segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Breve resumo das minhas férias

Fui de férias sem qualquer plano a não ser limpar os vidros, lavar as cortinas e ler muito, a data das férias do Moreno ainda era incerta e eu só conseguia visionar umas férias solitárias e de merda.
Na primeira semana, por grande coincidência, trocaram as férias da Su e ela ficou fodida porque estava sozinha, eu estava tão fodida como ela, fiz uma mochila, peguei na minha bicicleta e apanhei um comboio e depois outro e mais outro e quando saí lá estava ela, à minha espera e pronta para umas pedaladas e uns dias entre a praia, a montanha, muitas conversas e muitas gargalhadas. Carreguei dois livros na mochila que vieram praticamente intactos, valeu-me as horas nos comboios. Voltei a casa no final da semana para um nocturno fantástico e entre amigos que estava há muito tempo planeado.
Na segunda semana limpei os vidros e lavei as cortinas rapidamente, antes de preparar de novo a mochila, montar os alforges e partir para O meu Caminho solitário. Saí de casa um dia bem cedo e pedalei até Santiago de Compostela. Foram dias cheios de aventura, de emoções e de felicidade. Carreguei às costas o peso de um livro que trouxe para casa exactamente na mesma página onde tinha partido.
Na terceira semana o Moreno conseguiu, finalmente ter férias, fizemos as malas, colocamos as bicicletas nos suportes do carro e lá fomos nós, sem destino. Paramos onde nos pareceu bem parar e ocupamos os dias entre pedaladas, piscina, boas refeições e praia. Levei cinco livros, terminei de ler o que estava começado, li mais um e ainda me deu tempo de ler as primeiras páginas de outro.
Hoje posso finalmente descansar, estou aqui, sentadinha na minha cadeira do escritório, no meu primeiro dia de trabalho e posso dizer que foi tudo perfeito nas últimas três semanas, só precisava de mais uma semana para ler, ler foi o que me ficou a faltar.

domingo, 23 de agosto de 2015

A ESPECIAL

No meu Caminho solitário fui a única miúda a pedalar sozinha e em autonomia, fui a miúda com a bicicleta mais gira do mundo, fui a única portuguesa numa mesa cheia de espanhóis, fui a que desce como uma louca, fui a única a fazer O Caminho completamente sozinha porque todos os que começaram a solo já arranjaram entretanto uma companhia, fui a misteriosa, fui a inspiradora, fui a que pedala no meio dos que caminham, fui a que desperta curiosidade, fui a que chamou a atenção, fui a que todos chamavam e a que todos queriam falar, fui a miúda da Minnie, a miúda do gato da Alice no país das maravilhas, fui la chica da bici, a miúda do laço, fui a mais solitária e a que mais gente encontrou, fui a que fiz as etapas mais longas, fui a que tem muitas histórias para contar, fui a que mais Caminhos já fez, fui a recebeu abraços sinceros, fui a recebeu lágrimas de emoção, fui a que fez amigos, fui a que todos queriam ouvir, fui a que deixou alguns com um orgulho imenso, fui a que os que passavam comentavam, fui a que encontrou dois conterrâneos, fui a que ninguém entendia e a que não entendia ninguém, fui a que se fez entender, fui a destemida, fui a engraçada, fui a primeira a chegar e a única que ansiava por mais tempo, fui a que todos queriam proteger, fui a que tinha mais dificuldade a subir, fui a que transportava um livro e que não leu nem uma página, fui a que se sentava a um canto a escrever, fui a única que pediu mais um copo de la queimada, fui a que recebeu mimos e sorrisos de carinho, fui a diferente, fui a especial. 

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

O meu Caminho solitário #5

Conheci 3 rapazes espanhóis que partiram a pedalar de Málaga, no dia 27 de Julho, há 26 dias, têm neste momento cerca de 1500 km no contador, estão a 1 dia e a 40 km de Santiago. Tentavam explicar-me a tristeza de já estar a acabar, não foi preciso grande esforço, eu percebi-lhes demasiado bem o sentimento.

