I remember this...

Estavamos nós para aqui a falar dos tempos de adolescentes, dos tempos de inocência, dos amigos e das brincadeiras, quando me lembrei de uma coisa. Do meu primeiro namorado, do meu primeiro beijo, do meu primeiro amor, do Filipe.

Do Filipe, que apesar de andar 4 anos de escolaridade adiantado de mim, tinha um orgulho imenso em passear pela escola comigo de mãos dadas. Do Filipe e dos beijos trocados atrás do pavilhão C. Do Filipe e das "idas à casa de banho" a meio da aula, exactamente à mesma hora, só para matar as saudades, afinal uma hora, era tanto tempo. Do Filipe e dos últimos minutos aproveitados antes do autocarro. Do Filipe que dizia "Amo-te" ao final do dia, subia as escadas a correr e caminhava o resto da rua virado para trás, enquanto eu continuava lá. Do Filipe que me levava a exposições de fotografia e sobre o Hitler, enquanto as minhas amigas ficavam a ver os namorados jogar futebol. Do Filipe que me dizia que não conseguia ser como Newton e Descartes, que explicaram as leis da gravidade e da matemática, porque o amor dele era inexplicável. Do Filipe e dos planos para o futuro, como se o futuro fosse já ali, fosse já amanhã.

Durante os primeiros anos de afastamento continuei a ter notícias do Filipe, através da prima dele que era minha amiga:

"O Filipe conseguiu entrar no curso que queria"

"O Filipe perguntou-me por ti"

"O Filipe estava dentro do carro quando passaste"

"O Filipe acabou o curso, já é enfermeiro"

Depois, também eu e a prima do Filipe seguimos caminhos diferentes e deixei de ouvir falar dele. Agora ocorreu-me um pensamento: todas as pessoas deveriam ter um registo, que pudessemos consultar, sempre que nos lembramos delas, e que foram importantes.