quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Loira, a defensora dos ciclistas (parece que há por aí montes de gente que não os/nos suporta)

Em primeiro lugar quero explicar que estou farta de cometer infracções, como condutora e como ciclista, com isto não vos quero dizer que não sei andar na estrada, porque sei e muito bem, acontece que não sou perfeita e não tenho pretensões de o ser. Conduzo bem, muito bem, mas não me custa nada admitir que às vezes me distraio e faço asneiras, também já fiz merdas que não devia e das quais não me orgulho, já conduzi depois de beber, depois de beber muito, já conduzi em excesso de velocidade, a falar ao telemóvel, já mandei mensagens enquanto conduzia e acho até que já entrei no facebook e no blog, já passei sinais vermelhos, às vezes não cedi prioridade e não parei sempre nas passadeiras. Calma, isto é metade de uma vida a conduzir, não é uma semana. Estão chocados? Como co-piloto sou muito pior, às vezes até faço um broche ao condutor. Mas parece que sou a única a cometer erros, só leio e só falo com pessoas perfeitas, que nunca quebram as regras. Como ciclista também não sou grande merda, mas tenho mais cuidado porque tenho um medo horrível dos carros.
Este é o segundo ponto de que quero falar, há dois tipos de ciclistas, os que sabem andar na estrada e os que não sabem. Os que sabem andar na estrada são os que vos irritam, os que não sabem são os burros, como eu. Os que sabem andar na estrada aproveitam os poucos direitos que a lei nos deu para se tentar proteger. Fogem das bermas para tentar não cair, para tentar não enfiar um pneu num buraco ou numa conduta, para tentar não ser projectados para o caralho mais velho por culpa do vácuo de ar de um carro em excesso de velocidade ou de um camião, pedalam lado a lado para que os carros só façam ultrapassagens quando podem e não se esqueçam da distância de segurança, e não lhes façam tangentes que lhes põem a vida em risco a cada quilómetro. A lei está bem feita? Não. Mas não são os ciclistas que têm a culpa disso. O seguro devia ser obrigatório? Sim, eu tenho seguro e acho que não devia ser permitido pedalar sem ele, assim como não devia ser permitido andar de bicicleta sem capacete. Eu sei, agora estão a perguntar-se como caralho andam na estrada os burros como eu. Eu digo-vos, pedalam na defensiva, desviam-se o mais possível dos carros, não querem ser um estorvo nem atrasar ninguém, não fazem uso da prioridade quando a ela têm direito e pedalam em fila indiana. E o que é que lhes acontece? Cortes de trajectória, ultrapassagens perigosas, distância de segurança ignorada, tangentes, vácuo de ar e um sem número de perigos que não conseguiria descrever nem que ficasse aqui a escrever até amanhã. A maior parte dos ciclistas que vocês vêem de calções de licra e equipamentos fluorescentes têm os pés encaixados nos pedais, parar de pedalar ou desmontar da bicicleta não é tão fácil como pode parecer. Os carros põem-nos a vida em risco centenas de vezes e muitos condutores estão a cagar-se se chegamos ao nosso destino vivos ou se nos partimos todos ou morremos nos próximos quilómetros. É por estas e por outras que eu sou uma mulher da montanha, só pedalo em estrada quando não tenho outra alternativa e dou uma grande gargalhada quando os ciclistas de estrada me dizem que pedalar no monte é muito perigoso e que as descidas são muito radicais.
E é como ciclista que vos peço paciência e respeito, eu sei que cada vez há mais gente a pedalar e que vocês têm as vossas vidas e não podem perder tempo, eu sei que há ciclistas a fazer muitas asneiras, mas os condutores também as fazem, ou não? Sou a única? Não há pessoas perfeitas, nem ciclistas, nem condutores, mas nós somos sempre o elo mais fraco, tenham um pouco mais de cuidado connosco e mesmo que achem os calções de licra ridículos e que prefiram ter um rabo mole não nos ponham a vida em risco a cada quilómetro, quem vai em cima da bicicleta é a Loira que escreve um blog, é o médico do vosso filho, é o professor da vossa irmã, é o tio do vosso vizinho, é o pai do vosso amigo, é a mãe de um colega do vosso filho, são pessoas.
E se puderem pedalem, eu desde que pedalo sou muito mais feliz e já não tenho tendência a querer passar com o carro por cima das pessoas, só porque têm tanto direito a viver como eu. 

30 comentários:

  1. É isso mesmo, Vera. As coisas não são pretas, nem brancas, há que saber viver (e deixar viver).

