A Dias Cães foi aprender a dançar ballet aos trinta e quatro anos e contou-nos de uma forma espectacular como isso foi a coisa mais bonita que já fez por ela. Li aquele post com emoção e orgulho porque me identifiquei com cada linha e com cada sentimento escondido nas entrelinhas.
Talvez seja muito complicado para alguns (para a maioria) perceber porque é que a coisa mais bonita que já fiz por mim foi ter pegado numa bicicleta, há alguns anos atrás, e ter ido pedalar para o monte. Talvez um dia destes a vida me faça mudar de ideias, mas duvido.
Ter ido com a minha bicicleta para a montanha aquele primeiro dia e todos os outros que se seguiram fez de mim uma pessoa diferente, fez-me olhar para a vida e para o mundo de outra perspectiva, ensinou-me a analisar as pessoas de uma forma que nunca conseguiria e o mais importante, ensinou-me a conhecer-me a mim própria, como nunca tinha sido capaz. Ter ido com a minha bicicleta para a montanha aquele primeiro dia e nunca ter desistido de ir uma e outra e outra vez fez-me conhecer locais que nunca conheceria por outros meios, trouxe para a minha vida pessoas sem as quais já não me consigo imaginar, proporcionou-me as maiores dores e os maiores prazeres, fez-me sentir as coisas, o mundo, a vida de um modo especial. Ter ido com a minha bicicleta para a montanha aquele primeiro dia e todos os dias fez-me olhar para mim com orgulho, fez-me gostar mais de mim, fez-me parar muitas vezes para pensar que sou mesmo eu, que estou mesmo a fazer aquilo, que sou espectacular, fez-me admirar a minha coragem, gostar de nós é único, todos deveriam saber o que isso é. Claro que já me senti muito mal na montanha, claro que já me apeteceu milhões de vezes deixar a bicicleta para trás e vir a pé para casa, sentar-me confortavelmente no sofá a ler, mas essa sensação passa muito depressa, não há meta que não traga alegria, orgulho e ensinamento, não há meta que não peça mais, não há meta que não seja um novo começo. Ir com a minha bicicleta para a montanha dá-me histórias, experiência, sorrisos, pessoas, lágrimas, emoções, dores, prazer, sítios, amizades eternas, dá-me inumeráveis sentimentos, dá-me vida. E por isso, sim, ter ido aquele dia com a minha bicicleta para a montanha e ter feito disso uma forma de vida foi a coisa mais bonita que já fiz por mim, porque olho para trás e não sei como seria se não fosse assim, porque fez de mim grande parte daquilo que sou hoje.
Talvez seja muito complicado para alguns (para a maioria) perceber isto, mas talvez, como me disse a Dias Cães, isto seja inspirador para as pessoas que merecem saber o quão bom é esfolar os joelhos.
Julho de 2015
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