Quando eu trabalhava numa empresa praticamente falida, quando eu não tinha autonomia para tomar certas decisões, e por fim, quando o meu chefe era um grandessíssimo parvalhão, recebi uma chamada de um pequeno fornecedor de serviços prestados a pedir-me um pagamento uns dias adiantado. Eu estava habituada a ver aquele senhor pela empresa, fazia tudo o que lhe pedíamos, vinha buscar a matéria-prima, vinha entregar a mercadoria transformada, nunca se recusava a nada, era um senhor já idoso, muito baixinho, muito magrinho, muito simpático e carinhoso para todos. O senhor pediu-me a chorar para lhe pagar o valor que lhe era devido uns dias mais cedo porque tinha recebido um aviso e iam cortar-lhe a electricidade da pequena empresa. Eu verifiquei contas correntes, eu refiz a tesouraria do mês, eu provei que podíamos fazê-lo e fui falar com o meu chefe. Ele olhou-me com ar incrédulo e perguntou-me se eu tinha verificado se havia alguma produção nossa em curso na empresa do tal senhor, eu tinha verificado e não, naquele dia o senhor não estava a trabalhar para nós, o meu chefe fez um ar grave e disse-me que não entendia a minha preocupação no corte de energia eléctrica na empresa do senhor, se ele não estava a trabalhar para nós nem sequer ia atrasar nenhuma das nossas produções.
Trabalhar numa empresa falida, não ter autonomia para tomar certas decisões sozinha e ter um chefe que é um grandessíssimo parvalhão não foi fácil, naquele tempo, há muitos anos atrás, passei dias muito complicados, mas este dia, o dia em que me quiseram fazer acreditar que não tinha que me preocupar com uma pessoa e só tinha que pensar em números, foi talvez o mais difícil de sempre. Senti-me mal, muito mal, senti-me inútil e senti que nunca seria uma boa profissional, porque nunca conseguiria ser tão fria ao ponto de pensar assim, lembro-me de ter ido para casa a chorar.
Hoje em dia trabalho em tempos difíceis numa empresa saudável, que pode ser afectada a qualquer momento, como todas as outras, se aquele senhor me ligasse hoje eu não teria que consultar ninguém, a decisão era minha e estava tomada sem qualquer tipo de dúvida. Felizmente a vida provou-me que naquele dia quem estava certa era eu, que os números são importante, mas as pessoas são mais. Felizmente hoje não preciso passar por isso, mas ainda assim continuo a lembrar-me muitas vezes daquele senhor simpático e franzino, que me ligou há muitos anos a chorar, porque à custa dele aprendi muitas coisas.
O teu chefe era mesmo um parvalhão. Se cortassem a luz à empresa do senhor, o mais certo era acabar por prejudicar os trabalhos que vos entregava.
ResponderEliminarNão sei como há quem consiga olhar-se no espelho, sendo assim.
Pois que infelizmente há muitas dessas empresas, quase falidas e com patrões parvalhões. Eu sou humana e no trabalho sou-o também. E preocupu-me com os outros. E ainda bem.
ResponderEliminarOlha, um beijo do tamanho de uma roda da bicicleta!
ResponderEliminarÉ isso mesmo, Loira. Só os idiotas pensam que o mal dos outros não nos prejudica a nós. Todos nós somos "outros".
Querida Loira,
ResponderEliminarNão era preciso ter sido assim, para aprender "muitas coisas". Infelizmente, há pessoas que não aprendem.
Bom dia,
Outro Ente.
"chefe era um grandessíssimo parvalhão", parvalhão? Parvalhão é quando se faz uma coisa parva. Ele foi (e ainda deve ser) mau.
ResponderEliminarLamento informar-te mas o teu chefe não era um parvalhão! Um parvalhão é, por definição, humano! O que o teu chefe era não tinha nada de humano! Era uma besta!
ResponderEliminar:)
Realmente foi abençoada com um chefe muito parvo.
ResponderEliminaroh pah que maravilha. se fosse comigo ia chorar baba e ranho também. e acho qeu até dava do meu bolso que pudesse.
ResponderEliminar(sim, o teu ex-chefe nao era parvalhão, era uma pedra!)