segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Piropo versus assédio

Fui educada para me defender. Com 6 anos fugi a correr para casa porque um rapazito estúpido e provavelmente piolhoso me tinha batido. A minha mãe agarrou-me na mão, levou-me à escola e disse-me que aquela era a primeira e a última vez que o fazia, disse-me que da próxima tinha que me defender. No dia seguinte o piolhoso rapazito voltou a meter-se comigo e atirei-o ao rio, ainda hoje me lembro de estar sentada na sala de aula e de ver os livros dele a secar ao sol lá fora. Assim continuei, o resto da minha vida, a defender-me.

Já fui elogiada e assediada na rua. Os elogios, ou os piropos que recebi aceitei-os e segui caminho. Ao assédio nunca fiquei sem dar uma resposta que envergonhasse mais o anormal em causa do que a mim, por isso nunca me incomodaram muito. Ainda assim, percebo perfeitamente que há quem se sinta incomodada, que há quem não queira passar por isso, mas pergunto: Acaso os cabrões que batem na mulher não sabem que não o podem fazer? E deixam de o fazer? Acaso os filhos da puta que violam miúdas não sabem que estão a cometer um crime? E é isso que os impede de o fazer? Exactamente, o que é que vão fazer quando um trolha vos mandar uma boca daquelas mesmo porcas?

Eu, se pudesse, mudava muito no mundo, mas começava por outras coisas.

8 comentários:

  1. Eu estava à espera de tudo, mas o "atirei-o ao rio" foi genial. Ahahahahahahah
    A última frase deste post é essencial.

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  2. Acabei de dizer mais ou menos isso num comentário. Suponho que, em ouvindo uma boca violenta, daquelas mesmo nojenta, seja de pedir a identificação para apresentar queixa do marmanjo na policia. Ou agarrar-lhe na mão e levá-lo até ela.
    As fanáticas do piropo aborrecem-me, A conversa da mulher com medo de sair à rua por poder ser violentada a qualquer momento é redutora e fundamentalista.

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    1. E, se já não apreciaram as bocas que lhes mandaram só de passar na rua, belas e amarelas, imagine o que vão sentir com aquilo que vão ouvir enquanto têm de esperar que sejam identificados, ou enquanto os levam pela mão até à policia.

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  3. Boa, Loira! Tiro o chapéu a este teu post, brilhante!

    Tal como à Picante, as fanáticas do piropo também me aborrecem. E fazem-me sempre pensar, cá bem no fundo, que são as que mais gostam de os ouvir (aos piropos). :-)

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  4. Fossem todas como tu e o mundo seria outro!

    Beijinhos.

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  5. Fizeste-me lembrar aquele video que ta bue viral agora da rapariga a caminhar pelas ruas de NY :o

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  6. Ignoro e talvez mais tarde me ria...
    Mas estou como tu, há tantas outras coisas que precisam de ser mudadas...

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