Li por estes dias o livro Quem quer ser bilionário, quando a adaptação ao cinema saiu, há anos atrás, o Ravi disse-me para o ir ver, teria ido de qualquer forma mas o Ravi explicou-me que o filme retratava a Índia dele, falou-me dos pormenores, disse-me para estar atenta a algumas coisas e falou-me de locais e de formas de vida que eu desconhecia por completo.
O Ravi trabalhou comigo durante alguns meses, tinha data marcada para regressar à Índia, estava de casamento marcado e tinha que ser naquela data exacta, nem mais um dia, nem menos um dia, os astros diziam que eles tinham que casar naquele dia, senão nunca mais casariam. O Ravi aproveitou a oportunidade única na vida de trabalho fora da Índia e veio, ainda que com a ressalva de voltar para aquele dia, o dia exacto que tinha de casar, senão nunca mais. E o Ravi regressou à sua Índia, com a notícia de que não poderia mais voltar e com a esperança que as coisas ainda pudessem mudar. O SEF não deu a autorização ao Ravi de voltar, apesar de ele ter residência em Portugal e de ter um contrato de trabalho assinado. A firma onde eu trabalhava na altura teve ainda de assinar um documento em que se responsabilizava por qualquer acto que o Ravi pudesse cometer enquanto esperava por outro avião na Alemanha, qualquer acto que ele pudesse cometer dentro do aeroporto durante um par de horas, uma vez que não tinha sequer autorização para sair do aeroporto, assim mesmo, como se fosse um foragido. O Ravi que só queria casar e voltar para cá já com a mulher para trabalhar, o Ravi que ficava com os olhos a brilhar só de falar na forma como conseguimos por cá organizar o trânsito e da limpeza nas ruas.
O Ravi partiu triste, com a esperança de voltar um dia, esperança essa que nunca mais se concretizou, mas voltou feliz, com um sorriso fantástico através das fotos do casamento. A vida é feita de opções e de oportunidades, mas há pessoas que nascem já com as oportunidades muito limitadas.
Enfim, o livro não tem nada a ver com o filme, o livro não me mostrou os pormenores da Índia do Ravi e não me emocionou como o filme, talvez a culpa tenha sido do Ravi mas eu passei o filme a chorar e a rir e a chorar novamente. Um destes dias tenho que rever o filme e mandar um email ao Ravi, há muito tempo que não tenho notícias dele.
Julho de 2014
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