O meu Caminho solitário #4

Há demasiada gente no Caminho, encontrar local para dormir é muito complicado. Quando cheguei ao albergue o dono mandou-me embora, estava cheio, como todos os outros nos arredores, mas a esposa e a filha gostaram tanto do meu Jersey da Minnie e do laço que trago no capacete que pediram por favor para se arranjar um colchão para mim. No café todos começaram a pedir, "a Minnie merece ficar", "a Minnie de bicicleta tem de ficar". Hoje durmo no chão, num colchão, graças à Minnie, ao laço e a todos os presentes.

O meu Caminho solitário #3

Este ano ainda não tinha sofrido em cima da minha bicicleta, apesar de já ter feito duas grandes viagens e muitas aventuras, esta é sem dúvida a minha grande prova, estou cansada,  mas estou feliz.
Estar sozinha não é fácil e ao mesmo tempo pode ser o melhor do mundo. Tudo se sente com mais intensidade, todos os nossos sentidos estão completamente alerta. Nas dificuldades só podemos contar connosco e na superação o sentimento é tão intenso que para mim é inexplicável.

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

O meu Caminho solitário #2

O meu Caminho solitário #1

Quando cheguei ao café estavam três idosos sentados na esplanada,  dois homens e uma mulher, daqueles que têm ar de quem sempre lá esteve. Depois de mim chegaram três alemães,  eu juntei-me aos idosos, puxei conversa e eles quiseram saber o que era exactamente O Caminho, acho que nunca ninguém lhes explicou, apesar de já lá terem passado milhares de pessoas, achavam que quando chegamos a Santiago alguém nos pagava uma quantia em dinheiro pelo nosso esforço, era a única explicação que encontravam para tanta gente se dirigir para lá.  Contei-lhes do Caminho e de mim, disse-lhes que era a sétima vez que estava a Caminho de Santiago, falei-lhes do Caminho Francês,  seguiram-se expressões de admiração e tentaram avisar-me da dificuldade da serra que me esperava. Despedi-me dos alemães e abandonei os idosos, segui O meu Caminho solitário, mas ainda ouvi um deles a murmurar um "ela é fodida" e ficaram os três a discutir até onde conseguiria chegar cada um deles. O Caminho é bem capaz de ser isto, ter um bocadinho de tempo para os outros. E para nós. 

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Mais uma vez O Caminho *

Tenho tudo pronto para partir mais uma vez para O Caminho, será o meu sétimo Caminho e o primeiro a solo. Não sei se este será o meu grande teste, possivelmente sim, sei que será uma grande aventura, diferente de todos os Caminhos até agora, nenhum Caminho é igual mas este promete ser especial. Amanhã parto bem cedo, eu, a minha bicicleta, os alforges, a mochila e O Caminho. Até já.



* Eu sei que vocês estão todos de férias mas pelamordasanta rezem para eu não ter nenhuma avaria que não consiga resolver na minha bicicleta.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Sequência de factos e acções

Um destes dias levantei-me bem cedo, na zona centro do país, ainda não tinha amanhecido e já eu estava a pedalar. Era o dia do regresso a casa e do nocturno ao qual eu não podia faltar. Um destes dias liguei as luzes, no norte, e pedalei até ser noite. Um destes dias, no mesmo dia, em cima da minha bicicleta, vi o nascer do sol numa montanha do centro do país e vi o pôr-do-sol numa montanha do norte do país. Quando pensei nisso parei por um instante para respirar fundo e para guardar na minha memória este dia. Porque este dia é digno de ficar para a história. Para a minha história. 

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Primeiro dia de férias

Saí de casa às cinco e meia da manhã, o dia ainda não tinha nascido e já eu estava a pedalar, com uma grande mochila às costas e um sorriso ainda maior no rosto. Trinta quilómetros, primeiro comboio, segundo comboio, terceiro comboio, quatro horas depois tinha a Su à minha espera, mais setenta quilómetros de pedalada, um grande almoço, muitas fotos, uma visita à feira do livro e um final de tarde estendidas na areia, com as ondas em plano de fundo. Há dias perfeitos. Descansar? Claro que sim, quando regressar ao trabalho. 

