Subo muitas montanhas com a bicicleta às costas, já subi muitas mais, hoje em dia consigo ultrapassar em cima dela obstáculos e cumes que noutros tempos me pareciam impossíveis, mas ainda assim há muitos trilhos não cicláveis em que é necessário pegar na bicicleta e fazer um pouco de trail sem os sapatos adequados e com aquele peso extra. Arrastar monte acima uma bicicleta ou passar barreiras que à primeira vista nos parecem intransponíveis nunca é fácil e várias vezes me oferecem ajuda, recuso sempre que me é humanamente possível (um dia destes escrevo sobre isso), ganhei o hábito de pendurar o selim no ombro e seguir o meu caminho, o mais naturalmente que consigo, ainda que tenha de passar um rio, subir um penedo ou descer calhaus escorregadios do verdete. No passado domingo, numa dessas circunstâncias, voltaram a oferecer-me ajuda, voltaram a querer pegar na minha bicicleta para ser mais fácil para mim passar o buraco que nos apareceu no meio do trilho, eu agradeci, recusei como sempre e acrescentei que não se preocupassem, que a bicicleta pesa bem menos que a mala que transporto ao ombro todos os dias, depois lembrei-me daquilo que tinha escrito uns dias antes e cheguei à conclusão que afinal carregar diariamente um calhamaço sem nunca lhe conseguir ler sequer uma página faz todo o sentido para mim.
Tudo tem um sentido...
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