O som do telefone já lhe é normal durante as madrugadas, não lhe é fácil conviver com isso, nunca mais conseguiu dormir profundamente desde que tomou a decisão de enveredar por esta profissão. Levanta-se automaticamente e enquanto lhe dão informações sobre o local onde deve dirigir-se vai vestindo a roupa deixada em cima da cadeira. Os hábitos dele também tiveram que mudar em relação a isso, a disponibilidade exigida fizera-o acostumar-se a ter sempre pronta uma muda de roupa, para que o tempo de saída fosse o mínimo possível. Pega na chave do carro estrategicamente colocada perto da porta de saída, desce as escadas a correr, entra no carro e dirige-se para o local.
Enquanto conduz na noite completamente vazia pensa no tempo em que ainda vivia na terrinha, como ele mesmo gostava de lhe chamar, a calma, o ar puro, as noites silenciosas e as pessoas pacatas. Trocou tudo por a agitação de uma grande cidade, trocou tudo por uma carreira que o faz conviver de perto com o mundo oposto ao que ele sempre conheceu.
Absorvido por os pensamentos estaciona mecanicamente enquanto se aproxima dele um colega de profissão que lhe dá todas as informações. Acabaram de remover o carro da vitima do rio, os documentos de identificação estavam nos pertences da mesma, mas ele já não precisa deles, aproxima-se e reconhece-a de imediato, aquele rosto, os cabelos compridos e negros que ele tanto gostava, o corpo que tantas vezes ele possuiu de forma devasa, é certo, mas que foi dele durantes aquelas horas de prazer.
Já não consegue pensar em mais nada, dirige-se para o carro, roda a chave, a pressa dele agora é outra, é a pressa de quem ama, e enquanto conduz lembra-se das repetidas conversas que teve com a Maria. Demasiadas vezes ela lhe contara das ameaças, dos ciúmes, do medo que o marido a fazia sentir, medo esse que era o único impedimento para que os dois ficassem juntos. Demasiadas vezes ela lhe pedira para a deixar resolver a situação sozinha. Demasiadas vezes ele tinha cumprido essa promessa.
O carro fica parado no meio da rua, ele corre em direcção à entrada da vivenda, com um pontapé consegue arrombar a porta, do lado direito estão malas, prontas a partir, quando olha para as escadas vê-o, aquele homem que lhe impediu a felicidade, saca da arma que lhe fora cedida para combater o crime com uma única intenção... DISPAROU
E ficou ali sentado, agora sim, poderia chorar a perda do seu amor, poderia pedir perdão pelo seu crime. E ficou ali sentado, enquanto esperava por um colega de profissão que o iria levar.
Um bocadinho macabro... mas a linha entre o amor e o ódio é ténue, tão ténue...
ResponderEliminarMuitas vezes quando decidimos agir já vamos tarde demais.
ResponderEliminarA dor de perdermos quem amamos é dilacerante, não justifica certos actos, mas o desespero, essa ténue linha entre o desespero e o normal é muito estreita... gostei. bjs
ResponderEliminarEmpolgante e lindo!beijos,chica
ResponderEliminarAhh os crimes passionais...! Parecem-nos sempre tão estranhamente menores...
ResponderEliminarbeijos
Mesmo aos que não se assustam com a morte, haverá maior que isso o amor, este que dá medidas diferentes a tudo; sentimento que pode vestir-se de remorso e doer mais em reverso.
ResponderEliminarGrande narrativa, Vera!
Beijos.
Ricardo
UM MOMENTO BEM ESPECIAL DE SER..
ResponderEliminarESTOU TAMBÉM PARTICIPANDO...
UM TEMA BELO, MAS QUE PARA MIM É TRISTE. REGISTREI NA INTERAÇÃO A MINHA TRISTEZA PELOS DISPAROS. A VIDA É UMA INCOGNITA. ASSIM COMO NA CURIOSA..DEIXO O REGISTRO NA INTERAÇÃO..
http://sandrarandrade7.blogspot.com/
UM GRANDE ABRAÇO AMIGA.
SANDRA
Tens muito jeito! Gostei bastante.
