Decorria o longínquo ano de 2018, estava eu a fazer o #Festive500, que consiste em pedalar 500 quilómetros entre o Natal e o Ano Novo e já depois de ultrapassar a meta do desafio, amanheceu um 31 de Dezembro solarengo e eu acordei cedo para a última volta do ano e do #Festivemaisde500.
Já depois de alguns quilómetros percorridos e quase a chegar ao topo ambicionado paramos momentaneamente para fazer umas chamadas necessárias, colocar água fresca no bidão e respirar fundo para aproveitar o sol de inverno no rosto. Neste momento de pausa passam dois ciclistas a descer e o segundo tem uma queda tão aparatosa, tão assustadora, tão irreal, tão chocante, mesmo à nossa frente, que a reacção depois de chamar a ambulância foi entrar em pânico e pensar abandonar a vida ao pedal para sempre.
O Gonçalo caiu, quando me consegui acalmar fiquei a saber que tem 16 anos, não tem redes sociais, nem quer, por isso não me valia de nada procurar por ele para saber notícias, a ambulância demorou mais de uma hora por isso tive tempo de saber muito mais, o Gonçalo tem os olhos azuis mais lindos que eu já vi e segundo o próprio tinha sonhado com o acidente meses antes, descreveu-me todo o cenário, perguntou-me mil vezes como perdeu o controlo da bicicleta e como conseguiu voar até chegar ali, o Gonçalo sorria quando eu o tentava acalmar e dizia-me que estava mais calmo que eu, quase em hipotermia dizia-me para eu não ficar assustada que ele estava bem e que já tinha passado por muito na vida, aquilo não era nada. O Gonçalo ficou com algumas mazelas pelo corpo e a clavícula partida, soube-o eu pelo amigo que o acompanhava, ainda antes das últimas horas do ano.
Foi naquela passagem de ano que prometi ao Gonçalo e ao Paulo voltar a encontra-los na Rota do Fumeiro, passeio que já nessa altura estavam a organizar e que aconteceu por estes dias. Não estive com o Gonçalo mas o Paulo disse-me que apesar de traumatizado ele está bem e que apanhou o maior susto da vida dele. Gonçalo, querido, eu também.
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