Todos os Caminhos me mudam. Uns com mais, outros com menos intensidade, mas quando saio de casa com a bicicleta carregada do que é essencial à sobrevivência e à continuação da viagem em caso de azar e nada mais, sei que hei-de voltar diferente. É impossível ser a mesma pessoa depois das experiências e dos ensinamentos que cada viagem nos faculta. Ainda a digerir os meus 5 dias de pedalada, os 480 km e os 7000 mt de acumulado de subida debaixo de um calor intenso, abrasador, quase insuportável, tenho já a certeza que esta viagem me ensinou a relativizar. Cheguei à meta a dar mais importância a tudo o que O Caminho me deu de bom e a desvalorizar aquilo que me deu de mau. Cheguei à meta calma, serena, tranquila e em paz, mesmo que tudo apontasse para que assim não acontecesse.
Naquele que considero o dia mais duro da viagem, quando tinha a garganta completamente seca e arranhada pelo calor tórrido que se fazia sentir olhei para a direita e vi uma máquina de água com água fresca e vários limões, no muro de uma casa de alguém que sabe que quem lá passa precisa de mimos e de esperança. Água fresca e um limão era tudo o que eu precisava naquela hora. Água fresca e um limão, coisas tão básicas na nossa vida e às quais não damos nenhum valor. Água fresca e um limão, que me renovaram a alma e me fizeram sorrir do fundo do coração. Cheguei à meta a dar mais importância a tudo o que O Caminho me deu de bom e a desvalorizar aquilo que me deu de mau. Ainda antes do final da viagem recebi notícias da tragédia que acontecia no meu país, nos locais por onde eu tinha passado ainda uns dias antes, a pedalar em direcção a um mundo só meu, só nosso, de quem percebe o que procuramos quando saímos de casa assim. Não vale a pena dar importância às pequenas coisas que nos acontecem de mau, um dia destes a vida encarrega-se de nos pôr à prova e nessa altura já o mundo será demasiado duro. Por enquanto, se a vida te der limões faz limonada. Faz limonada e segue Caminho, porque a limonada pode ser tudo o que tu precisas naquele momento.
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