quarta-feira, 9 de março de 2016

A Chefe

Em 2014, depois de um ano antes ter pedalado em autonomia 1000 Km do Caminho Francês de Santiago, e quase por obra do acaso, organizei e parti para mais um Caminho, desta vez eu e mais 4 rapazes. Nada de novo à primeira vista, faço pelo menos uma vez por ano um Caminho, mas desta vez teve algo de diferente, esta viagem veio marcar uma viragem na nossa relação e no nosso grupo. A partir dali comecei a ser A Chefe, segundo eles. Já o ano passado passei a ser a Branca de Neve, depois de uma viagem sozinha com 7 rapazes, os anões. Eu organizo as viagens, os treinos, mando mensagem a todos a avisar da hora e do local das pedaladas, tento convencer os mais preguiçosos a aparecer e tento que o grupo se mantenha unido. Não me considero Chefe de nada e acho aquilo uma brincadeira, mas a verdade é que nos momentos de indecisão os vejo todos a olhar para mim, com cara de miúdos e à espera que eu diga algo que ajude. Nestes dois anos mais pessoas se foram juntando ao nosso grupo e as viagens que organizo têm cada vez mais pessoas, quase todos a reclamar comigo, porque saímos atrasados, porque marquei uma hora muito cedo, porque queriam dormir mais, porque são muitos km para pedalar, porque o trajecto tem muitas subidas, porque têm fome, porque têm sede, porque estão cansados, porque tudo. Eu brinco e digo que criei um grupo de sindicalistas e de revolucionários enquanto peço ajuda aos que alinham sempre nas minhas loucuras. Somos acima de tudo um grupo de amigos que se diverte muito.
Este ano juntou-se ao nosso grupo um senhor bastante mais velho que todos nós e não posso deixar de olhar para ele com admiração e orgulho. Cai de cada vez que vamos pedalar, cai até mais que uma vez, levanta-se e segue caminho sem se queixar de nada. Pede opinião e aceita que tentemos ensinar sempre algo. Às mensagens para as pedaladas responde sempre com um sim, faça sol, faça chuva, faça vento ou faça neve. Nunca desiste e quando ouviu falar nas viagens deste ano comprou um alforge, encheu-o de sacos de arroz e foi para o monte treinar o equilíbrio. Continua a dizer "Uiiiii" sempre que vê uma pedra ou um buraco mas arrisca, arrisca sempre e é um exemplo para todos nós. Um destes dias, depois de ler os mails que eu tinha enviado com as informações das viagens, mandou-me uma mensagem que dizia só: "Verinha li os seus mails, vou e concordo com tudo". E isto, parecendo que não, é bem capaz de ser o acto com mais coragem que eu vi nos últimos anos. 

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