Desde que comecei a pedalar que andava a dizer a meio mundo que o meu sonho era pedalar na neve, imaginava-me no topo da montanha, rodeada de branco, com um grande sorriso no rosto e a tirar fotos incríveis com a bicicleta mais gira do mundo, a minha, claro. Pedalar trouxe-me isso, pequenos sonhos que se tornam grandes conquistas.
Sábado partimos para mais uma aventura ao pedal e depois de percorrermos vários quilómetros de trilhos não cicláveis, se fazermos subidas e descidas com a bicicleta às costas, depois de passarmos rios e cascatas, pedras, raízes, lama e de estarmos com os pés completamente molhados e gelados percebemos que a neve já não estava lá ao longe no topo da montanha, que nós já estávamos na neve e que o topo da montanha branca era o nosso destino. Pedalar era praticamente impossível na maior parte do trajecto e a única alternativa era subir todos aqueles quilómetros a arrastar a bicicleta connosco, ou a suportar o seu peso às costas, com os pés completamente congelados num calçado que não é próprio de caminhar. Partes do percurso tornavam-se desesperantes e num momento em que me apeteceu animar uma das minhas amigas disse-lhe isso mesmo, que sempre tive o sonho de pedalar na neve, ela perguntou como é que eu me estava a sentir e eu disse-lhe que estava feliz, toda fodida, mas feliz. Alcançamos o topo da montanha e fizemos a descida ainda com neve até à nossa meta. Eu olhei para trás e vi-me no topo da montanha, rodeada de branco, com um grande sorriso no rosto e a tirar fotos incríveis com a bicicleta mais gira do mundo, a minha, claro. Tive frio, tive dores, caí, mas o fim compensou, compensa sempre, porque mesmo quando estou toda fodida, continuo feliz. Os pés? Esses ainda doem, mas isso é só um pequeno pormenor, dos tais pequenos sonhos que se tornam grandes conquistas.