terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Entrelinhas

Saio do conforto de casa e vou de encontro à montanha e aos trilhos mais técnicos, levo os pés encaixados, a cabeça protegida e o corpo pronto para aguentar as possíveis quedas, penso eu. Reduzo as velocidades e subo até ao topo, a respiração fica ofegante e difícil de controlar, as pernas doem e às vezes torna-se difícil não parar a meio para recuperar, o trajecto nem sempre é fácil e há pedras para subir, rios para passar, buracos para ultrapassar e obstáculos para contornar, o chão está húmido nesta altura e o mato e as silvas arranham as roupas que nos protegem o corpo e a pele por estes dias, no Verão não tenho essa sorte, volto sempre com marcas para o mundo real. É preciso aprender a técnica na montanha, se a subida for íngreme e longa temos de controlar o ritmo para conseguir chegar razoavelmente ao topo, se o trilho for muito técnico é preciso pedalar leve e rápido, para passar todos os obstáculos, mas não tão leve e tão rápido que nos faça perder o controlo na bicicleta. O corpo tem de estar inclinado para a frente nas subidas com mais inclinação, para conseguir ultrapassar o chão em mau estado e não ter de desmontar. Nem sempre isso é possível, às vezes é mesmo preciso descer da bicicleta e carregá-la às costas durante um tempo, não é grave, faz parte, o importante é não desistir da meta que a nossa cabeça marcou para atingir.
O topo da montanha e a visão do mundo que tenho lá em cima compensa todo o esforço. O sentimento de superação é tão intenso que me faz querer sempre mais.
As descidas são mais fáceis, ou não, dependendo do dia e do trilho que escolho para descer, nas descidas é preciso puxar o corpo para trás e arriscar, há muitas pedras e muitos buracos para passar, é preciso olhar sempre uns metros à frente para escolher o melhor trajecto, é preciso travar sempre no momento certo, a fundo só com o travão de trás, o da frente só ajuda. É bom que se tenha os pneus na pressão certa e a suspensão afinada. As quedas são certas, só falta saber como e quando, porque toda a gente vai cair a descer um dia destes. O segredo é levantar e voltar a montar, se os estragos não forem grandes, se forem é pedir ajuda e ter a certeza que a pausa pode ser necessária mas será breve.
Eu aproveito cada subida e cada descida intensamente, é na montanha que me sinto em casa. O trilho para chegar a este topo onde me encontro não foi fácil, mas passei e contornei bem todas as dificuldades. O acumulado de subida foi o mais difícil de sempre e talvez ainda seja preciso subir mais um pouco para atingir o marco que me indica o ponto mais alto. Por enquanto tenho tudo perfeitamente descontrolado, vou curtindo os trilhos e aproveitando as descidas como posso. Estou sem travões.  

3 comentários:

  1. Olá Loira,
    metáforas à parte - e o último parágrafo é uma bela metáfora - fizeste aqui um fantástico curso para BTT em 2 minutos.

    Boas festas e boas pedaladas

    João

    ResponderEliminar

Aqui não há censura...