sábado, 5 de agosto de 2017

Reler-me #37

O dia em que fugi de casa

Ainda não tinha dois anos e já eu achava que podia fazer o que bem me apetecia, fugi de casa. A minha família entrou em pânico, a minha mãe começou aos gritos, o meu pai a procurar-me, a minha avó dizem que rezava, a minha madrinha não sabia se havia de acalmar a minha mãe ou ajudar o meu pai a procurar, o meu tio agarrou a minha prima pela mão e foi na direcção oposta ao meu pai. Gritavam pelo meu nome mas eu não respondia. A minha mãe só chorava "Ai... a minha menina", "Ai... a minha filhinha". O pânico, o horror, a tragédia. Foram encontrar-me bem perto, estava no quintal da minha avó, sentada na terra a comer tomates directamente do tomateiro.

E como é que eu sei isto tudo? Porque até hoje, quando me perguntam o que quero lanchar e eu pergunto se têm tomate, quando peço tomate ao almoço ou ao jantar, ou quando estou a comer tomate e afirmo que sim, que adoro tomate, todos me contam (outra vez) a mesma história. O meu pai continua a rir-se de cada vez que se lembra da minha cara suja de terra e de satisfação, enquanto comia os tomates da minha avó.

Parece que sempre fui uma rebelde, houve até o dia em que fugi de casa, para poder comer tomates à vontade. 

Julho de 2015

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