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  2. Eu sou dessas burrinhas que, de medo, se mete em fila indiana, se manda para a berma para não ser levada por um camião em excesso de velocidade numa Nacional, e até que se vê à rasca com as prioridades em rotundas, só porque eles têm pára-choques e o meu pára-choques é o meu corpinho!

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  3. Só fixei a parte do broche ao condutor.

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  4. Sabem quando é que os ciclistas me incomodam a sério (e não são todos, mas assim de repente não me lembro de um que não tenha feito a situação que vou descrever)? Não é quando eu estou a conduzir, é quando eu sou peão. Porque a maioria deles gosta muito de ter os mesmos direitos que os demais veículos, mas quando chega a hora de parar no semáforo vermelho para deixar os peões passarem, seguem a sua vida, e quem está a pé tem que adivinhar se o senhor ciclista te vai dar a prioridade que te é devida (lamento se tem os pés encaixados nos pedais), ou se te vai passar por cima (a ti, que também tens tanto direito a viver como ele).
    De resto, que pedalem muito e sejam felizes.

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    1. Nesse caso merecem levar um pontapé numa roda, o chão também pode ensinar muitas coisas quando é necessário.

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    2. Ahahahahahahahahaha! Grande Loira :))))

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    3. Hahaha! O marido já me disse para fazer exactamente isso quando me queixo enquanto peão dos ciclistas que quase me passam por cima. E ele tabém pedala.

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    4. E aqueles que quase atropelam os miúdos nas passadeiras?

      Desculpa Loira mas eu vejo muito mais ciclistas a fazer asneiras, aliás mentiria se dissesse que vi 1 mão cheia de ciclistas que não estivessem a fazer asneiras.
      E as nossas leis são estúpidas na forma como foram feitas - os ciclistas nunca deveriam ser autorizados a andar aos pares na rua. Nas cidades europeias mais avançadas onde o ciclismo é usual isso não é permitido. Por outro lado, são mais as estradas qeu têm uma zona específica e apropriada para os ciclistas andarem.

      Mas andarem 2 a 2 eu acho que vos coloca muito mais em risco de vida.
      Eu usualmente não ultrapasso a velocidade limite e já ia atropelando ciclistas meramente por se encontrarem numa subida inclinada, numa curva apertada e com a estrada molhada (num dia de nevoeiro cerrado). A sorte foi eu ir muito abaixo da velocidade limite pois eles iam tão devagar que provavelmente iriam mais depressa se fossem a pé e o carro não estanca do nada. Se tivesse só 1 pessoa, mesmo vindo outro carro de frente eu conseguiria não lhes bater, assim tiveram sorte por não vir carro nenhum da frente porque senão eu não conseguiria evitar bater num deles.

      E a culpa até poderia ser minha (provavelmente não seria uma vez que andar a passo de caracol na estrada também é ilegal) mas adiante...mesmo que fosse, depois de eu os ter atropelado a minha culpa não lhes valia de muito à saúde ou à vida deles, pois não?

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    5. Eu só posso escrever um post sobre este assunto como ciclista, que é o que eu sou. Também sou condutora, claro, mas pedalar é a minha essencia e por isso não consigo ser completamente imparcial. Talvez porque, apesar de ter pouca experiência de ciclismo na estrada, e apesar de nunca quase atropelar crinças em passadeiras ou andar a pares numa subida inclinada com nevoeiro, já quase fui abalroada dezenas de vezes. Eu não quis dizer que os ciclistas não cometem infrações ou, alguns, não são completamente loucos, eu quis dizer que apesar disso nós somos sempre o elo mais fraco e quanto mais tentamos não perturbar o trânsito (e falo por experiência própria), mais sentimos isso na pele.

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  5. Pipocante Irrelevante Delirante17 dezembro, 2015 11:36

    Tirando a parte do broche ao condutor, que deveria ser tornada obrigatória pelo código da estrada (desde que o co-piloto seja do sexo feminino e maior de idade), tenho uma questão:

    eu, condutor de veículo motorizado de 4 rodas, se fizer m###a e, evidentemente, for apanhado, posso ficar sem autorização para passear o meu bóbi (leia-se, popó) na estrada. Se um biciclista for caçado a passar um vermelho ou mandar um Stop pr'á terra dele, o que acontece*? Tiram-lhe a carta? Impedem-no de regressar à estrada?

    *havendo alguma ironia no comentário, a verdade é que não sei MESMO! O que acontece a um tipo que faça sistematicamente m... poia na estrada (e seja apanhado pelos bófias)?

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    1. Posso dizer-lhe que conheço um caso de um ciclista que foi apanhado a pedalar bêbedo e ao qual foi retirada a carta de condução. Se deviam existir mais casos? Sim. Mas a legislação é que tem de mudar e as autoridades é que têm de actuar.