ResponderEliminarÉ uma realidade, e por vezes pior que esta. ;s
beijinhos
A beleza de uma história triste.
ResponderEliminarComeças bem a participação!!!
ResponderEliminarLINDO!
Kiss kiss loira linda!
só os que amam de verdade é que sentem a perda. kis :(
ResponderEliminarA todos:
ResponderEliminarAgradeço desde já a paciência para lerem o post, eu sei que nem sempre é fácil ler algo tão extenso.
Agradeço todos os comentários.
Foi um texto que gostei muito de fazer, normalmente não gosto de escrever assim, com um tema proposto, o mais habitual é escrever o que me vem á cabeça, mas este post gostei especialmente, por se tratar de um assunto tão profundo e muitas vezes tão real.
Um beijinho a todos.
Esta giro... triste! O amor faz-nos irracionais e cometer loucuras...! Gostei*
ResponderEliminarMaravilhoso... :)
ResponderEliminarEscreveria um livro. Com esta história.
Basta-me este texto... Está simplesmente, de cortar a respiração.
Uma escrita muitísimo inteligente.
Parabéns!!
Beijinho*
Um clássico do crime passional.
ResponderEliminarQuem AMA não mata!
Se mata, não foge. Assume o acto.
Também gostei do teu disparo!
:)
S*,
ResponderEliminarSim, é uma história um pouco macabra, mas foi a primeira coisa que me surgiu quando vi o tema do desafio.
Louise,
Uma das coisas que mais gostei em ter participado foi os comentários tão profundos que recebi. E sim, muitas vezes é tarde demais.
Poetic Girl,
Obrigado, essa dor é que torna o ser humano muitas vezes irracional.
Chica,
Agradeço. Beijo.
Ana,
Adorei a tua interpretação do texto, pura realidade, "parecem-nos sempre estranhamente menores".
Beijinho.
Ricardo Fabião,
"Mesmo aos que não se assustam com a morte haverá maior que isso, o amor".
Como já disse em cima, uma das coisas que mais gostei na participação foi os comentários que recebi. Adorei.
Sandra,
Sim, o tema dos disparos pode ser triste, como no caso do meu texto e do teu, mas já li textos em que os autores conseguiram fazer o tema alegre. Depende sempre da imaginação de cada um.
Guida,
Obrigado. Sim, tentei abordar um tema real. Beijinho.
Vontade de,
Obrigado.
MRPereira,
Também gostei muito da tua. Beijo.
Avogi,
De verdade. Beijinho.
Por entre o luar,
De facto, cometer loucuras é aquilo que o amor nos faz.
D.R.
Conseguiste emocionar-me com o teu comentário. De facto escreveria muito e muito mais desde que a ideia surgiu na minha cabeça, mas tive que resumir para a participação não ficar enorme, mesmo assim, acho que consegui exactamente aquilo que queria.
Beijo e obrigado.
MZ,
Obrigado. Beijinho.
Eu também estou a participar pela primeira vez e estou a adorar ler os textos todos, sobretudo por cada um ter uma interpretação tão própria do mesmo tema. Este não é excepção, principalmente por abordar a questão do amor, da perda e do consequente desespero. Gostei muito.
ResponderEliminarBeijinhos
Tulipa Negra,
ResponderEliminarO que mais gostei foi mesmo isso, ver as diferentes interpretações de um tema e esta interacção nos comentários.
Beijinho
:)
ResponderEliminarNão era para te emocionar... :)
Mas vi, de facto, aí um talento... Está uma história tão bem conseguida... :)
Mais uma vez, PARABÉNS!!
(Quando for grande, quero ser como tu.)
Gostei de te ler!
ResponderEliminarBeijo
D.R.,
ResponderEliminarMuito obrigado minha querida, mais uma vez.
Beijinho.
Soul,
Obrigado.
Beijo.
ISTO DARIA UM BOM ENREDO PARA UM FILME...DRAMÁTICO...MAS VEROSÍMIL...
ResponderEliminarBEIJO
Pedrasnuas,
ResponderEliminarSim dramático, sem dúvida, mas a vida é tantas vezes tão dramática.
Obrigado,
Beijo