a India, fiquei triste. Só agora que está tudo arrumado me apercebi que toda a minha vida profissional está ali, dentro daquelas caixas. E a mudança... bem... a mudança é muito boa, mas deixa uma nostalgia...