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    2. Pipocante Irrelevante Delirante17 dezembro, 2015 11:49

      Mas os ciclistas têm carta?
      Eu se me apetecer, não posso pegar na minha duas-rodas e pôr-me a pedalar por essas ruas e estradas?

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    3. Neste caso deixou de poder conduzir o carro. E sim, quem não tem carta pode pedalar por essas estradas fora, mas nesses casos a legislação é que não está bem, não o Pipocante Irrelevante Delirante que só vai fazer uma cena que lhe apetece e de que gosta.

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    4. Também já vi um ciclista ser mandado parar pela polícia por ter passado um vermelho, naquele caso apenas levou um aviso, mas concordo que quem pedala também deve respeitar o código da estrada. A pena é que quem é o elo mais forte, neste caso os veículos motorizados é quem comete mais infrações, muitas delas propositadamente relativamente aos ciclistas (já aconteceu comigo). E nós, sempre o elo mais fraco, aquele que fica todo partido e esfarrapado temos praticamente de fugir dos carros e camiões. Eu também sou condutora e também já fiz muita merda. A questão é respeitemo-nos uns aos outros, a vida é um bem muito precioso para todos,

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    5. Gaja, uma vez aconteceu-me uma coisa muito fixe. Depois de quase ser abalroada por um carro, que se não o fez de propósito, assim parecia, olhei para o lado e vi chegar um polícia que me perguntou se eu estava bem, me cumprimentou e me mandou seguir o meu caminho e que depois ficou a pedir a identificação ao condutor. Não sei o que lhe aconteceu. Mas aquilo pareceu-me uma cena de um filme.

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  6. Olá :)
    Eu sou peão e copilota. Algumas das "minhas pessoas" preenchem ambos os papéis, inclusive o marido, e é mais que natural o meu desejo de o ver regressar a casa incólume.
    Ninguém é perfeito, seja a pé, a pedalar ou em quatro rodas, mas há quem abuse da imperfeição.
    Se tivesse poderes mágicos acrescentaria uma pedovia e uma ciclovia a todas as estradas do país e isso resolveria quase todas as questões. Mas, como não tenho, gostaria que o bom senso prevalecesse. E isto do bom senso, vulgo senso comum, é um dos grandes mistérios do universo, pois como chamar comum a algo que rareia?! Adiante...
    Já pensei e falei muito sobre o tema que hoje nos trazes. Para começar nem sei como se permite que ciclistas andem na estrada sem equipamento de segurança e seguro. Não pode ser obrigatório só para automobilistas, visto que agora mais veículos partilham as estradas.
    Essa coisa de poderem andar dois ciclistas lado a lado é uma estupidez. Quem pedala tem todo o direito a fazê-lo, sim senhor, mas bloquearem o trânsito porque vão na sua, e assim não permitem que os carros os ultrapassem é um abuso, uma falta de civismo e respeito para com quem mais anda na estrada. Acabei de passar por isso há menos de uma hora atrás.
    Quanto ao calçado que encaixa nos pedais tenho as minhas dúvidas se deveriam ser permitidos em todos os contextos. Não é má vontade, é pelo perigo. Um ciclista se tem o azar de ser mais azelha, a coisa pode correr muito mal para ele e outros.
    Enquanto pessoa que de vez em quando anda de carro, só peço a quem pedala (hoje foco só nos ciclistas senão ficava aqui um testamento), bom senso. Há por aí muito mau ciclista, como a mulherzinha que um dia vinha à nossa frente, a subir a serra de Sintra até ao Palácio, sem capacete e de saltos altos, aos ziguezagues pela estrada apertadíssima e sinuosa, quase parada, seguida por inúmeros carros, a puxar pela perícia dos condutores porque também não é pêra doce ser obrigado a conduzir assim. Bastaria ter pedalado mais à berma, ou até parado parado uns minutos para deixar passar aquela gente, não é pedir demais. Era o que eu faria.
    Os ciclistas têm que ser ensinados a andar na estrada, com regras bem definidas. Devem ser respeitados, mas não podem achar que têm o direito de parar o trânsito porque lhes apetece ocupar toda uma faixa.

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    1. Concordo, os ciclistas têm direitos e deviam ter deveres, sou a favor de uma legislação mais rigorosa, que protegeria muito mais os ciclistas e que apelaria à compreensão dos condutores.
      Só não concordo que por um ciclista ser estúpido, ou vários vá, se detestem todos e se ponham em risco vidas. Já vi condutores a fazer cada coisa que me dá medo só de voltar a pensar nisso.