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

A magia do Caminho

Há quem não perceba esta paixão que eu tenho e que muitos têm pelo Caminho. Há quem se pergunte o que vamos nós lá buscar e porque depois da primeira vez nunca mais deixamos de lá voltar. Há quem não entenda o que tem O Caminho que nos chama uma e outra vez, que nos muda. Não sei explicar, acho que nunca serei capaz de responder a esse tipo de perguntas, a única coisa que posso fazer é tentar passar a magia do Caminho contando histórias, descrevendo emoções e dando certezas absolutas que tudo o que escrevo será sempre muito pouco para que alguém que nunca fez O Caminho perceba o que é O Caminho.

A Joana mandou mensagem um dia destes, muito emocionada porque alguém num grupo de peregrinos a Santiago de que fazemos parte publicou uma foto com a pedrinha que ela tinha deixado em homenagem à amiga.

Eu e a Su fomos ver a foto e soubemos imediatamente onde estava aquela pedra, no dia em que acompanhei a Su no seu Caminho solitário ao chegar ao local a Su pegou na pedrinha na mão e perguntou se a pessoa a quem pertence a pedra se chamaria Coimbra ou se seria de Coimbra, eu fui ter com a Su, disse que a pedrinha estava lá há pouco tempo e que era lindíssima e exactamente igual às minhas pedrinhas, que espalhei no Caminho Francês. 

A Joana disse-nos que a Lúcia Coimbra era a mesma que tinha jantado connosco no fim de semana em que nos juntamos as três.

Uma simples pedrinha que foi fotografada por alguém tinha sido vista e tocada por nós, que sem saber questionávamos uma pedrinha entre centenas, pedrinha essa que tinha sido colocada pela nossa amiga em homenagem a alguém que conhecemos há poucos dias. 


Se isto não é magia, então eu não sei o que será.

Um livro muito especial

Nunca levei livros para O Caminho. Quando faço os Caminhos mais curtos vou sempre com amigos e em pouquíssimos dias, por isso nem penso em levar. Quando fiz o Francês quis muito escolher um para me acompanhar mas fazendo contas ao peso, ao espaço nos alforges, à dificuldade, aos muitos dias de Caminho e à inexperiência que tinha na altura no que toca à autonomia acabei por não levar nenhum. Deixei assim um sonho por cumprir, sempre quis que um livro contasse a história do autor e a minha, sempre quis escrever os apontamentos de um Caminho num livro, sempre quis encher as páginas de carimbos. A Su fez isso por mim. No seu Caminho solitário transportou, leu e marcou um livro meu. Recebi-o estes dias, cheio de carimbos dos locais onde a Su esteve, cheio de histórias, cheio de vida. Percorri cada página com o coração repleto de felicidade e a alma de emoção. Tenho agora em casa um livro muito especial, tão especial que não dá para descrever. Obrigada Su. 

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

A máquina de fazer ciclistas

Não sei se já viram alguma prova de ciclismo, não sei se acompanham a modalidade ou se entre a mudança de um canal para outro já pararam por algum tempo numa reportagem sobre uma volta, uma maratona de BTT ou uma competição em pista, enfim, sobre esta gente que pedala e de que eu me pergunto sempre de que é feito. Sim, de que é feito um ciclista?
Já vi quedas que nem consigo descrever, ou através de um ecrã ou pessoalmente, já vi lesões de dar medo só de olhar, já me doeu a alma só de imaginar semelhante dor e já me doeu também a mim, quando fui eu a sentir no corpo o contacto com o chão. Se viram, se pararam durante cinco minutos para olhar para esta gente, terão com toda a certeza do mundo reparado que esta gente se levanta o mais rápido possível depois de uma queda e só pensa numa coisa, em continuar, em conseguir.
Falo sobre isto com conhecimento de causa, falo sobre o que sinto na pele e posso dizer que quando pedalas só te sentes um verdadeiro ciclista quando atinges a tua meta, vás em competição ou em passeio, vás fazer 100 ou 10 km, vás sozinho ou no meio da multidão, a tua meta é a tua maior vitória, é a tua felicidade. Por isso um verdadeiro ciclista só desiste do que quer que seja se não tiver outra hipótese, por isso um verdadeiro ciclista só não se levanta disposto a montar novamente a bicicleta e a continuar se isso for humanamente impossível. Só te sentes um verdadeiro ciclista quando a dor de desistir de um objectivo ultrapassa a dor de continuar, de tentar.
Não sei de que é feito um ciclista, não sei qual será a máquina que os prepara para isto, só sei que me sinto uma, e se em cima da bicicleta sou uma verdadeira ciclista, não vai ser na vida que vou ser uma jogadora de futebol. 

