segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Monólogo do selim

Conheci-a quando estava a caminho de Santiago, a Loira meteu na cabeça que tinha de ir sozinha e de um dia para o outro montou o alforge e partimos. Nunca tínhamos carregado tanto peso e nunca nos tínhamos sentido tão sozinhas, foi óptimo, ganhamos ainda mais cumplicidade e dormi duas noites ao relento, para provar que não sou nenhuma princesa, a Loira também teve lá as cenas dela, mas sobre isso ela que escreva se quiser.
No segundo dia quando passei vi-a ali encostada, muito mais sozinha que eu, uma solidão permanente, decidi ir falar com ela e chegamos à conclusão que somos muito diferentes, apesar de sermos iguais. Ela tão branquinha e pequena, tão imaculada, tão intocável, eu toda colorida, toda suja dos trilhos na montanha e apesar de muito nova já com o pneu careca, de tantos km que a Loira me obriga a fazer, eu tão grande, com esta roda e este quadro, tão forte, ela tão frágil, de aparência tão quebradiça. Eu contei-lhe da minha vida, das minhas aventuras com a Loira, ela falou-me dela, daquilo que vê passar enquanto fica ali. Eu falei-lhe das montanhas, dos trilhos, do alforge a ser montado e desmontado constantemente, das metas, das maratonas, das viagens, das manutenções, das descidas e das subidas, do suporte do carro, do comboio em que viajei a semana anterior, das paisagens e da paixão que a Loira tem por mim, ela falou-me das conversas que ouve e das pessoas que vê, falou-me de uma solidão completamente diferente daquela que eu estava, pela primeira vez a experimentar.
Eu segui caminho e prometi voltar um dia, ela ficou no local de sempre e prometeu esperar-me, depois da Loira nos explicar que não adianta tentar mudar os outros e fazer com que se pareçam mais connosco, ou os esquecemos para sempre ou os aceitamos exactamente como são.


E isto é bem capaz de ter sido a minha grande lição do nosso Caminho solitário, a Loira também deve ter aprendido alguma coisa nova, mas sobre isso terá de ser ela a escrever.

3 comentários:

  1. A solidão pode ser muito boa para essas conversas longas. Seja com os nossos botões, seja com a bicicleta! ;)

    Beijos, Loirinha linda. :)

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  2. Muitas vezes a solidão é nossa amiga. Bjs Loira e bike da Loira :)

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  3. Muitas vezes a solidão é nossa amiga. Bjs Loira e bike da Loira :)

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