Talvez seja pertinente dividir o meu ano em dois, agora que me decidi a fazer esta cena da retrospectiva, do balanço, ou o caralho que isto é afinal.
A primeira parte do meu ano não passou de uma continuação daquilo que sempre foi, eu feliz, a pedalar à chuva e ao sol, a cair e a levantar-me logo a seguir, a fazer planos e pô-los em prática, a conquistar cumes, a viver na montanha, a partir à aventura, a viajar em autonomia, a conquistar chão e histórias, a ler os meus livros, a escrever as minhas paixões, a comprar as minhas meias e a coleccionar equipamentos e paneleirices para pedalar, sempre rodeada dos melhores amigos e das minhas pessoas. Essencialmente, eu feliz, com tudo isto e muito mais, porque toda a gente sabe que há partes de vida que não se falam no blog, ou toda a gente devia saber, que a vida é muito mais que as coisas que se partilham.
Até que um dia deste meu ano, que aparentemente era igual a qualquer outro, decidi partir e caminhar com uma mochila às costas. Lembro-me de receber mensagem da Su antes de partir a dizer que aquele ia ser O Caminho da minha vida, e juro que se ela me volta a dizer uma merda destas eu já nem saio de casa, porque a minha vida nunca mais foi a mesma.
Nunca pensei que caminhar pudesse doer tanto, no corpo e na alma. Nunca me tinha acontecido ter tanto tempo para pensar como nestes dias em que caminhei. Nunca me tinha sentido tão sozinha, tão forte, tão em paz, tão tranquila e tão corajosa. Foram dias muito intensos, foram dias de confissões, de pensamentos, de recordações, de descobertas, de uma enorme amizade com quem se pode partilhar absolutamente tudo, foram dias especiais, de emoção, de paixão, de conclusões.
No fim da caminhada, ao meu destino, cheguei de sorriso no rosto e de alma lavada, durante O Caminho tudo se encaixou e tudo fez sentido, quando dei o último passo sabia que aquela meta era só o início de uma nova etapa na minha vida.
Voltei para o mundo real mais apaixonada pela vida que nunca, sabendo que parte da minha felicidade antes de tudo isto não era real e com a certeza que havia muito para mudar. Foi isso que fiz, aquilo que era preciso para que o meu mundo voltasse a fazer sentido. Não foi fácil, não foi nada fácil, doeu. Descarrilei o comboio da minha vida e segui sozinha, segui o meu coração. Precisei de muita coragem, mas essa nunca me faltou e por isso termino o meu ano orgulhosa de mim mesma e com a certeza que estou pronta para enfrentar o mundo a qualquer momento.
Tenho de lado, para ler daqui a uns dias, um livro de David Trueba que diz: "Para ser feliz é imprescindível saber perder", 2016 fez-me perder muito, mas não consigo deixar de acreditar que me fez ganhar muito mais. Adeus 2016, serás para sempre o ano que mudou a minha vida.