Como é óbvio, não podia sair para O Caminho sem levar comigo um caderno onde pudesse escrever todos os pormenores de cada dia, todos os meus pensamentos e todos os tópicos sobre os quais queria pensar e desenvolver mais tarde. Passei os primeiros dias com umas páginas ocupadas com coisas que nunca poderiam sair do caderno e com todas as restantes folhas em branco. Era como se a minha vontade e a minha paixão pela escrita tivessem desaparecido por completo e para sempre. As coisas mais inspiradas e mais importantes que disse, senti ou pensei não as apontei, saíram-me do fundo da alma e ficaram perdidas pelos recantos do Caminho. Num daqueles dias pensei até em transportar o meu caderno em branco até ao último dia para depois o deixar algures, praticamente intacto, antes de chegar a Santiago. As lágrimas mudaram tudo. No primeiro dia de emoção, quando faltava já muito pouco para chegar ao destino, depois de chorar como há muito não acontecia, sentei-me num bosque, pus a música a tocar e escrevi sem parar, não sei quanto tempo lá estive, mas foi dali, daquele tempo só meu que trouxe tudo aquilo que queria mostrar ao mundo, foi ali que despi a alma para as folhas em branco e que consegui conjugar todos os meus sentimentos e todas as minhas reflexões.
Só por isso valeu a pena o Caminho.
ResponderEliminarJá sabe, se quiser transcrever para aqui qualquer coisa, cá estaremos para ler.