segunda-feira, 23 de setembro de 2013


"Há tipos assim, obsessivos, contumazes, que funcionam por paixões, indivíduos que seguem pela vida carregados de bússolas, barómetros, sextantes e mapas; que não aspiram a mais glória do que a de contemplar as auras verde lima do amanhecer por cima de uma lomba do deserto, os estratos de nuvens espalhadas sobre o horizonte, as manchas cor de açafrão do sol nas dunas, para depois lhes traçar o perfil em folhas de papel milimétrico em precisos croquis topográficos; espécimens raros, habituados a lidar com os nómadas, amantes da solidão e dos silêncios geológicos da terra; pessoas que se sentem deuses quando descobrem uma montanha negra de basalto, um lago carbonífero ou a composição estranha de uma rocha; que nunca se acostumam ao cómodo cerimonial da vida quotidiana, com horários estabelecidos e barba feita diariamente; tipos que amam os paraísos onde não estão e a mulher que não conhecem, que sentem nostalgia por coisas impossíveis de ser recordadas com nitidez, tão fugidias como o rasto de uma fogueira que fumega na escuridão, entre as tendas de acampamento; sujeitos inadaptados, homens que se deixam fascinar pelo mistério de uma voz, de um rosto onde intuem alguma espécie de derrota. E seriam capazes de dedicar a sua vida a inventar um passado para um nome."

Susana Fortes
Fronteiras de Areia

8 comentários:

  1. Muito intenso e reflexivo esse texto.
    Abraços.Sandra

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  2. absolutamente espectacular ... tão mas tão lindo ...

    bom dia Vera (estás melhor? beijinhos e que fiques bem depressa)

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  3. nobody,

    sinto-me exageradamente cansada, mas em menos de nada estou como nova. Obrigada.

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  4. E como os compreendo!
    Esta inquietude de tudo ver e perguntar, só para ir percebendo que o tempo nunca chegará para tudo o que há para descobrir.
    Bom dia Vera, dá-te tempo para recuperar que o esforço foi violento (às tantas a tua alma ainda está em viagem, dá-lhe tempo de chegar até ti).

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  5. São palavras assim que não nos fazem desistir de procurar, ou esperar que esse "tipo" nos encontre.

    As melhoras :) Concordo com a O Sexo e a Idade, a tua alma ainda não assimilou o regresso.

    Beijinho

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  6. "E seriam capazes de dedicar a sua vida a inventar um passado para um nome." - TÃO verdade!

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  7. Sexinho,

    Por acaso já tinha pensado nisso :)

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  8. ... sinto-me assim, mas... ainda SOU pouco assim... e do que sou já me deixa ser feliz ... obrigada pela partilha!!

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