quinta-feira, 24 de maio de 2018

Tenho histórias para contar

Começo por dizer que tenho um grande arranhão no pescoço, daqueles horríveis que faz parecer que pouco faltou para eu ser decapitada. Exibo por estes dias um belo decote, como podem imaginar. Posso então contar duas histórias sobre isto, a história com a honra e glória que sempre tive para contar, afinal sou uma miúda todo o terreno, tenho marcas de sol na pele dos quilómetros com os pés encaixados nos pedais, faço lesões em actividades radicais, mostro nódoas negras ou ferimentos feitos orgulhosamente a descer trilhos técnicos, exponho com elegância os arranhões que o mato me faz, lá em cima nas montanhas.
Se isto fosse a história com honra e glória a que todos já se habituaram eu estava a descer a montanha por um single track com um grau de inclinação brutal, técnico, cheio de pedras e de paus e de valas, de um lado havia mato bravo e do outro um precipício, foi então que um ramo de mato se prendeu ao meu pescoço e quase me degolou, continuei a descer e só lá em baixo, no fim do trilho é que percebi a gravidade dos ferimentos, pedalando ainda assim, com este profundo golpe os mais de cem quilómetros que me faltavam até chegar a casa.
A verdade é que acordei esta manhã e dirigi-me à casa de banho como sempre, sentei-me na sanita e Maria Alice, a gata preta, veio atrás de mim como sempre, subiu para o autoclismo como sempre, mas hoje de manhã eu tinha mais sono do que nos outros dias todos e não expulsei de lá Maria Alice, a gata preta, atempadamente e Maria Alice, a gata preta, também tinha mais sono do que nos outros dias todos, por isso mesmo deixou-se escorregar, caiu e veio parar com as garras directamente ao meu pescoço.
Tenho histórias para contar, sempre tive, houve uma altura da minha vida em que todas as minhas histórias eram de honra e glória, agora sou imprevisível e as minhas marcas de pele tanto podem ter acontecido de forma radical como pela manhã, ao acordar, sentada na sanita.

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