      Olha... eu tenho uma amiga que diz que os ciclistas são uma seita pior que a Igreja Universal do Reino de Deus :) :) :)

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    2. Haha! Com todo o respeito lá pela seita da Igreja, também não é assim tão mau. ;)
      Não acho que os maus ciclistas sejam piores que os maus peões ou os maus condutores. Tenho uma lista igualmente longa de críticas para cada uma das categorias. Um dos motivos porque não ando de bicicleta é porque sou de certa forma uma fanática pela segurança, e nem tenho coragem de me colocar na estrada com automóveis. Como peão as coisas já são agrestes o suficiente para mim.
      Muito longe de detestar todos os ciclistas, ou seja quem for. Infelizmente os nossos espaços urbanos estão mais direccionados para os automóveis, durante gerações nunca se pensou nos peões nem nos ciclistas. A grande maioria das nossas estradas nem sequer oferece grande segurança a ninguém, e o que mexe com os nervos é que neste contexto há muita gente, em todo o tipo de veículos, que descura a sua segurança e a dos outros.

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  7. Loira, há certas alarvidades que nem vale a pena comentar. :) Eu tento respeitar tudo o todos. Claro que é chato levar com os ciclistas de Domingo, que empatam o trânsito. Mas é mais chato levar com os Speedy Gonzalez das estradas, que me dão sinal de luzes porque acham que eu ultrapassar um carro a 110/120 à hora é coisa de caracol e que tinha de sair logo da frente. Respeitar e ser respeitado - é só o que eu quero.

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    1. Agora imagina o que é sentir essa velocidade a passar por ti quando vais a pedalar, posso dizer que controlar a bicicleta é muito complicado e em algumas situações quase impossível.

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  8. No Reino Unido, uma Empresa de Seguros oferece seguro automóvel mais barato aos ciclistas argumentando que estes são melhores condutores.
    Ver em:
    http://road.cc/content/news/172326-insurance-firm-offer-cyclists-cheaper-car-insurance-–-because-theyre-better

    Por regra, a experiência de ciclismo de estrada torna-nos mais atentos (e cautelosos) a potenciais perigos na estrada relativamente à média dos condutores. Este é um dos argumentos da Seguradora que me parece verdadeiro.
    Também sei que o facto de o condutor-ciclista ser cauteloso não implica necessariamente que a mesma ideia se aplique ao ciclista-condutor (ou não condutor). Mas, da minha experiência, o ciclista (condutor ou não) é também (por regra) cuidadoso com os outros na estrada (facilitando manobras, dando prioridade a peões ...).
    No entanto, como em quase tudo, é ainda preciso educar condutores, ciclistas, peões ....

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  9. Caraças, Pipoco himself a indicar o teu blog como dos melhores de 2015: http://pipocomaissalgado.blogspot.pt/2015/12/grandes-blogs-de-2015-i.html. Se fosse comigo tirava uns dias de folga só para rebolar pelo monte abaixo (mas de bicicleta) :D Notoriedade merecida! A propósito, obrigada pelo miminho, pretendo fazer alguns kms de bicicleta nos poucos dias de férias que terei, penso sempre em ti quando ando de bicicleta pelas estradas florestais ao pé do mar!

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  10. Que giro.
    Eu escrevi um post sobre os ciclistas, esta semana, não é curioso?
    Sempre em sintonia, loiríssima, tal e qual como quando falámos por email.

    beijinhos loira e sempre a pedalar ;)

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    1. Tal e qual como o que te disse no comentário ao teu post. Um dia destes escrevo um post com a minha opinião sobre o assunto. Foi o que fiz. Mas o facto de termos opiniões diferentes não quer dizer que ambas não a possamos escrever. Quando falei contigo por mail já tinha escrito este post, pensei que era a isto que te estavas a referir.

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  11. esta é a 1º vez que comento no seu blog. embora não aprecie caminhar de bicicleta, gosto muito das suas historias (parecidas com as minhas mas em caminhadas a pé. As vezes ate passa nos mesmos sítios que eu ). Adorei as historias do Caminõ (conheci-a através do Tio Mais Salgado).
    (Respeito todos os condutores que me respeitam.
    No outro dia fui insultada por um senhor de bicicleta, á noite. Não o vi e quase o atropelei. Pedi-lhe desculpa, mas depois achei que não deveria ter feito isso porque á noite deve-se estar iluminado, certo? Eu não sou"morcega").
    MUITAS FELICIDADES para as suas pedaladas.
    VW

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    1. Claro que à noite tem de se estar iluminado, esse senhor é claramente um dos que não merecem o respeito que teve por ele. Mas ainda bem que o viu. Obrigada. Boas caminhadas.

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