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Este blog também tem fotos de pés felizes com o mar em plano de fundo

Os meus livros #49 - Admirável mundo novo

Sinopse
Publicado em 1932, Admirável Mundo Novo tornar-se-ia um dos mais extraordinários sucessos literários europeus das décadas seguintes. O livro descreve uma sociedade futura em que as pessoas seriam condicionadas em termos genéticos e psicológicos, a fim de se conformarem com as regras sociais dominantes. Tal sociedade dividir-se-ia em castas e desconheceria os conceitos de família e de moral. Contudo, esse mundo quase irrespirável não deixa de gerar os seus anticorpos. Bernard Marx, o protagonista, sente-se descontente com ele, em parte por ser fisicamente diferente dos restantes membros da sua casta. Então, numa espécie de reserva histórica em que algumas pessoas continuam a viver de acordo com valores e regras do passado, Bernard encontra um jovem que irá apresentar à sociedade asséptica do seu tempo, como um exemplo de outra forma de ser e de viver. Sem imaginar sequer os problemas e os conflitos que essa sua decisão provocará. Admirável Mundo Novo é um aviso, um apelo à consciência dos homens. É uma denúncia do perigo que ameaça a humanidade, se a tempo não fechar os ouvidos ao canto da sereia de uma falsa noção de progresso.


Admirável mundo novo é o livro que todos deveriam ler. Não há, ao ler este livro, como não pensar se este será mesmo o futuro da humanidade, não há como não olhar em volta e pensar que provavelmente está demasiado perto. É impressionante que alguém possa ter escrito isto há tantos anos atrás e que olhando actualmente para o rumo das coisas nos pareça uma espécie de previsão. Este livro mexe connosco, faz-nos pensar, faz-nos analisar as pessoas e assusta. Este livro é o murro no estômago que todos deveriam levar. 

A melhor prenda de todos os tempos


                                                                                                 

Réplicas da Loira, do Moreno e das suas fantásticas bicicletas oferecidas pelo afilhado mais giro do mundo, o nosso, como é óbvio. É certo que a minha boneca tem as mamas um bom bocado maiores que as minhas, mas as meias senhores e senhoras, as meias são exactamente iguais. E as luvas, e o capacete, e o equipamento, e os sapatos, e os óculos, e o bidão e até o namorado é quase, quase igual, aqueles bíceps, aqueles tríceps, aquele sorriso (sim, eu sei, estou muito bem servida). Fiquei tão feliz, tão feliz, tão feliz que só me apetece dar saltinhos e gritos histéricos.
Qual ilha grega, qual quê... o Cristiano Ronaldo até pode ser o melhor padrinho de sempre, mas o melhor afilhado é o meu. 

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Colecção

A Joaninha ofereceu-me o primeiro, depois fui encontrando outro, e outro, e outro. São relógios que têm bicicletas, estou completamente apaixonada por eles e já tenho uma colecção. A maior parte não tem grande valor monetário mas para mim são lindíssimos e não há nada que me dê mais prazer do que juntar mais um aos restantes, do que abrir a caixinha dos relógios e ouvir tantos "corações" a bater, tic tac, tic tac, tic tac...


Um dia destes fotografo a colecção ao pormenor, mostro-vos cada um dos meus novos amores, até lá lembrem-se de mim se encontrarem algum por aí, avisem-me onde posso encontrar mais. A caixinha agradece.