Para que serve o meu Blog (uma quase resposta ao Tio Pipoco)
Não posso falar da questão temporal, o antes e o agora aqui não existem, o meu Blog sempre me serviu para o mesmo, até quando eu ainda não sabia disso e me arriscava a dizer que não servia para absolutamente nada.
Podia falar das pessoas que vieram parar à minha vida por culpa do Blog, podia contar todas as histórias dos dias em que fui reconhecida, podia falar das outras pessoas que escrevem num Blog e que me dizem tanto, me ensinam tanto, podia falar das pessoas que compram um livro porque escrevi sobre ele, das pessoas que querem comprar uma bicicleta e me mandam mail, das pessoas que estão a planear O Caminho delas a Santiago e me escrevem, com a alma desnuda e o coração na ponta dos dedos, podia contar sobre a minha primeira viagem e a responsabilidade de chegar ao destino para não desiludir as pessoas que estavam aqui à minha espera, podia contar em como também pensei nisso quando fiz O Caminho Francês, em como achei sempre que quando estivesse muito mal tinha de continuar, não podia desiludir as pessoas que me estavam a acompanhar, não precisei, durante aqueles 1000 km nunca estive mal, mas as pessoas, todos os dias me emocionava com as pessoas que estavam ali comigo, que me acompanhavam, todos os dias valia a pena tirar uns minutos para dizer onde estava, todos os dias as pessoas me surpreendiam, me faziam ainda mais feliz. Podia contar mil histórias, todas com o mesmo fim, mas decidi-me por uma, a maratona do Gerês, que foi há muito tempo atrás, quando eu ainda não tinha preparação física para lá estar e não podia imaginar o que seriam aqueles 40 km com 1900 metros de acumulado de subida. Todos os finisher teriam um prémio e eu atrevi-me a perguntar aqui no Blog, antes de ir para a maratona, se seria eu uma finisher, se seria eu capaz. O nível de dificuldade não era para mim, naquela altura estava mal, tão mal que fiz praticamente todas as subidas com a bicicleta à mão, não tinha forças e o mais lógico seria ter desistido, houve ali um momento em o podia ter feito, houve ali um momento em que se seguisse pela estrada só tinha de pedalar 3 ou 4 km até à meta, se continuasse tinha mais uma montanha pela frente, mas eu tinha-me atrevido a perguntar aqui no Blog se seria eu uma finisher, se seria eu capaz e naqueles poucos segundos que tive de decidir se continuava ou se desistia foi no Blog que pensei, foi em todas as pessoas que acham que sou capaz de tudo, que acreditam, foi nas palavras que teria de escrever para explicar uma desistência, e continuei, fiz-me à montanha e naquele dia, com muita dificuldade fui uma finisher. O prémio por ter terminado foi uma ridícula cabra de madeira com uns 5 cm que, ironia do destino, perdi quando fiz a mudança de casa, ainda um destes dias falava da cabra e daquilo que ela me custou e ao pensar que a perdi pensei também que não tem importância nenhuma, tenho uma foto dela no Blog, isso é suficiente para mim.
O Blog serve-me para muitas coisas, seria um post interminável se falasse de todas elas, mas a principal é que com ele preciso ter muita mais coragem para desistir do que para continuar, com ele sou uma finisher.
Novembro de 2015