sábado, 20 de fevereiro de 2016

Atrás de uma grande fotografia, está sempre uma grande história #1


Em Agosto passado decidi pedalar de casa até Santiago de Compostela pelo Caminho completamente sozinha. Tinha comprado a minha bicicleta nova há cerca de quatro meses e ainda não me tinha cansado com ela, apesar de já termos feito juntas milhares de km, entre os quais duas grandes viagens, estava por isso com a sensação de que era a super mulher. Isto levou-me a colocar demasiado peso na minha bagagem, um erro que sei há muito tempo que nunca devemos cometer.
Armada em parva, levei alforge e mochila, ambos cheios, quando tinha de pegar na bicicleta à mão não tinha posição para a agarrar e isso fazia com que tivesse de a arrastar, o que me provocava fortes dores nos braços e nos ombros, que traziam o peso da mochila. Levei uma roupa para cada dia, para não ter de me preocupar em lavar nenhuma peça. Levei um livro para ler, apesar de não ter lido nem uma página. Levei uma agenda para escrever, apesar de também ter levado o tablet e o telemóvel. Levei todo o material que havia lá em casa para reparar a bicicleta em caso de avaria, apesar de a maior parte dele eu não fazer a mais pequena ideia para que caralho servia. Levei ainda as coisas essenciais, que levo em todas as viagens.
Obviamente que não fiz a viagem com a facilidade a que estava habituada, todo o peso extra, o facto de ir sozinha e o calor que se fazia sentir fizeram-me sentir cansada algumas vezes, mas principalmente uma.
Passou-se no segundo dia, quando eu já tinha percebido há muito que arranjar onde dormir não seria tarefa fácil e quando segundo os meus cálculos, que por acaso estavam completamente errados, eu estava atrasadíssima para aquilo que tinha planeado e nunca na vida conseguiria chegar a horas decentes à cidade que queria, para poder arranjar uma cama e descansar algum tempo. Estava quase a chegar a hora de almoço em Espanha e a subida nunca mais acabava, eu ainda só tinha comido um pêssego e um tomate e estava cheia de fome, o calor fazia com que mal conseguisse respirar e uma inclinação que normalmente faria a brincar fez-me saltar fora da bicicleta para percorrer o trajecto a pé, enquanto a arrastava atrás de mim. Naquele momento senti-me completamente sozinha, completamente sem força e completamente destronada. Resolvi sentar-me um pouco e comer uns frutos secos, precisava respirar e pensar. O meu pai fazia anos por isso telefonei-lhe. Quando desliguei telefonei ao Moreno, que pelo meu tom de voz percebeu imediatamente que algo se passava, expliquei-lhe o que estava a sentir e ele, com aquela mania que tem de me proteger, desprotegendo-me, disse-me que quem decidiu ir sozinha fui eu, que estar ali era aquilo que eu queria e que só tinha duas opções, se me sentisse capaz continuava, se não arranjava onde ficar naquela zona e adiava a minha chegada a Santiago. Depois de desligar o telefone, respirei fundo, senti-me novamente capaz, peguei na bicicleta e continuei, uns metros mais à frente olhei para a seta que me apontava para cima, a subida continuava, e li aquele "segue o teu coração", que marcou a minha viagem, o meu caminho solitário. Nesse dia  e em todos os outros cheguei cedo, muito mais cedo do que aquilo que poderia imaginar, no meio do cansaço acabei por fazer a viagem muito bem e com a certeza de que seguir o meu coração é sempre o melhor caminho.

8 comentários:

  1. E é por estas e por outras que não, não podes deixar de escrever.

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    1. Ups! O meu comentário saiu em duplicado. Não percebo como é que isto volta e meia acontece. Vou eliminar.

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    2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Ganda gaja foda-se!! o problema esteve sempre nos saltos altos!!!! quando for assim, calça uns sapatos de encaixe para a bike ;)

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  4. Nunca me vou esquecer "segue o teu coração" :)

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  5. Tu tens um grande coração e deves ouvi-lo mas também tens "tomates".
    És grande!

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