Pedem-me frequentemente para explicar esta minha loucura. Afirmam que não entendem tanto entusiasmo, perguntam-me porquê e esperam que eu lhes explique algo inexplicável. Quem nunca andou de bicicleta não pode perceber o que é chegar ao topo de uma montanha que de cá de baixo nos parece inatingível, não pode perceber o que fazer uma descida técnica sem desmontar, não pode perceber o que se sente quando pedalamos cada vez mais km, não pode perceber a sensação de levar com a chuva e a lama no rosto e no corpo, não pode perceber o que é resistir ao calor, ao frio, à sede, à fome e ainda assim sentir-se feliz, não pode perceber o que se sente quando se pára lá em cima na montanha para olhar para a paisagem, não pode perceber quão grandes e quão pequenos nos conseguimos sentir naquele instante. Quem nunca pedalou não pode perceber o que se sente a chegar à meta, não pode perceber o companheirismo e a amizade que se ganha com os que nos acompanham, não pode perceber o que vale ultrapassar uma subida e divertir-se numa descida. Quem nunca foi para o monte não pode perceber o que é descobrir locais que de outra forma nunca poderíamos descobrir, não pode perceber a sensação de conseguir estar lá em cima só com a nossa energia. Quem nunca andou de bicicleta nunca viveu aqueles instantes em que entramos numa curva sem equilíbrio, em que nos vimos com a roda de trás no ar, em que o pneu derrapa e nós perdemos o controlo, em que queremos desencaixar um pedal e não conseguimos, em que sabemos que vamos cair e já não podemos fazer nada para o evitar. Quem nunca andou de bicicleta não pode perceber o que é fazer uma viagem de mochila às costas em autonomia total. Quem nunca pedalou não pode perceber o que é parar para descansar.
Não perguntem mais, experimentem ou calem-se, porque na vida há coisas que não se explicam, a paixão é uma delas.
Fevereiro de 2015
Completamente.
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